domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | O Rei do Show – musical grandioso ganha pela energia

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Os Miseráveis do Picadeiro

Os musicais estão em extinção, mas ainda sobrevivem em Hollywood. Antes, o gênero mais popular da chamada era de ouro (1920 – 1960), os musicais eram, comparativamente, como os filmes de super-heróis que temos hoje. Filmes ricos e elaborados, que por sua vez arrastavam verdadeiras multidões aos cinemas. Hoje, o gênero se encontra reduzido a um ou dois lançamentos anuais. Por outro lado, é muito bom perceber que a indústria não os deixa morrer totalmente, investindo nessas produções e as adaptando, modernizando para a nova geração.

Podemos apontar um anacronismo comparativo entre O Rei do Show e outro musical sensação recente, La La Land: Cantando Estações – lançado no início do ano nos cinemas brasileiros (e no fim do ano passado no resto do mundo). Enquanto La La Land é moderno, passado nos dia de hoje e se propõe a discutir problemas cotidianos atuais, sua forma, estrutura e homenagem são voltadas aos musicais clássicos, justamente da era de ouro. Já O Rei do Show, conta a história de P.T. Barnum, lendário empreendedor do ramo de entretenimento, que fundou o circo como conhecemos hoje, e se passa no século XIX. Sua forma, no entanto, é mais dinâmica e arrojada, suas músicas pop e sua edição é de vídeo clipe.



A história criada por Jenny Bicks (produtora da série Sex and the City), com roteiro escrito pela própria em parceria com Bill Condon – um especialista no gênero (portando obras como Chicago, Dreamgirls: Em Busca de um Sonho e o recente A Bela e a Fera no currículo) é uma versão condensada da biografia de Barnum, empacotada e pronta para ser consumida pelas massas. É musical popular, que faz checkpoint em cada item necessário para resultar numa obra de fácil acesso, arquitetada para agradar gregos e troianos. Temos romances proibidos, um tema de aceitação e inclusão das diferenças, busca e realização de seus sonhos, a idealização da família (seja de sangue ou amizade) e, é claro, músicas pra lá de contagiantes.

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É inegável também que esta é uma biografia fantasiosa e demasiadamente romanceada. De fato, O Rei do Show poderia ser uma animação da Disney, onde os problemas são apenas de mentirinha e tudo se resolve à base de cantorias. Outra comparação válida é com o cinema de Frank Capra (A Felicidade Não se Compra, 1946), diretor dono de obras que enfatizavam a utopia, sempre colocando em primeiro plano a bondade do ser humano e sua capacidade de triunfar fazendo o correto e o bem. Todos esses elementos são encontrados aqui, na estreia de Michael Gracey como diretor. O jovem cineasta deve ser incrivelmente bem relacionado e ter as “costas quentes”, já que tem pouquíssimos trabalhos no cinema em outras áreas, e menos ainda significativos. Gracey vem de um passado na publicidade, de comerciais de TV. Felizmente, o sujeito dá conta do recado e imprime um ritmo satisfatório à sua narrativa (que incomoda só um pouco no início pela correria). Como disse seu elenco, o cineasta demonstra talento de um veterano. Isso é verdade.

Na trama, Hugh Jackman, ator experiente no gênero, oriundo dos palcos, vive Barnum com a elegância de sempre. De passado pobre, saído das ruas enquanto ainda menino, o protagonista vai aos poucos realizando seus sonhos e conquista sua paixão de infância, Charity (Michelle Williams), vinda de uma família rica. Mesmo depois de terem duas filhas, a vida dos Barnum não é nem de perto estável, e as dificuldades financeiras estão sempre à porta. Como a mensagem aqui é extremamente positiva, a família enfrenta seus problemas com entusiasmo e otimismo, correndo atrás de dias melhores. A veia de Barnum para o diferente, para o inusitado e para as artes, é sua bússola e o guia até um grupo excêntrico de pessoas, à margem da sociedade, consideradas aberrações. Barnum lhes dará voz e fará delas estrelas de seu show. Este é o cerne de O Rei do Show.

