quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | Os Banshees de Inisherin: Colin Farrell e Brendan Gleeson são ex-amigos em extraordinária comédia dramática

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Uma das poucas certezas que 2022 nos trouxe é a de que Colin Farrell é – sem sombra de dúvidas – um dos atores mais versáteis e habilidosos da atualidade. Do cult soturno e melancólico da produtora A24, After Yang, ao blockbuster The Batman, o irlandês navega entre os gêneros mais diversos, em arquétipos que variam entre a mais pura caricatura de época a até mesmo um vilão dos quadrinhos com características que beiram o animalesco. E em Os Banshees de Inisherin, ele retorna às suas raízes irlandesas, em um conto tragicômico de um simplório homem que não soube lidar com o fim de uma amizade.



No novo longa de Martin McDonagh (Três Anúncios Para um Crime), Colm é um homem de idade avançada que ao repensar sua vida, resolve encerrar sua amizade de longa data com Pádraic. No entanto, o inesperado impasse trará consequências caóticas para ambos, quando o singelo e agora ex-amigo decide não aceitar o fim deste relacionamento. Esse entrave se desabrocha de forma impressionante ao longo de quase duas horas de filme, em que McDonagh é capaz de transformar o nada em tudo diante dos nossos olhos. E com uma história simples em suas mãos, acompanhamos o dia-a-dia de uma pequena comunidade irlandesa no auge da Guerra Civil, em 1923, a partir de um dilema particular que se torna a grande confusão do povoado.

E entre personagens caricatos e uma cultura rudimentar, Farrell e Brendan Gleeson são a personificação de uma trama que poderia muito bem não dar em absolutamente, mas que consegue nos arrebatar de forma abrupta em seu segundo ato. Nos levando em banho-maria eu seus primeiros 20 minutos, somos capturados pelo embate entre Colm e Pádraic aos poucos, conforme as consequências se tornam alarmantes para ambos. Sob um humor sombrio que mais se esconde do que aparece, a narrativa de Os Banshees de Inisherin é uma comédia dramática estranha. As gargalhadas não vêm como inicialmente se espera, mas de maneira perspicaz, McDonagh esgueira o fator cômico na linguagem corporal de seus personagens, em suas caricaturas e exageros performáticos. 

Salpicando algumas sacadas cômicas em meio a momentos tão dramáticos e até mesmo constrangedores, o humor do cineasta pode passar despercebido. Mas com momentos tão marcantes e tão bem dirigidos, é inegável sermos absorvidos pelo negrume de uma comédia dark que – quando vem à nossa mente através de relances do filme – desperta a mais inevitável e despretensiosa gargalhada. E talvez a riqueza de Os Banshees de Inisherin esteja ali, nessa facilidade em se tornar memorável em nossa mente sem que sequer percebamos. E crescendo gradativamente tal qual seus personagens se transformam em tela, esse conto irlandês trágico é um deleite em todos os aspectos.

Assim como se desenvolve e se desdobra em um clímax anunciado que consegue ser inesperado e surpreendente, a produção é também uma pintura hipnotizante. Com a direção de fotografia impecável de Ben Davis, percorremos os vales e montanhas da Irlanda por uma perspectiva bucólica, quase poética – que se contrapõe à objetividade de Gleeson em sua poderosa performance como Colm. Mas a verdade é que o veterano não seria tão sensacional em tela se não fosse por Farrell. Com um sotaque arrastado, sobrancelhas sempre curvadas que conotam um semblante franzino, amuado e tristonho, ele se transforma em tela uma vez mais como um rapaz simples, de pouco conhecimento, mas com um coração enorme. Inocente, pouco instruído e determinado a recuperar seu único amigo, ele e sua jumentinha Jenny nos tomam em cada cena, nos levam aos sentimentos mais diversos e nos fazem comprar sua saga fadada ao desastre. 

Sua performance ainda faz Gleeson brilhar ainda mais em tela, como uma espécie de fanfarrão rabugento que vive uma crise existencial diante da fatalidade esquecível de sua existência. Juntos, eles formam a dupla perfeita que nos levaria por horas a fio diante da tela. Sempre em contraste, eles também são a antítese de Kerry Condon e Barry Keoghan. Enquanto a primeira sonha com uma vida que seja digna de seu intelecto, o segundo é um jovem rapaz sem filtro e sem muita noção. 

Com atuações excelentes, ambos assumem o protagonismo mesmo em papéis coadjuvantes. Keoghan vai ainda mais além e mostra o quão camaleônico é capaz de ser, a ponto de ser uma grande aposta para o Oscar 2023, ao lado dos dois protagonistas. E com um final mais sutil do que o esperado, Os Banshees de Inisherin é uma anedota sobre o doloroso fim de uma amizade em meio a uma sufocante e isolada comunidade. Às vezes mais trágico do que cômico, ele é absolutamente um prazeroso delírio cinematográfico que poucos fariam tão bem como o trio McDonagh, Farrell e Gleeson.

