domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | O Professor Substituto – A Eminencia Indigesta da Catástrofe

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A relação que se estabelece no ambiente educacional pode ser torturante para alunos e professores. A união de vivências tão diversas em si é um contexto potencial para criação de coisas incríveis e também muitos problemas. Essa situação se agrava quando nesse ambiente passa a ser desenvolvido um trabalho com um pequeno grupo de alunos excelentes. No bojo dessas relações a impecável direção de Sébastein Marnier traz à luz questionamentos existenciais coletivos e de espécie com uma intensidade ímpar.

O longa-metragem já se inicia com um soco na cara do espectador. Sem nenhum tipo de ambientação na narrativa, o filme mostra a inquietude seguida de suicídio de um professor na frente de seus alunos. Sem delongas ou explicações. Só o fato, duro e seco. E a nítida empatia pelo trauma dos que assistiram na trama a morte do então professor aflora. Para dar sequência nas atividades letivas é contratado Pierre Hoffman (Laurent Lafitte) na modalidade de professor substituto (algo pouco usual no ensino fundamental e médio brasileiro, mas que é, aparentemente, uma modalidade de menor relevância quando comparado ao quadro efetivo na França).



Um pouco perdido a respeito dos caminhos a trilhar com a turma de superdotados, Pierre passa a compreender as relações estabelecidas pela simples existência desse grupo “seleto”. A convivência entre o grupo com os demais alunos perpassa sentimentos de ego, desprezo, repulsa e institui situações violentas. Já entre eles e os discentes o relacionamento traz uma sensação de relação de autoridade invertida que não é nem compreendido, nem bem aceito por Pierre. Essa influência distorcida é exercida especialmente por um grupo de seis dos alunos da turma especial, que vivem em grupo e se comportam de forma passivo-agressiva, com soberba. E em um misto de ranço, curiosidade e preocupação o novo professor passa a seguir estes alunos e começa a perceber que suas atividades fora dos muros escolares são no mínimo peculiares.

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Toda essa narrativa e, principalmente, o que se desenrola após a aproximação de Pierre com a rotina desses jovens é apresentada de forma muito intensa (especialmente considerando o ritmo típico do cinema europeu). O filme tem reviravoltas interessantes. Elas não são mudanças na realidade apresentada, mas sim na forma como Pierre (e consecutivamente o público) enxerga todos os fatos. Como na vida, a direção de Marnier consegue revelar uma verdade incômoda aos poucos, levando os espectadores a mudarem sua relação com o grupo de adolescentes da preocupação para a concordância, passando pela raiva e pelo medo.

O grupo desenvolve ao longo da trama experimentações controversas. De cara se tem a ideia de relações abusivas que, ao longo da trama, dão lugar a uma percepção de instinto de sobrevivência. O filme é um suspense que em algum momento tem ares de terror (soft, mais para mostrar a cabeça aterrorizada do protagonista) e caminha para num cenário catastrófico. E essas mudanças, como foi dito, não se dão em cima de mudanças no comportamento e na vida dos personagens, mas sim a partir da compreensão do tema maior tratado no longa-metragem.

O processo evolutivo humano há muito deixou de comungar com a natureza, utilizando respeitosamente a tudo o que ela nos oferece. Essa relação se torna mais alarmante com o passar das décadas e vem sendo amplamente debatida na academia enquanto, por outro lado, segue sendo negligenciada pelos discursos que visam o lucro desmedido de curto prazo (no geral para benefícios próprios). Assim é em muitas partes do mundo. Países mais desenvolvidos ampliam sua qualidade ambiental sobrecarregando os países em desenvolvimento. A catástrofe se apresenta como caminho provável seguindo o ritmo atual de “desenvolvimento”.  Na cabeça de um grupo jovem, sem perspectiva de futuro mesmo com o elevado potencial intelectual, esse processo que é preocupante para a maioria não é somente uma preocupação para longo prazo, mas uma realidade atual. E descobrir as formas de lidar com esse peso é a linha condutora da aproximação do professor substituto e seus alunos. Aqui novamente vale a ressalva que o nome original “L’Heure de la sortie” (A hora da saída) traça uma relação muito forte com a narrativa, e ao final da trama faz muito mais sentido do que o título adotado no Brasil.

Um destaque deve ser dado à direção de som de Charles Fréville. A trilha é incômoda e consegue entregar à cena a inquietude do protagonista. É um trabalho que traz uma certa aflição a pessoas mais sensíveis. Encaixe perfeito. Um filme para incomodar de muitas formas, conseguindo gerar uma reflexão um pouco indigesta (especialmente ao se considerar os retrocessos mundiais em termos ambientais). O pequeno e jovem elenco traz um trabalho interessante por ser ao mesmo tempo de apatia e envolvimento. A apatia se dá sobre todos, e o envolvimento se dá pela causa. Também merece nota o trabalho do muso parisiense Laurent Lafitte (que faz de rei esnobe a professor acuado com muita verdade).

Para amantes do cinema francês é um filme que foge um pouco da receita que sempre funciona, mas, em minha humilde opinião, a abordagem que “Professor substituto” traz inova e incomoda. Funcionando, portanto, incrivelmente bem.