Se notaram algum ceticismo na descrição acima, esta não foi a intenção. Mas ele existirá aos montes em relação à obra. E eu não nego. Este é um conto de fadas, e muitos dirão que não se aprofunda em questões fervorosas e dignas de discussão, tratando de forma leve, e apenas pincelando tais dilemas morais. Concordo. Mas O Rei do Show é o tipo de filme onde tudo isso é perdoado em nome do entusiasmo. Sua proposta, assim como a de Barnum, é entreter o público. É fazê-lo esquecer dos problemas por quase duas horas e entregar um filme recheado de boas ideias e bons sentimentos, que cativa, emociona e empolga – mesmo que te pegue pela mão e te faça refém para isso. É impossível não se deixar levar pelas canções do filme e a funcionalidade de um musical, que aqui atinge as notas certas. Canções como ‘This is Me’ e ‘Rewrite the Stars’ já ganharam o imaginário geral e devem ser lembradas no Oscar, com uma das duas inclusive possivelmente saindo vitoriosa.

No elenco principal vale a pena citar também Zac Efron, nascido no gênero, eficiente como o burguês Carlyle; a gracinha Zendayaque fez suas próprias cenas no trapézio, e está pronta para ser uma estrela; a carismática Keala Settle (que vive a mulher barbada e desempenha a canção chave no longa); e Rebecca Ferguson, num papel originalmente criado para Anne Hathaway, cuja performance tem a força de um furação. Todos possuem seus próprios números, equilibrados e que servem como cartão de visitas para vindouros projetos. Todos estão aprovados.

Assim como no vencedor do Oscar de melhor filme em 2015, Birdman, existe uma cena primordial envolvendo um crítico, que define muito os ideais destas obras e suas razões de existirem. Aqui, Barnum, assim como seu próprio filme, faz seus espetáculos para o povo, para o consumo do maior número de pessoas possíveis, embora um renomado crítico trate de persegui-lo com suas palavras ferrenhas, apontando a falta de qualidade em seu trabalho. Em outro momento, talvez buscando aprovação, Barnum incorpora a cantora clássica Jenny Lind (Ferguson) ao seu repertório e trata de representá-la em seus concertos. É quando consegue transcender e ser relevante para uma nova parcela da sociedade. O Rei do Show é assim, musical pro grande público, dono de energia apaixonante, que nos desafia a renegá-lo. E não farei este papel.

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Podemos apontar um anacronismo comparativo entre O Rei do Show e outro musical sensação recente, La La Land: Cantando Estações – lançado no início do ano nos cinemas brasileiros (e no fim do ano passado no resto do mundo). Enquanto La La Land é moderno, passado nos dia de hoje e se propõe a discutir problemas cotidianos atuais, sua forma, estrutura e homenagem são voltadas aos musicais clássicos, justamente da era de ouro. Já O Rei do Show, conta a história de P.T. Barnum, lendário empreendedor do ramo de entretenimento, que fundou o circo como conhecemos hoje, e se passa no século XIX. Sua forma, no entanto, é mais dinâmica e arrojada, suas músicas pop e sua edição é de vídeo clipe.

A história criada por Jenny Bicks (produtora da série Sex and the City), com roteiro escrito pela própria em parceria com Bill Condon – um especialista no gênero (portando obras como Chicago, Dreamgirls: Em Busca de um Sonho e o recente A Bela e a Fera no currículo) é uma versão condensada da biografia de Barnum, empacotada e pronta para ser consumida pelas massas. É musical popular, que faz checkpoint em cada item necessário para resultar numa obra de fácil acesso, arquitetada para agradar gregos e troianos. Temos romances proibidos, um tema de aceitação e inclusão das diferenças, busca e realização de seus sonhos, a idealização da família (seja de sangue ou amizade) e, é claro, músicas pra lá de contagiantes.

