domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | O Tradutor – Rodrigo Santoro entre morte, Cuba e União Soviética

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Protagonizado por Rodrigo Santoro (da série Westworld), O Tradutor (Un Traductor) é um drama emotivo focado em comover o público por meio da figura do herói de ocasião. Dirigido pelos irmãos Rodrigo e Sebastián Barriuso, a obra conta a história real do pai deles Manuel Barriuso Andino durante o período da Guerra Fria e o acordo entre Cuba e a União Soviética para cuidar das vítimas do acidente em Chernobyl.

Apesar de protagonizado pelo brasileiro, o filme é uma produção cubana e canadense focada na figura de Malin (Rodrigo Santoro), uma professor de literatura russa que se vê de repente na incumbência de traduzir o diagnóstico dos médicos para as famílias desafortunadas do acidente nuclear na atual Ucrânia. Designado para a ala infantil, Malin rejeita o trabalho, no entanto, ele não tem opção.



A grande dinâmica do filme são os diálogos entre o professor/tradutor e a enfermeira Gladys (Maricel Álvarez), que chega a lhe dizer a certo ponto que se ele não deseja o posto, deve ligar para Fidel e pedir transferência. Aos poucos, no entanto, Malin se entrega ao seu novo ofício, deixa a sua tese de doutorado de lado, começa a estudar sobre câncer e a ler para as crianças da ala hospitalar, tornando-se um ar de esperança para todos ao redor, mesmo sabendo que a realidade não cumprirá a promessa de dias melhores.

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Em contraponto a todo o seu envolvimento com as crianças no hospital, Malin passa a negligenciar seu filho Javi (Jorge Carlos Perez Herrera) e a esposa Isona (Yoandra Suarez). Moradores de Havana, o professor reflete o contraponto da sua vida abastada com a esposa curadora de arte em comparação com a miséria de outros, assim afastando-se da sua vida de antes para tentar consertar algo dentro do seu novo microuniverso.

Com roteiro da estreante Lindsay Gossling, O Tradutor tem um ritmo arrastado e diálogos longos para situar todos os pontos da história e suas digressões. Em determinado momento, Gladys diz que o programa de Fidel é “um ato de bondade de um líder de grande coração”. Já no início do filme, os moradores de Havana esperam na rua a passagem do líder soviético Gorbachev, mostrando a conexão de respeito e ajuda mútua entre os países durante o período.

Na esfera de performances, Rodrigo Santoro está mais comedido do que em outros filmes e entrega um homem submerso em dúvidas e vontade de transformação. Seu maior envolvimento é com o menino Alexi (Nikita Semenov), de 10 anos, isolado de todos por conta do seu frágil sistema imunológico. A atuação do jovem ator é um espetáculo à parte em seu curto e complexo mundo entre a vida e a morte.

Com bons elementos, cenas pinceladas e um roteiro – por vezes – didático, O Tradutor apresenta uma perspectiva pungente de traduzir a morte, mas muito atrelada ao drama pessoal dos diretores e, portanto, capenga no resultado final. Com bastante a dizer, mas com dificuldade de transmitir de forma cinematográfica, os diretores encerram a narrativa com várias explicações em texto, algumas desnecessárias.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Protagonizado por Rodrigo Santoro (da série Westworld), O Tradutor (Un Traductor) é um drama emotivo focado em comover o público por meio da figura do herói de ocasião. Dirigido pelos irmãos Rodrigo e Sebastián Barriuso, a obra conta a história real do pai deles Manuel Barriuso Andino durante o período da Guerra Fria e o acordo entre Cuba e a União Soviética para cuidar das vítimas do acidente em Chernobyl.

Apesar de protagonizado pelo brasileiro, o filme é uma produção cubana e canadense focada na figura de Malin (Rodrigo Santoro), uma professor de literatura russa que se vê de repente na incumbência de traduzir o diagnóstico dos médicos para as famílias desafortunadas do acidente nuclear na atual Ucrânia. Designado para a ala infantil, Malin rejeita o trabalho, no entanto, ele não tem opção.

A grande dinâmica do filme são os diálogos entre o professor/tradutor e a enfermeira Gladys (Maricel Álvarez), que chega a lhe dizer a certo ponto que se ele não deseja o posto, deve ligar para Fidel e pedir transferência. Aos poucos, no entanto, Malin se entrega ao seu novo ofício, deixa a sua tese de doutorado de lado, começa a estudar sobre câncer e a ler para as crianças da ala hospitalar, tornando-se um ar de esperança para todos ao redor, mesmo sabendo que a realidade não cumprirá a promessa de dias melhores.

Em contraponto a todo o seu envolvimento com as crianças no hospital, Malin passa a negligenciar seu filho Javi (Jorge Carlos Perez Herrera) e a esposa Isona (Yoandra Suarez). Moradores de Havana, o professor reflete o contraponto da sua vida abastada com a esposa curadora de arte em comparação com a miséria de outros, assim afastando-se da sua vida de antes para tentar consertar algo dentro do seu novo microuniverso.

Com roteiro da estreante Lindsay Gossling, O Tradutor tem um ritmo arrastado e diálogos longos para situar todos os pontos da história e suas digressões. Em determinado momento, Gladys diz que o programa de Fidel é “um ato de bondade de um líder de grande coração”. Já no início do filme, os moradores de Havana esperam na rua a passagem do líder soviético Gorbachev, mostrando a conexão de respeito e ajuda mútua entre os países durante o período.

Na esfera de performances, Rodrigo Santoro está mais comedido do que em outros filmes e entrega um homem submerso em dúvidas e vontade de transformação. Seu maior envolvimento é com o menino Alexi (Nikita Semenov), de 10 anos, isolado de todos por conta do seu frágil sistema imunológico. A atuação do jovem ator é um espetáculo à parte em seu curto e complexo mundo entre a vida e a morte.

Com bons elementos, cenas pinceladas e um roteiro – por vezes – didático, O Tradutor apresenta uma perspectiva pungente de traduzir a morte, mas muito atrelada ao drama pessoal dos diretores e, portanto, capenga no resultado final. Com bastante a dizer, mas com dificuldade de transmitir de forma cinematográfica, os diretores encerram a narrativa com várias explicações em texto, algumas desnecessárias.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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