terça-feira, março 19, 2024

Crítica | O que de Verdade Importa – Comédia dramática surreal tem boas Intenções

O que Importa é a Intenção

Cinema é arte e foi criado como tal. Mas desde seu nascimento, o cinema deixou de ser apenas arte também, deixando fluir suas inúmeras vertentes: o cinema social, o político, o produto de entretenimento, o produto comercial, o religioso, entre outros. Temos também o cinema de caridade, cujo exemplar mais recente chega na forma deste O que de Verdade Importa (The Healer).

Escrito e dirigido pelo mexicano Paco Arango, o longa tem a proposta de reverter seus lucros para uma instituição de combate ao câncer infantil, fundada pelo astro Paul Newman. Só por esta ideia, o filme já merece pontos. No Brasil, a arrecadação em bilheteria igualmente será enviada para diversas instituições com tal objetivo – como revelou o próprio cineasta na pré-estreia do longa no Rio de Janeiro. O diretor, aliás, é um filantropo responsável por uma famosa organização de caridade na Espanha.

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Como diretor, por outro lado, Arango não é dono de uma carreira muito longa e renomada, sendo este seu terceiro trabalho na função, após uma série e outro filme. O que de Verdade Importa é seu maior e mais ambicioso projeto nas telonas.

Na trama, o jovem ator britânico Oliver Jackson-Cohen vive Alec, um sujeito que passa seus dias dormindo com mulheres casadas, dando golpes e negligenciando sua promissora empresa técnica de aparelhos eletrônicos. Tanto que seu sócio resolve sair do negócio, devido às irresponsabilidades do protagonista. Cohen não é nenhum novato, tendo participado de produções chamativas, vide Rápida Vingança (2010), com The Rock, Amor à Distância (2010), com Drew Barrymore, e O Corvo (2012), com John Cusack. No entanto, estas foram participações pequenas, e o ator demonstra fragilidade em sua performance como protagonista aqui.

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A guinada na história chega com a visita de seu tio, papel de Jonathan Pryce, o rosto mais conhecido e renomado do elenco. O veterano ator de Brazil – O Filme (1985) e da série Game of Thrones tenta trazer um pouco de peso ao longa, servindo de conduíte para a premissa do roteiro. Assim como naquelas famosas fórmulas mágicas, muito utilizadas na década de 1980, um misterioso tio rico do qual o protagonista nunca havia ouvido falar chega para resolver todos os seus problemas financeiros. Sim, existe uma pegadinha. O rapaz precisa viver por 1 ano numa pequena cidade do Canadá. Para que? Para que descubra “o que de verdade importa” e o que mais?

O que de Verdade Importa tem o coração no lugar e a estrutura de roteiro traz a muito conhecida história de redenção. Um protagonista errático e egocêntrico viaja até um local e/ou conhece pessoas que irão lhe ensinar a entrar em contato com seu lado espiritual, provido de todas as melhores qualidades atribuídas a um ser humano. Essa jornada praticamente transcendental já foi tema de diversas produções do tipo, como, por exemplo, Doutor Hollywood (1991), veículo para o astro Michael J. Fox.

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O problema é que os atores envolvidos não vendem bem a ideia, ou talvez o roteiro não os favoreça por completo. O bom humor se faz presente, é intencional e funciona, gerando muitos momentos de risada. Este tom, no entanto, é irregular, já que será mesclado com outros tipos de teor ao longo da projeção. Temos o non sense (com pessoas mortas voltando do além), o pastelão (a forma como o protagonista se livra de um corpo), romance (servido pela relação do protagonista com a personagem de Camilla Luddington, de Grey´s Anatomy), fantasia (quadros falantes a la Harry Potter e pessoas com poderes sobrenaturais) e, claro, o melodrama, já que a intenção é falar sobre o câncer.

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Estranhamente, apenas ao final da projeção nos é revelada uma personagem que sofre com a doença sobre a qual o longa faz campanha beneficente, e o tema ao todo não chega sequer a ser esse. Fora isso, o roteiro gera algum desconforto nas entrelinhas com diálogos duvidosos – como toda a subtrama envolvendo o possível lesbianismo da protagonista feminina de Luddington. Este tipo de comentário social hoje em dia, ainda mais dentro de uma produção que exala fortes ares do politicamente correto, bem, soa no mínimo equivocada.

Seu feitio Sessão da Tarde é certeiro para os menos exigentes – ou pode ser o prego no caixão para os que necessitam de mais substância. O que de Verdade Importa tem parte de sua força e ao mesmo tempo calcanhar de Aquiles nos momentos mais insanos e fora de lugar. Tais trechos resvalam em algo do tipo Twin Peaks e se houvesse mais empenho do cineasta poderia render este nível de desconforto delicioso. O problema é que a intenção nem de longe era essa.

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