Cinco Homens e um Segredo
Quem disse que fazer um filme é fácil? Quando falamos de uma produção ambiciosa tecnicamente e de grandes proporções, sua confecção se torna ainda mais difícil. A história do cinema é feita de obras problemáticas lendárias. Atrasos, roteiros reescritos (que muitas vezes transformam o projeto em um animal totalmente novo), mudanças de atores e até mesmo de diretores. Todos esses itens podem ser encontrados no recente Operação Fronteira (Triple Frontier), novo filme da Netflix que estreou ontem, dia 13 de março, na plataforma.
Bem, vale começar dizendo que esta produção nem sempre foi da Netflix. Operação Fronteira era inicialmente um lançamento da Paramount, que após muitas divergências e desistências, resolveu vender a obra para o colosso do streaming – assim como tem sido costumeiro do estúdio, vide Aniquilação (2018) e O Paradoxo Cloverfield (2018).
Após uma dança das cadeiras de protagonistas, que viu duplas como Johnny Depp e Tom Hanks, Tom Hardy e Channing Tatum, Denzel Washington e Sean Penn, e atores como Leonardo DiCaprio, Will Smith, Mark Wahlberg e Mahershala Ali envolvidos em algum ponto da produção, o filme finalmente decidiu seus atores principais nas formas de Ben Affleck e Oscar Isaac – o primeiro, inclusive, igualmente havia desistido do projeto, mas voltou atrás. Fora isso, a vencedora do Oscar Kathryn Bigelow (Guerra ao Terror) era a diretora original – agora na capacidade de produtora apenas.
O problema de tantas mudanças foram as readaptações que o roteiro sofreu ao passar de mão em mão, de estúdio para estúdio, assumindo outras formas e narrando outra história. A princípio, a ideia era um thriller intenso e dramático sobre um tema político controverso – como os que a cineasta Bigelow tem se especializado em criar, vide A Hora Mais Escura (2012). Com roteiro do usual colaborador da diretora, Mark Boal (vencedor de dois Oscar), Operação Fronteira era reportado como uma obra que iria discutir o problema das drogas na tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia. Algo como Traffic (2000) e Sicário (2015) haviam trabalhado. Bem, este não foi o filme que recebemos.
Operação Fronteira é thriller de ação, tenso, porém, mais voltado ao entretenimento do que de fato uma proposta significativa sobre o tema controverso. O filme surge como o famoso dilema: “se não pode vencê-los, junte-se a eles”. No entanto, tais termos usados para definir o longa não se tornam pejorativos quando no comando da obra temos um diretor do calibre de J.C. Chandor, chamado nos 45 do segundo tempo. Fugindo um pouco de sua alçada de projetos autorais e contundentes, vide Até o Fim (2013) e O Ano Mais Violento (2014), o cineasta entrega um filme eficiente, mas sem a mesma relevância costumeira. Este é seu longa menos ressoante.
Na trama, cinco amigos de longa data, todos ex-militares das forças especiais, encabeçados por Pope (Oscar Isaac), decidem agir por conta própria em uma missão secreta. Os super soldados tem como objetivo abater um chefão do crime, líder de um cartel de drogas, o qual a justiça não conseguia tocar. Tirar o sujeito de jogada facilitaria as coisas na fronteira, mas pensando em como nunca o governo dos EUA os verdadeiramente reconheceu como heróis, o grupo decide receber eles mesmos a sua recompensa: todo o dinheiro do cartel.
Operação Fronteira ultrapassa a linha da ambiguidade moral sem pedir desculpas. O longa se comporta como uma versão atualizada e ficcional do ótimo Três Reis (1999), que conta sobre militares com planos de roubar o tesouro de Saddam Hussein durante a Guerra do Golfo. Protagonistas do porte de Ben Affleck (em seu primeiro trabalho desde Liga da Justiça), Oscar Isaac, Pedro Pascal, Charlie Hunnam e Garrett Hedlund dão peso maior ao material, mas a verdade é que a história e os personagens nunca compelem da forma planejada, e nosso envolvimento com eles torna-se básico. Se não compromete, também não marca. Entre mortos e feridos (dentro e fora das telas), Operação Fronteira entrega um resultado acima da média e consegue entreter. No entanto, quando pensamos no que poderia ser com todo o seu potencial, o sentimento de empolgação diminui.