A adolescência é o período mais conturbado da vida de um ser humano. Não importa muito em qual cultura a pessoa cresça, é no período após a infância e antes da maturez adulta que tudo começa a fervilhar e o caráter do indivíduo passa a ser modelado com mais solidez, caminhando na direção de que tipo de cidadão será. E, para isso, a pessoa atravessa uma série de dúvidas e inquietações que fazem parte dessa jornada, mas que nem por isso é mais fácil para ninguém. Sobre a vertiginosa crise existencial tão comum na adolescência o drama ‘O Sentido da Vida’ se destaca no Top 10 da Netflix desde seu lançamento, e, pudera: estreado em pleno mês de férias, a garotada está mesmo toda assistindo e se identificando com o filme.
Ali Spencer (Andrea Figliomeni) sofrera um grave acidente de carro num passado recente, do qual nada lembra. Mais do que isso: ela agora está sofrendo de uma amnésia recente, na qual consegue se lembrar de funções básicas do cotidiano, como falar, fazer contas e dirigir, mas não consegue se lembrar de quem é, do que gosta, nem tampouco das amizades que fizera na vida. É assim que ela volta para casa e tem que enfrentar agora sua antiga vida, mesmo sem reconhecer ninguém ao seu redor nem muito menos reconhecer qualquer história que contem sobre ela. Enquanto se esforça para voltar a ser quem era, aos poucos começa a descobrir novas possibilidades de ser ela mesma.
Bastante metafórico e abrindo brechas para diversas interpretações (busca da identidade de gênero, de caráter, ideológica, social etc), ‘O Sentido da Vida’ é um longa que trata de maneira bem singela a busca juvenil para formação de sua identidade. O roteiro de Paul Root e Nicholas DiBella, entretanto, faz apenas um recorte desse processo, sem se aprofundar de fato nas inquietações que fazem parte do aprendizado. Assim, o filme já começa com a jovem Ali voltando para casa, sem o espectador saber de onde está vindo ou o quê aconteceu; os elementos vão sendo inseridos através dos diálogos, uma vez que a protagonista nem sequer apresenta qualquer escoriação ou machucado – e, portanto, não sabemos quanto tempo se passou. Ao mesmo tempo em que Ali tenta descobrir quem ela é, nós, espectadores, também vamos tentando entender quem é vilão quem é mocinho na história, para, no final, nada disso ser definido pelo roteiro, deixando-nos à revelia das escolhas da protagonista.
Ainda que com uma intenção acertada, o filme de Nicholas DiBella deixa os arcos soltos demais, entregando pouco ao espectador. O recorte da busca por si sem mostrar o acidente prévio nem ao menos flashbacks do passado faz com que o espectador fique no escuro com a protagonista o tempo todo e termine o longa da mesma forma como começou: apenas na intenção, sem concretude. É uma escolha ousada do diretor, pois fica a sensação de vazio temático. Por outro lado, assim é a vida: uma construção diária de escolhas, boas ou não.
‘O Sentido da Vida’ é um filme sem ousadias que mergulha metaforicamente na formação de caráter adolescente para dizer aos jovens que está tudo bem não se definir tudo de uma vez só, que as coisas são aos poucos mesmo, e que está tudo bem mudar de ideia no meio do processo. Para um público inquieto e urgente, porém, a linguagem abordada talvez não seja a melhor escolha.