sábado , 15 março , 2025

Crítica | Omaha: John Magaro é um pai em desespero em belíssimo drama familiar


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Filme assistido durante o Festival de Sundance 2025

Muito pouco nos é revelado a respeito do que nos trouxe àquele momento, em que um pai acorda seus filhos na primeira hora da manhã para pegar a estrada. Nem os pequenos e nem nós sabemos os detalhes que os levam a essa inesperada e indesejada aventura pelas estradas norte-americanas. Mas observando os sinais elementais que norteiam esses primeiros cinco minutos de filme, conseguimos entender que algo está acontecendo. Paira no ambiente a sensação de que uma extensa rachadura está chegando em seu ponto de ruptura. O ar é denso e nem mesmo a inocência de duas adoráveis crianças é capaz de minimizar os danos que gradativamente surgem. E assim começa o fim de uma história.



Lançado no Festival de Sundance, Omaha é um “road trip movie” às avessas, que rapidamente nos envolve na jornada de uma família – marcada por uma tragédia, que se apega aos últimos instantes de plenitude que lhes restam. E John Magaro é quem nos conduz por essa quase 1h30 de filme. Uma força da natureza que tem provado seu talento e habilidade de escolher papéis complexos e intrigantes, ele navega na indústria como quem sabe o tipo de carreira que quer construir. Depois de Vidas Passadas e Setembro 5, ele faz de Omaha uma entrada à versão mais profunda e dolorosa de si mesmo e se faz frágil em tela para entregar um personagem forte, preso em uma encruzilhada que pai nenhum no mundo deveria enfrentar.

E no silêncio de uma performance profunda e dolorosa, Magaro nos diz tudo o que precisamos saber sobre sua luta como pai desempregado, a partir de seus inchados olhos vagantes, que refletem um homem preso em seus pensamentos, pavores e aflições. Tudo é capturado meticulosamente pelo estreante Cole Webley, que toca a direção de Omaha como o regente de uma orquestra sinfônica, que conduz e direciona aquilo que já há de melhor nos talentos que tem em mãos. Por sua ótica diretorial e exímia abordagem do roteiro de Robert Machoian, o drama familiar é capaz de unir um universo de fatores socioeconômicos reais e práticos à complexidade de uma relação familiar que não pode ser reduzida a dados e estatísticas.

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John Magaro, Molly Belle Wright, and Wyatt Solis appear in Omaha by Cole Webley, an official selection of the 2025 Sundance Film Festival. Courtesy of Sundance Institute.

Transformando uma temática totalmente documental em um apelo dramático que nos atinge no âmago da alma, Machoian faz de Omaha uma viagem sinestésica, onde a dinâmica de seus personagens e as miudezas da beleza de ser família se materializam como argumento narrativo, dispensando a necessidade de longos diálogos, extensos monólogos e explicações enfadonhas. Contando sua história por meio da relação entre pai e filhos, o roteirista consegue nos levar por uma experiência muito mais imersiva e profunda, permitindo ainda que enxerguemos um mundo de possibilidades pela encantadora visão de duas crianças, vividas brilhantemente pelos pequenos Molly Belle Wright e Wyatt Solis.


Enquanto a inocência pueril de Charlie (Solis) o impede de enxergar aquelas rachaduras que só aumentam a cada novo quilômetro conquistado dessa viagem de carro, a perspicácia de Ella (Wright) a torna a grande observadora de tudo. Reticente e invariavelmente tomada por um constante estado de alerta, ela e seus olhos analísticos percebem cada suspiro profundo e cada movimento conflitante de seu pai. Como aquela que nos ajuda a compreender como o sentimento de abandono é percebido pela doce inocência infantil, ela também se torna o núcleo emocional de todo o filme.