É inegável também que esta é uma biografia fantasiosa e demasiadamente romanceada. De fato, O Rei do Show poderia ser uma animação da Disney, onde os problemas são apenas de mentirinha e tudo se resolve à base de cantorias. Outra comparação válida é com o cinema de Frank Capra (A Felicidade Não se Compra, 1946), diretor dono de obras que enfatizavam a utopia, sempre colocando em primeiro plano a bondade do ser humano e sua capacidade de triunfar fazendo o correto e o bem. Todos esses elementos são encontrados aqui, na estreia de Michael Gracey como diretor. O jovem cineasta deve ser incrivelmente bem relacionado e ter as “costas quentes”, já que tem pouquíssimos trabalhos no cinema em outras áreas, e menos ainda significativos. Gracey vem de um passado na publicidade, de comerciais de TV. Felizmente, o sujeito dá conta do recado e imprime um ritmo satisfatório à sua narrativa (que incomoda só um pouco no início pela correria). Como disse seu elenco, o cineasta demonstra talento de um veterano. Isso é verdade.

Na trama, Hugh Jackman, ator experiente no gênero, oriundo dos palcos, vive Barnum com a elegância de sempre. De passado pobre, saído das ruas enquanto ainda menino, o protagonista vai aos poucos realizando seus sonhos e conquista sua paixão de infância, Charity (Michelle Williams), vinda de uma família rica. Mesmo depois de terem duas filhas, a vida dos Barnum não é nem de perto estável, e as dificuldades financeiras estão sempre à porta. Como a mensagem aqui é extremamente positiva, a família enfrenta seus problemas com entusiasmo e otimismo, correndo atrás de dias melhores. A veia de Barnum para o diferente, para o inusitado e para as artes, é sua bússola e o guia até um grupo excêntrico de pessoas, à margem da sociedade, consideradas aberrações. Barnum lhes dará voz e fará delas estrelas de seu show. Este é o cerne de O Rei do Show.

Se notaram algum ceticismo na descrição acima, esta não foi a intenção. Mas ele existirá aos montes em relação à obra. E eu não nego. Este é um conto de fadas, e muitos dirão que não se aprofunda em questões fervorosas e dignas de discussão, tratando de forma leve, e apenas pincelando tais dilemas morais. Concordo. Mas O Rei do Show é o tipo de filme onde tudo isso é perdoado em nome do entusiasmo. Sua proposta, assim como a de Barnum, é entreter o público. É fazê-lo esquecer dos problemas por quase duas horas e entregar um filme recheado de boas ideias e bons sentimentos, que cativa, emociona e empolga – mesmo que te pegue pela mão e te faça refém para isso. É impossível não se deixar levar pelas canções do filme e a funcionalidade de um musical, que aqui atinge as notas certas. Canções como ‘This is Me’ e ‘Rewrite the Stars’ já ganharam o imaginário geral e devem ser lembradas no Oscar, com uma das duas inclusive possivelmente saindo vitoriosa.

No elenco principal vale a pena citar também Zac Efron, nascido no gênero, eficiente como o burguês Carlyle; a gracinha Zendayaque fez suas próprias cenas no trapézio, e está pronta para ser uma estrela; a carismática Keala Settle (que vive a mulher barbada e desempenha a canção chave no longa); e Rebecca Ferguson, num papel originalmente criado para Anne Hathaway, cuja performance tem a força de um furação. Todos possuem seus próprios números, equilibrados e que servem como cartão de visitas para vindouros projetos. Todos estão aprovados.

Assim como no vencedor do Oscar de melhor filme em 2015, Birdman, existe uma cena primordial envolvendo um crítico, que define muito os ideais destas obras e suas razões de existirem. Aqui, Barnum, assim como seu próprio filme, faz seus espetáculos para o povo, para o consumo do maior número de pessoas possíveis, embora um renomado crítico trate de persegui-lo com suas palavras ferrenhas, apontando a falta de qualidade em seu trabalho. Em outro momento, talvez buscando aprovação, Barnum incorpora a cantora clássica Jenny Lind (Ferguson) ao seu repertório e trata de representá-la em seus concertos. É quando consegue transcender e ser relevante para uma nova parcela da sociedade. O Rei do Show é assim, musical pro grande público, dono de energia apaixonante, que nos desafia a renegá-lo. E não farei este papel.

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