Com o seu maior sucesso novelístico em mãos, a Record teve a brilhante (nem tanto) ideia de reeditar os 176 capítulos de sua novela e transformá-lo em um longa-metragem. Ideia que obviamente não funcionaria: como comprimir uma história exibida ao longo de 176 dias em apenas 2 horas de produção?
E é ai que está o grande problema de ‘Os Dez Mandamentos – O Filme‘: com cenas desconexas e a falta de foco nos personagens principais, a trama retalhada falha em conquistar os espectadores, e se transforma em uma colcha de retalhos que parece um videoclipe visualmente bem produzido.
A novela, e consequentemente o filme, tem seus méritos: um visual deslumbrante que recria o velho Egito, utilizando efeitos Hollywoodianos para dar o tom épico da produção.
O filme conta uma das mais famosas passagens da Bíblia: a saga de Moisés, desde seu nascimento até a chegada de seu povo à Terra Prometida, passando pela fuga do Egito através do Mar Vermelho e o encontro com Deus no Monte Sinai. Livre adaptação dos livros Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, o filme cobre mais de cem anos de história, em tramas recheadas de emoção.
Condensar um período tão grande de tempo em um filme já é uma tarefa difícil, ainda mais quando conta com tantas tramas paralelas que se perdem em meio a história principal. Vários personagens importantes são ceifados da história, e até o arco do protagonista fica perdido em meio a tantos cortes rápidos e secos.
Outro problema seríssimo do filme é o whitewashing, polêmica atualmente em pauta em Hollywood. Apesar da história se passar no continente Africano, os protagonista são todos brancos. Registros científicos e arqueológicos sobre o Egito já revelaram que sua população era, em sua grande maioria, negra.
Outros problemas estão nas gírias modernas usadas pelo roteiro de Vivian de Oliveira, a maquiagem “século 21” e os erros de continuação: você dificilmente se sentirá transportado para o Egito antigo.
Guilherme Winter tenta o seu melhor no papel de Moisés, mas não consegue levar nas costas o filme, sendo amparado pelas atuações irregulares de Sérgio Marone, Mel Lisboa e Larissa Maciel.
E mesmo em um momento ou outro de boas atuações, os atores acabam sendo prejudicados pela edição e pela falta de aprofundamento em seus personagens.
A direção competente de Alexandre Avancini mostra que temos espaço para diferentes produções cinematográficas no país, quebrando o longo reinado dos filmes de comédia, mas a execução e edição desta adaptação televisiva para os cinemas prejudica o entendimento da história até para o leitor mais assíduo da Bíblia.
O esforço em lançar um filme de um gênero diferente no Brasil vai por água abaixo: Trata-se apenas de uma produção caça-níquéis, apelando pelo jeitinho brasileiro de tentar ganhar em cima de tudo. E nem as novelas serão perdoadas.