E por seus 83 minutos de duração, Omaha nos conduz em uma jornada sobre perdas, aliviando seus momentos mais sombrios com a simplicidade apaixonante de seus pequenos protagonistas. Uma aventura dolorosa sobre as agruras de uma família abandonada pelo sistema, o longa lançado no Festival de Sundance não nos promete o final que desejamos, mas nos entrega uma jornada agridoce transformadora, à medida em que nos convida a entender a América por aquelas mesmas rachaduras que muitas vezes ela ajuda a criar. Sob uma fotografia solar que tenta diluir a densa atmosfera que nos embala do começo ao fim, o drama de Webley e Machoian é ainda uma experiência inquietante e ensurdecedora, que ao nos arrebatar em seu conto elucidativo, expressa toda sua dor não pelo falar, mas pela profunda tristeza de um único olhar.


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Lançado no Festival de Sundance, Omaha é um “road trip movie” às avessas, que rapidamente nos envolve na jornada de uma família – marcada por uma tragédia, que se apega aos últimos instantes de plenitude que lhes restam. E John Magaro é quem nos conduz por essa quase 1h30 de filme. Uma força da natureza que tem provado seu talento e habilidade de escolher papéis complexos e intrigantes, ele navega na indústria como quem sabe o tipo de carreira que quer construir. Depois de Vidas Passadas e Setembro 5, ele faz de Omaha uma entrada à versão mais profunda e dolorosa de si mesmo e se faz frágil em tela para entregar um personagem forte, preso em uma encruzilhada que pai nenhum no mundo deveria enfrentar.

E no silêncio de uma performance profunda e dolorosa, Magaro nos diz tudo o que precisamos saber sobre sua luta como pai desempregado, a partir de seus inchados olhos vagantes, que refletem um homem preso em seus pensamentos, pavores e aflições. Tudo é capturado meticulosamente pelo estreante Cole Webley, que toca a direção de Omaha como o regente de uma orquestra sinfônica, que conduz e direciona aquilo que já há de melhor nos talentos que tem em mãos. Por sua ótica diretorial e exímia abordagem do roteiro de Robert Machoian, o drama familiar é capaz de unir um universo de fatores socioeconômicos reais e práticos à complexidade de uma relação familiar que não pode ser reduzida a dados e estatísticas.

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John Magaro, Molly Belle Wright, and Wyatt Solis appear in Omaha by Cole Webley, an official selection of the 2025 Sundance Film Festival. Courtesy of Sundance Institute.

Transformando uma temática totalmente documental em um apelo dramático que nos atinge no âmago da alma, Machoian faz de Omaha uma viagem sinestésica, onde a dinâmica de seus personagens e as miudezas da beleza de ser família se materializam como argumento narrativo, dispensando a necessidade de longos diálogos, extensos monólogos e explicações enfadonhas. Contando sua história por meio da relação entre pai e filhos, o roteirista consegue nos levar por uma experiência muito mais imersiva e profunda, permitindo ainda que enxerguemos um mundo de possibilidades pela encantadora visão de duas crianças, vividas brilhantemente pelos pequenos Molly Belle Wright e Wyatt Solis.

Enquanto a inocência pueril de Charlie (Solis) o impede de enxergar aquelas rachaduras que só aumentam a cada novo quilômetro conquistado dessa viagem de carro, a perspicácia de Ella (Wright) a torna a grande observadora de tudo. Reticente e invariavelmente tomada por um constante estado de alerta, ela e seus olhos analísticos percebem cada suspiro profundo e cada movimento conflitante de seu pai. Como aquela que nos ajuda a compreender como o sentimento de abandono é percebido pela doce inocência infantil, ela também se torna o núcleo emocional de todo o filme.

E por seus 83 minutos de duração, Omaha nos conduz em uma jornada sobre perdas, aliviando seus momentos mais sombrios com a simplicidade apaixonante de seus pequenos protagonistas. Uma aventura dolorosa sobre as agruras de uma família abandonada pelo sistema, o longa lançado no Festival de Sundance não nos promete o final que desejamos, mas nos entrega uma jornada agridoce transformadora, à medida em que nos convida a entender a América por aquelas mesmas rachaduras que muitas vezes ela ajuda a criar. Sob uma fotografia solar que tenta diluir a densa atmosfera que nos embala do começo ao fim, o drama de Webley e Machoian é ainda uma experiência inquietante e ensurdecedora, que ao nos arrebatar em seu conto elucidativo, expressa toda sua dor não pelo falar, mas pela profunda tristeza de um único olhar.

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