A figura da mãe na estrutura familiar é o pilar fundamental que mantém o equilíbrio dos parentes. Na maioria dos lares, a mãe é uma pessoa que se preocupa com os filhos, os cuida, os educa, se dedica a torná-los pessoas melhores, ainda que por vezes isso possa significar algum sacrifício em sua vida pessoal. Entretanto, ainda que isso ocorra na maioria dos casos, há sempre alguma exceção – e é da exceção que estamos falando aqui em ‘Os Crimes da Nossa Mãe’, série documental da Netflix que vem causando alvoroço entre os assinantes.
Chandler, Arizona, interior dos Estados Unidos. Lori Vallow é uma jovem mulher que vive uma vida mediana com seus pais e irmãos. Nada lhe falta, mas nada lhe sobra. Desde pequena, Lori sempre demonstrou especial interesse por assuntos religiosos, mas é de adulta que ela passa a se apegar cada vez mais a esse tema, especialmente depois que se separa de seu primeiro marido e se casa com o segundo, que mostra ser um cara bacana, exercendo o papel de pai de verdade para Colby Ryan, filho mais velho de Lori, e Tylee, filha que Lori tem com ele. Tempos depois, os pais de Lori, Janis e Barrie Cox, decidem adotar um garoto, Joshua, que é diagnosticado com autismo e, para a segurança do jovenzinho, Lori decide cuidar do menino, completando a família com os três filhos. Mas Lori começa a se aprofundar ainda mais nos assuntos religiosos, beirando o discurso apocalíptico, e quando conhece o autor de livros Chad Daybell, em 2019, ela muda completamente, separando-se do atual marido para viver com seu novo amor, levando consigo seus dois filhos menores de idade. Com a chegada da pandemia e o distanciamento social, Lori e Chad passam a ficar incomunicáveis, ao ponto de Janis e Barrie ativarem um alerta na polícia à procura de seus netos, Tylee e Joshua, com quem ninguém consegue contato e cujas seguranças o resto da família passa a temer.
Dividido em apenas três episódios, ‘Os Crimes da Nossa Mãe’ é uma minissérie documental de certa forma previsível, uma vez que se as suspeitas do espectador não se cumprissem, a série sequer existiria, para início de conversa. Mesmo assim, não deixa de ser bizarra a história real desta mulher, Lori Vallow, que aos poucos se torna uma fanática religiosa cujo discurso obtuso admite apenas a perspectiva daqueles que compartilham sua visão de mundo, relegando automaticamente os discordantes à posição de “inimigos”. A forma como a diretora Skye Borgman constrói a narrativa obedece exatamente a fórmula de redação – apresentação, desenvolvimento, conclusão – sem desperdiçar tempo com depoimentos ou cenas que não fossem para construir a série.
Ainda que a história não mencione diretamente a pandemia – possivelmente uma escolha para não datar o programa a um período histórico – o espectador mais atento poderá entender que a demora na investigação, a dificuldade em travar contato com as crianças e até mesmo o fanatismo de Lori podem ter sido corroborados pela pandemia, que, como sabemos, piorou muito a convivência humana e potencializou paranoias que já estavam engatilhadas na cabeça de pessoas cujas saúdes mentais andavam desequilibradas.
Enquanto entretenimento, ‘Os Crimes da Nossa Mãe’ é uma minissérie redondinha, com pouco mais de duas horas de duração e aspectos investigativos que prendem a atenção do espectador. E mostra a importância de darmos a devida atenção à saúde mental – à nossa e à das pessoas com quem convivemos.