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Uma das poucas certezas que 2022 nos trouxe é a de que Colin Farrell é – sem sombra de dúvidas – um dos atores mais versáteis e habilidosos da atualidade. Do cult soturno e melancólico da produtora A24, After Yang, ao blockbuster The Batman, o irlandês navega entre os gêneros mais diversos, em arquétipos que variam entre a mais pura caricatura de época a até mesmo um vilão dos quadrinhos com características que beiram o animalesco. E em Os Banshees de Inisherin, ele retorna às suas raízes irlandesas, em um conto tragicômico de um simplório homem que não soube lidar com o fim de uma amizade.

No novo longa de Martin McDonagh (Três Anúncios Para um Crime), Colm é um homem de idade avançada que ao repensar sua vida, resolve encerrar sua amizade de longa data com Pádraic. No entanto, o inesperado impasse trará consequências caóticas para ambos, quando o singelo e agora ex-amigo decide não aceitar o fim deste relacionamento. Esse entrave se desabrocha de forma impressionante ao longo de quase duas horas de filme, em que McDonagh é capaz de transformar o nada em tudo diante dos nossos olhos. E com uma história simples em suas mãos, acompanhamos o dia-a-dia de uma pequena comunidade irlandesa no auge da Guerra Civil, em 1923, a partir de um dilema particular que se torna a grande confusão do povoado.

E entre personagens caricatos e uma cultura rudimentar, Farrell e Brendan Gleeson são a personificação de uma trama que poderia muito bem não dar em absolutamente, mas que consegue nos arrebatar de forma abrupta em seu segundo ato. Nos levando em banho-maria eu seus primeiros 20 minutos, somos capturados pelo embate entre Colm e Pádraic aos poucos, conforme as consequências se tornam alarmantes para ambos. Sob um humor sombrio que mais se esconde do que aparece, a narrativa de Os Banshees de Inisherin é uma comédia dramática estranha. As gargalhadas não vêm como inicialmente se espera, mas de maneira perspicaz, McDonagh esgueira o fator cômico na linguagem corporal de seus personagens, em suas caricaturas e exageros performáticos. 

Salpicando algumas sacadas cômicas em meio a momentos tão dramáticos e até mesmo constrangedores, o humor do cineasta pode passar despercebido. Mas com momentos tão marcantes e tão bem dirigidos, é inegável sermos absorvidos pelo negrume de uma comédia dark que – quando vem à nossa mente através de relances do filme – desperta a mais inevitável e despretensiosa gargalhada. E talvez a riqueza de Os Banshees de Inisherin esteja ali, nessa facilidade em se tornar memorável em nossa mente sem que sequer percebamos. E crescendo gradativamente tal qual seus personagens se transformam em tela, esse conto irlandês trágico é um deleite em todos os aspectos.

Assim como se desenvolve e se desdobra em um clímax anunciado que consegue ser inesperado e surpreendente, a produção é também uma pintura hipnotizante. Com a direção de fotografia impecável de Ben Davis, percorremos os vales e montanhas da Irlanda por uma perspectiva bucólica, quase poética – que se contrapõe à objetividade de Gleeson em sua poderosa performance como Colm. Mas a verdade é que o veterano não seria tão sensacional em tela se não fosse por Farrell. Com um sotaque arrastado, sobrancelhas sempre curvadas que conotam um semblante franzino, amuado e tristonho, ele se transforma em tela uma vez mais como um rapaz simples, de pouco conhecimento, mas com um coração enorme. Inocente, pouco instruído e determinado a recuperar seu único amigo, ele e sua jumentinha Jenny nos tomam em cada cena, nos levam aos sentimentos mais diversos e nos fazem comprar sua saga fadada ao desastre. 

Sua performance ainda faz Gleeson brilhar ainda mais em tela, como uma espécie de fanfarrão rabugento que vive uma crise existencial diante da fatalidade esquecível de sua existência. Juntos, eles formam a dupla perfeita que nos levaria por horas a fio diante da tela. Sempre em contraste, eles também são a antítese de Kerry Condon e Barry Keoghan. Enquanto a primeira sonha com uma vida que seja digna de seu intelecto, o segundo é um jovem rapaz sem filtro e sem muita noção. 

Com atuações excelentes, ambos assumem o protagonismo mesmo em papéis coadjuvantes. Keoghan vai ainda mais além e mostra o quão camaleônico é capaz de ser, a ponto de ser uma grande aposta para o Oscar 2023, ao lado dos dois protagonistas. E com um final mais sutil do que o esperado, Os Banshees de Inisherin é uma anedota sobre o doloroso fim de uma amizade em meio a uma sufocante e isolada comunidade. Às vezes mais trágico do que cômico, ele é absolutamente um prazeroso delírio cinematográfico que poucos fariam tão bem como o trio McDonagh, Farrell e Gleeson.

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