Quando uma série de TV realiza temporadas anteriores impecáveis é preciso estar atento para a que vem a seguir, afinal, não é fácil manter o nível de qualidade e abordar temas sem soar repetitivo. No gênero comédia, mas um que trabalha assuntos um pouco dramáticos, é preciso prestar atenção para que não somente o arco, como também as piadas, não sejam as mesmas. Com isso em mente, vamos à crítica de One Day at a Time.
Criada por Gloria Calderon Kellett (How I Met Your Mother) e Mike Royce (Men of a Certain Age) a produção, que é um reboot de uma sitcom de mesmo nome de 1970 – e quase foi cancelada após a segunda parte devido ao baixo número de visualizações, conseguindo se reerguer por causa da divulgação do público nas redes sociais – chegou na sua terceira temporada para entregar aos espectadores mais histórias da família Alvarez.
Falar sobre One Day at a Time é algo de dar gosto. A série debateu assuntos como PTSD – estresse pós-traumático –, muito comum em veteranos de guerra, preconceitos, racismo, alcoolismo, entre outras coisas, e conseguiu trazer ainda mais questões à mesa nesta nova etapa. Os roteiristas, sem se afastarem do propósito inicial de fazer uma comédia, mostraram questões como sexismo, ansiedade e depressão, enfatizaram mais uma vez sobre preconceitos, sempre abordando discursos que permitem ao telespectador refletir e captar rapidamente a mensagem que querem passar.
A narrativa desta terceira temporada mantém todas as qualidades das anteriores e a tradição de fazer seu público rir e chorar ao mesmo tempo. É como se para a criação de Kellett e Royce não existisse a possibilidade de ficar ruim ou realizar episódios mais arrastados provocando perda de interesse, aqui é impossível desgrudar da tela e não ficar com a sensação de que poderiam ter mais capítulos para serem vistos quando se encerra a season finale.
É evidente o protagonismo de Rita Moreno como Lydia Riera, a queridinha do público, e sua filha Penelope Alvarez (Justina Machado). O desenvolvimento da relação de ambas ganhou novas nuances e influenciou diretamente a forma como a ex-veterana trata a filha Elena (Isabella Gomez). Um detalhe interessante de acompanhar é o quanto a jovem Alvarez se assemelha com a mãe em alguns quesitos da personalidade. Outro ponto positivo está no fato de Alex (Marcel Ruiz) ter ganhado mais tempo de tela e um amadurecimento próprio ao longo dos episódios. Se antes vocês já gostavam do personagem, então, preparem-se para ama-lo ainda mais.
Schneider (Todd Grinnell) também teve mais espaço para mostrar seu histórico e até mesmo o próprio arco onde se debate a questão do alcoolismo e seu relacionamento com a família de sangue. É evidente que o mesmo já foi adotado pelos Alvarez e este elo só se fortifica ao longo desta terceira temporada. Dr. Leslie Berkowitz (Stephen Tobolowsky), além de receber mais tempo de tela, também ganha um cantinho maior no coração de Lydia, o que só deixa o não-relacionamento dos dois ainda mais divertido.
Em relação às participações especiais, no primeiro capítulo chamado ‘The Funeral’ o público é inundado por três mulheres: a primeira sendo Gloria Estefan no papel de Mirtha, irmã-inimiga da nossa abuelita favorita. Melissa Fumero como Estrellita, filha da personagem de Estefan e melhor amiga de infância de Penelope. E, claro, uma das mais esperadas, Stephanie Beatriz fazendo a prima Pilar cujo diálogo com Elena é um dos mais importantes de todo o episódio.
A série permanece com a qualidade de direção das duas temporadas anteriores se alinhando ao roteiro. O mesmo vale para a direção de arte e a trilha sonora. Na criação de Kellett e Royce os quesitos técnicos estão ali para dar mais vida ao fenomenal texto, que por si só já consegue arrematar todas as pontuações. A sitcom encerra sem a certeza de uma quarta temporada, entretanto, é claro que há esperança disso acontecer, pois fica a sensação de um cliffhanger ao terminar.
One Day at a Time é de longe uma das melhores produções seriadas no ar atualmente e se torna cada vez mais necessária ser vista por todo tipo de público. É para se divertir e refletir sobre o mundo atual em que vivemos, nossa relação com o outro e com aqueles que formam nosso núcleo familiar – seja consanguíneo ou de coração.