O que mede o sucesso? Um dos fatores mais utilizados são os números – a quantidade de pessoas que, por exemplo, assistiram a uma determinada peça ou filme. Números são importantes para comprovar materialmente o tamanho do alcance de uma história. Assim tem sido a trajetória de ‘O Porteiro’, peça encenada pelo ator Alexandre Lino e que já foi assistida por milhares de pessoas por todo o país. Esse número comprovou o sucesso e o interesse do povo nessa história e possibilitou uma versão audiovisual das desventuras desse personagem muito conhecido nos centros urbanos, mas cuja perspectiva ainda não estava sendo retratada nas telonas. Ainda.
Seria um dia comum na vida do condomínio, não fosse a presença do novo síndico, Astolfo (Bruno Ferrari), que está no pé de Valdisney (Alexandre Lino), alegando que ele passa muito tempo ausente da portaria e que seu cargo está com os dias contados. Porém, Valdisney não tem culpa de nada, afinal, os moradores do condomínio é que exigem muito dele, a toda hora interfonando, pedindo para resolver algum assunto particular em troca de bolinho de laranja e muitas confusões. Nem mesmo sua esposa, Laurizete (Daniela Fontan) alivia pro seu lado, pois, morando em um cafofo do prédio, ela vive brigando com ele na frente dos condôminos, o que aumenta ainda mais a bagunça condominial. Quando, durante uma reunião de moradores, um episódio inusitado acontece, Valdisney será interrogado pelo Delegado (Maurício Manfrini), e terá que contar sua história desde o início.
Inspirado no tipo de humor inocente chapliniano, porém falado, o grande mérito de ‘O Porteiro’ é retratar num tipo de produto estético (o cinema) um tipo de personagem frequentemente ignorado de todas as narrativas. Ao jogar o holofote no trabalhador o enredo é enriquecido pelas centenas de elementos da vida real trazidas para a ficção através de uma minuciosa pesquisa de campo elaboradas pelo protagonista Alexandre Lino e o diretor Paulo Fontenelle. Da dedicação dos dois surgem relatos como os que vemos no longa, como a moradora bonitona que fica o tempo todo em telefonando pedindo ajuda porque mora sozinha ou o morador misterioso que faz barulhos que incomodam a todo mundo e cabe ao porteiro resolver a saia justa de falar com essa pessoa.
Talvez por ser uma adaptação do teatro o longa acabe ganhando um aspecto mais voltado para aqueles que gostam de esquete de humor. Ao longo das uma hora e trinta de filme, embora com os mesmos personagens, temos uma sensação geral de história seriada, ou seja, que diversas histórias independentes entre si ocorrem dentro de uma trama geral que linka a todas elas, mas que poderiam ser episódios curtos de uma série, em vez de um longa-metragem. Ainda assim, por ser uma adaptação de um monólogo, o trabalho empregado em construir esse roteiro é de se admirar.
‘O Porteiro’ é um filme de comédia nacional que presta uma grande homenagem a milhares de brasileiros migrantes que saíram de suas cidades atrás de vida melhor nas grandes metrópoles. Ao retratar essa classe trabalhadora, um espelho também é voltado para a forma como a classe média trata esses indivíduos. Entre críticas sutis e piadas fáceis, um grande elenco que conta com Aline Campos, Suely Franco, Rosane Gofman, Cacau Protásio e o lutador José Aldo garante a diversão ao grande público, àquelas pessoas que não costumam ir ao cinema porque estão sempre trabalhando, mas que em ‘O Porteiro’ poderão se ver representadas em muitos aspectos.