Lançada na última semana, a minissérie O Som e a Sílaba é a nova produção nacional original do Disney+. Escrita e dirigida por Miguel Falabella, a série é uma adaptação da peça teatral homônima e traz para as telinhas uma questão bastante complexa de ser retratada: a vida de uma jovem no espectro autista.
A trama mostra a vida de Sarah Leighton (Alessandra Maestrini), uma jovem que sempre se sentiu diferente, tanto que sempre saía de costas nas fotos da infância. Rejeitada pela própria mãe, ela cresceu muito apegada ao pai e à ópera. Já adulta, ela segue vítima do preconceito, mas vê sua vida mudar quando seu irmão a inscreve em aulas com a soprano Leonor (Mirna Rubim), sua grande referência na arte. De início, elas não se entendem muito bem, só que vão encontrando meios de se falar pela música.
Antes de qualquer coisa, não tenho conhecimento sobre o autismo para falar se a série é ou não uma boa adaptação sobre pessoas nesse espectro. No entanto, é interessante ver como há uma preocupação em mostrar os personagens de forma respeitosa. Em entrevista, Maestrini me revelou ter entrado em contato com pessoas no espectro autista para repassar o texto e checar se havia algo ofensivo para elas ali.
A personagem de Sarah é leve e determinada. Mesmo diante do preconceito em sua própria casa, ela segue firme a quem é e não se deixa mudar pelo entorno para tentar se encaixar. Na verdade, quem mais muda ao longo da série é Leonor, a professora. Sua personagem começa extremamente fechada e rancorosa, vivenciando uma solidão terrível por conta de traumas do passado, refletido principalmente no afastamento da filha. Conforme a série se desenvolve, ela vai se aproximando de Sarah, que adentra sua vida e traz uma luz para seu isolamento.
E é nessas ‘incursões’ de Sarah na personalidade de Leonor que os personagens secundários brilham. O núcleo do prédio em que a soprano mora ganha um desenvolvimento leve e adorável. É um amor puro que vai surgindo e consegue divertir nesse processo.
Não deixe de assistir:
Paralelamente, Sarah desenvolve uma trama de primeiro amor que surge de forma orgânica, apesar da motivação dela buscar um namoradinho seja justamente para tentar entender sua personagem na ópera. Mais do que isso, a trama do concurso internacional, em que a protagonista comete seus pequenos ‘delitos’ para se inscrever, é divertidíssima.
Mais do que a pureza de Sarah e da bondade de suas intenções, o que mais prende na tela é a voz de Maestrini e a playlist da série. A capacidade vocal da atriz é fascinante, e a série faz questão de explorar isso ao máximo, principalmente nos episódios finais. E a escolha de músicas foi a dedo, trazendo obras, nas palavras de Falabella, ‘palatáveis para todos’, mas sem perder o refinamento das grandes óperas.
E por ser uma história ambientada nesse meio da ópera, a leveza da produção é uma surpresa muito positiva, já que essas tramas geralmente são mais trágicas que divertidas. Enfim, é uma boa surpresa dessa leva de produções nacionais do Disney+ e uma série muito bem-vinda para quem curte o mundo da música.