Tem coisas que a gente sonha, mas simplesmente acha que nunca vai acontecer com a gente. Tipo, fazer uma crítica da continuação de um dos seus filmes favoritos da vida. Isso tem acontecido com um pouco mais de frequência nos últimos anos, dado o grande volume de continuações e reboots de clássicos dos anos 1980/90 – e esse momento também chegou para os trabalhos de Tim Burton, com a estreia nos cinemas, a partir dessa semana, do terror ‘Os Fantasmas Ainda Se Divertem – Beetlejuice Beetlejuice’.
Depois de tudo que aconteceu com a casa de sua família quando era ainda adolescente, Lydia Deetz (Winona Ryder) acabou se tornando uma paranormal de respeito, com um programa de televisão onde ajuda pessoas a se livrarem dos fantasmas indesejados. Mas a morte repentina e trágica de seu pai, Charles, faz com que ela reúna sua madrasta, Delia (Catherine O’Hara), e sua filha, Astrid (Jenna Ortega) de volta na mansão assombrada para os eventos do funeral de Charles. Entretanto, coisas sinistras começam a acontecer na cidade de Winter River às vésperas do Halloween, e, a contragosto, Lydia precisará mais uma vez pedir a ajuda de Beetlejuice (Michael Keaton) para conseguir salvar a própria família.
‘Os Fantasmas Ainda Se Divertem – Beetlejuice Beetlejuice’ é uma continuação direta do filme anterior, com os mesmos personagens, como se o mesmo tempo que passou para a gente (uns quarenta anos) tivesse passado também na vida fictícia dessas pessoas. É legal ter isso em mente porque, se por um lado o elenco original parece mais velho (óbvio!), por outro há uma clara intenção de dialogar dois grandes públicos do Tim Burton e congregar todo mundo numa mesma produção: aqueles fãs que o acompanham desde o início da carreira, num tempo mais sombrio de suas produções, e os de hoje, mais conectados e espíritos-livres.
Para comungar duas gerações de fãs, o roteiro de Alfred Gough e Miles Millar traz tanto elementos do filme original quanto novas informações que fazem sentido para os jovens góticos dos anos 2000. Assim, temos encontros de gerações – com Winona Ryder (a queridinha do terror na virada das décadas de 1980/90) e de Jenna Ortega (a scream queen da atualidade); e também temos tanto um Beetlejuice que lê jornal impresso e tem um departamento onde Bobs digitam em máquinas de escrever quanto uma cena em que o próprio protagonista chama um monte de influenciador digital para filmar o que está acontecendo. Isso é Tim Burton se conectando com seus fãs, e é lindo de se ver.
Da mesma forma, é muito fofo de observar o quanto o trabalho de Tim Burton atinge tão profundamente a nós, meros espectadores, como também a gente famosa, a ponto de Brad Pitt ser não só produtor desse novo filme, como também (dizem) ter feito uma ponta no longa, como um dos Bobs. O longa também conta com a participação luxuosíssima de Willem Dafoe como um “policial” morto e Monica Bellucci, atual namorada de Burton, como Delores, uma espécie de ‘Noiva Cadáver’ (que faz referência ao próprio universo burtiniano).
Para quem está interessado em Beetlejuice bizarro e escatológico, as cenas estão lá, para pontualmente fazer a gente retorcer o rosto. Para quem quer algo mais leve, também temos um Beetlejuice mais solar, bem menos obscuro, mais colorido e musical e recheado de piadinhas internas e autorreferências – o que fatalmente irá provocar os fãs a ver o longa mais de uma vez, para conseguir pescar todas elas.
Mais feliz e totalmente contemporâneo, ‘Os Fantasmas Ainda Se Divertem – Beetlejuice Beetlejuice’ é a coroação de Tim Burton como um grande diretor de cinema que conseguiu entregar tudo que seus fãs – de ontem e de hoje – desejam, sem perder sua própria assinatura original. Divertido, nojento, assustador e romântico, ‘Os Fantasmas Ainda Se Divertem – Beetlejuice Beetlejuice’ comprova que Tim Burton e a gente ainda nos divertimos, e muito, com seus filmes de terror.