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Dos assobios iniciais ao amplo contexto de homens e suas fragilidades, o longa-metragem Oeste Outra Vez é uma cirúrgica equação rumo ao caos. Escrito e dirigido por Érico Rassi, o projeto atravessa a iminência pelo trágico transformando os momentos anteriores das grandes ações em verdadeiras percepções das vulnerabilidades. Rodado em 2019, na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, essa é história que logo domina a nossa atenção, se mantendo assim do início ao fim.
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Na trama, conhecemos o amargurado Totó (Ângelo Antônio), dono de um bar decadente, que após ser abandonado pela companheira, resolve acertar as contas com um outro morador da cidade onde mora, Durval (Babu Santana). Totó então contrata Jerominho (Rodger Rogério), que diz ser um competente pistoleiro, para matar Durval. Mas as coisas não saem conforme o planejado, levando essa história para uma série de desencontros rumo às profundezas da solidão.
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Tudo passa, nada fica. Muito bem filmado, e com diálogos maravilhosos, essa espécie de faroeste brasileiro bebe da fonte dos irmãos Coen – de Fargo principalmente – mas mostrando personalidade e originalidade em toda a condução da surpreendente narrativa. Nesse sertão caracterizado como uma terra sem lei, onde pulsa o acaso, ações com opostos desejados se tornam recorrentes, porém longe de redundâncias. Em um dos seus inúmeros méritos, percebemos uma fotografia que conversa a todo instante com o estado emocional dos personagens.
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A partir do silêncio, de uma solidão nas linhas da amargura, se constrói e logo desconstrói, com subtramas ganhando espaço seguindo um discurso que pisa com força no tragicômico. Nessa pequena obra-prima do cinema brasileiro, personagens acumulam as emoções de uma frágil masculinidade se tornando nômades das próprias inconsequências. Pra jogar luz e compreensão a tudo isso, além e outros elementos – como a notória e já comentada radiante fotografia – uma marcante trilha sonora abrilhanta o equilibrado ritmo pelas imagens e movimentos.
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Oeste Outra Vez, grande vencedor do Festival de Gramado esse ano, foi um dos selecionados para a Mostra Vertentes do CineBh 2024. Um filme que atravessa nosso refletir de várias formas ampliando o contexto através de personagens em conflitos que caminham passo a passo para o centro do tabuleiro emocional onde a solidão é um oasis corriqueiro.