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A relação que se estabelece no ambiente educacional pode ser torturante para alunos e professores. A união de vivências tão diversas em si é um contexto potencial para criação de coisas incríveis e também muitos problemas. Essa situação se agrava quando nesse ambiente passa a ser desenvolvido um trabalho com um pequeno grupo de alunos excelentes. No bojo dessas relações a impecável direção de Sébastein Marnier traz à luz questionamentos existenciais coletivos e de espécie com uma intensidade ímpar.

O longa-metragem já se inicia com um soco na cara do espectador. Sem nenhum tipo de ambientação na narrativa, o filme mostra a inquietude seguida de suicídio de um professor na frente de seus alunos. Sem delongas ou explicações. Só o fato, duro e seco. E a nítida empatia pelo trauma dos que assistiram na trama a morte do então professor aflora. Para dar sequência nas atividades letivas é contratado Pierre Hoffman (Laurent Lafitte) na modalidade de professor substituto (algo pouco usual no ensino fundamental e médio brasileiro, mas que é, aparentemente, uma modalidade de menor relevância quando comparado ao quadro efetivo na França).

Um pouco perdido a respeito dos caminhos a trilhar com a turma de superdotados, Pierre passa a compreender as relações estabelecidas pela simples existência desse grupo “seleto”. A convivência entre o grupo com os demais alunos perpassa sentimentos de ego, desprezo, repulsa e institui situações violentas. Já entre eles e os discentes o relacionamento traz uma sensação de relação de autoridade invertida que não é nem compreendido, nem bem aceito por Pierre. Essa influência distorcida é exercida especialmente por um grupo de seis dos alunos da turma especial, que vivem em grupo e se comportam de forma passivo-agressiva, com soberba. E em um misto de ranço, curiosidade e preocupação o novo professor passa a seguir estes alunos e começa a perceber que suas atividades fora dos muros escolares são no mínimo peculiares.

Toda essa narrativa e, principalmente, o que se desenrola após a aproximação de Pierre com a rotina desses jovens é apresentada de forma muito intensa (especialmente considerando o ritmo típico do cinema europeu). O filme tem reviravoltas interessantes. Elas não são mudanças na realidade apresentada, mas sim na forma como Pierre (e consecutivamente o público) enxerga todos os fatos. Como na vida, a direção de Marnier consegue revelar uma verdade incômoda aos poucos, levando os espectadores a mudarem sua relação com o grupo de adolescentes da preocupação para a concordância, passando pela raiva e pelo medo.

O grupo desenvolve ao longo da trama experimentações controversas. De cara se tem a ideia de relações abusivas que, ao longo da trama, dão lugar a uma percepção de instinto de sobrevivência. O filme é um suspense que em algum momento tem ares de terror (soft, mais para mostrar a cabeça aterrorizada do protagonista) e caminha para num cenário catastrófico. E essas mudanças, como foi dito, não se dão em cima de mudanças no comportamento e na vida dos personagens, mas sim a partir da compreensão do tema maior tratado no longa-metragem.

O processo evolutivo humano há muito deixou de comungar com a natureza, utilizando respeitosamente a tudo o que ela nos oferece. Essa relação se torna mais alarmante com o passar das décadas e vem sendo amplamente debatida na academia enquanto, por outro lado, segue sendo negligenciada pelos discursos que visam o lucro desmedido de curto prazo (no geral para benefícios próprios). Assim é em muitas partes do mundo. Países mais desenvolvidos ampliam sua qualidade ambiental sobrecarregando os países em desenvolvimento. A catástrofe se apresenta como caminho provável seguindo o ritmo atual de “desenvolvimento”.  Na cabeça de um grupo jovem, sem perspectiva de futuro mesmo com o elevado potencial intelectual, esse processo que é preocupante para a maioria não é somente uma preocupação para longo prazo, mas uma realidade atual. E descobrir as formas de lidar com esse peso é a linha condutora da aproximação do professor substituto e seus alunos. Aqui novamente vale a ressalva que o nome original “L’Heure de la sortie” (A hora da saída) traça uma relação muito forte com a narrativa, e ao final da trama faz muito mais sentido do que o título adotado no Brasil.

Um destaque deve ser dado à direção de som de Charles Fréville. A trilha é incômoda e consegue entregar à cena a inquietude do protagonista. É um trabalho que traz uma certa aflição a pessoas mais sensíveis. Encaixe perfeito. Um filme para incomodar de muitas formas, conseguindo gerar uma reflexão um pouco indigesta (especialmente ao se considerar os retrocessos mundiais em termos ambientais). O pequeno e jovem elenco traz um trabalho interessante por ser ao mesmo tempo de apatia e envolvimento. A apatia se dá sobre todos, e o envolvimento se dá pela causa. Também merece nota o trabalho do muso parisiense Laurent Lafitte (que faz de rei esnobe a professor acuado com muita verdade).

Para amantes do cinema francês é um filme que foge um pouco da receita que sempre funciona, mas, em minha humilde opinião, a abordagem que “Professor substituto” traz inova e incomoda. Funcionando, portanto, incrivelmente bem.

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