quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | O Urso do Pó Branco – Divertido, Grotesco e ABSURDAMENTE Real

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Uma coisa que os escritores e roteiristas podem ter com toda a certeza é que nada, absolutamente nada, vai conseguir superar a realidade. Não tem situação que a ficção consiga imaginar, que a realidade não a supere – e em muito –, ao ponto de leitores e espectadores se depararem com uma determinada situação criada na ficção e a considerarem impossível de imaginar, mas fato é que na realidade ela é muito pior. E, quanto mais o cinema vai expandindo suas narrativas e buscando histórias fora da caixinha, mais nos deparamos com a inacreditável realidade do nosso mundo. Uma dessas histórias absurdas chega essa semana aos cinemas nacionais, através da dramédiaO Urso do Pó Branco’.



No ano de 1985, um episódio curioso e proporcionalmente bizarro ocorreu nos Estados Unidos: um avião que transportava dezenas de quilos de cocaína começou a despejar os pacotes lá do alto, sem nenhum cuidado, e o responsável, que iria recolher os pacotes em seguida, faleceu misteriosamente no caminho, pois seu pára-quedas não abriu. Tudo teria sido apenas um misterioso caso de acidente mal explicado, não fosse o fato de os pacotes de cocaína terem se espalhado ao longo de um parque em Blood Mountain, na Geórgia. Com a droga perdida ao longo de quilômetros de floresta, tanto pessoas inocentes quanto animais silvestres acabam entrando em contato com a substância – em especial um urso pardo, cujas reações passam ser imprevisíveis e incontroláveis e passa a ameaçar a segurança dos visitantes do parque florestal.

Desde quando ‘O Urso do Pó Branco’ foi anunciado, o público e a indústria cinematográfica ficaram ansiosos com o resultado, que muito possivelmente seria tosco e risível. E de fato o é, afinal, o absurdo da ideia de um urso viciado em cocaína é igualmente bizarra e atraente para um público sedento por novidades. Dividido em três atos bem marcados, o filme de uma hora e trinta de duração ao mesmo tempo que diverte, também é extremamente triste. No primeiro arco, quando logo na primeira cena conhecemos o urso já sob efeito da substância tóxica, sentimos o coração apertar ao vermos o animal fritando por causa do entorpecente, sem ter qualquer controle ou noção do que está acontecendo, e, ao mesmo tempo, já demonstrando dependência pela substância química. O mesmo ocorre no ato final, o que deixa um sabor bem amargo no espectador que for ao cinema pensando em apenas rir da situação, mesmo se tratando de CGI.

Tendo indiretamente mostrado os perigos e as consequências da submissão de animais à substâncias elaboradas pelo homem e não pela natureza, ‘O Urso do Pó Branco’ também tem sua parte divertida, através do núcleo humano, com o roteiro de Jimmy Warden deixando em evidência, desde a primeira cena, que os seres humanos não vão ter a menor chance contra este animal totalmente doidão. As cenas com o elenco (que inclui nomes como Ray Liotta, Keri Russell, Matthew Rhys e Kristofer Hivju) são hilárias, uma vez que os ataques, as mortes e, principalmente, as tentativas de sobrevivências são tão bizarras quanto cômicas, tornando os seres humanos fragilizados o verdadeiro entretenimento da produção. É com eles que o espectador irá revirar os olhos e sentir repulsa, com cenas de características gore, trash e o nonsense, beirando a galhofa.

Elizabeth Banks assume com firmeza o seu projeto, fazendo com que a câmera o tempo todo favoreça o animal em demérito ao humano, acompanhando-o em posicionamentos que aumentem sua grandeza. Com ares de filme B de festival indie, faz tempo que não vemos um filme assim no grande circuito, e, a ver pelo burburinho causado, é capaz de novas produções como essa retomarem a programação das salas de exibição.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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No ano de 1985, um episódio curioso e proporcionalmente bizarro ocorreu nos Estados Unidos: um avião que transportava dezenas de quilos de cocaína começou a despejar os pacotes lá do alto, sem nenhum cuidado, e o responsável, que iria recolher os pacotes em seguida, faleceu misteriosamente no caminho, pois seu pára-quedas não abriu. Tudo teria sido apenas um misterioso caso de acidente mal explicado, não fosse o fato de os pacotes de cocaína terem se espalhado ao longo de um parque em Blood Mountain, na Geórgia. Com a droga perdida ao longo de quilômetros de floresta, tanto pessoas inocentes quanto animais silvestres acabam entrando em contato com a substância – em especial um urso pardo, cujas reações passam ser imprevisíveis e incontroláveis e passa a ameaçar a segurança dos visitantes do parque florestal.

Desde quando ‘O Urso do Pó Branco’ foi anunciado, o público e a indústria cinematográfica ficaram ansiosos com o resultado, que muito possivelmente seria tosco e risível. E de fato o é, afinal, o absurdo da ideia de um urso viciado em cocaína é igualmente bizarra e atraente para um público sedento por novidades. Dividido em três atos bem marcados, o filme de uma hora e trinta de duração ao mesmo tempo que diverte, também é extremamente triste. No primeiro arco, quando logo na primeira cena conhecemos o urso já sob efeito da substância tóxica, sentimos o coração apertar ao vermos o animal fritando por causa do entorpecente, sem ter qualquer controle ou noção do que está acontecendo, e, ao mesmo tempo, já demonstrando dependência pela substância química. O mesmo ocorre no ato final, o que deixa um sabor bem amargo no espectador que for ao cinema pensando em apenas rir da situação, mesmo se tratando de CGI.

Tendo indiretamente mostrado os perigos e as consequências da submissão de animais à substâncias elaboradas pelo homem e não pela natureza, ‘O Urso do Pó Branco’ também tem sua parte divertida, através do núcleo humano, com o roteiro de Jimmy Warden deixando em evidência, desde a primeira cena, que os seres humanos não vão ter a menor chance contra este animal totalmente doidão. As cenas com o elenco (que inclui nomes como Ray Liotta, Keri Russell, Matthew Rhys e Kristofer Hivju) são hilárias, uma vez que os ataques, as mortes e, principalmente, as tentativas de sobrevivências são tão bizarras quanto cômicas, tornando os seres humanos fragilizados o verdadeiro entretenimento da produção. É com eles que o espectador irá revirar os olhos e sentir repulsa, com cenas de características gore, trash e o nonsense, beirando a galhofa.

Elizabeth Banks assume com firmeza o seu projeto, fazendo com que a câmera o tempo todo favoreça o animal em demérito ao humano, acompanhando-o em posicionamentos que aumentem sua grandeza. Com ares de filme B de festival indie, faz tempo que não vemos um filme assim no grande circuito, e, a ver pelo burburinho causado, é capaz de novas produções como essa retomarem a programação das salas de exibição.

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