Existe um ditado popular muito conhecido de todos, que diz que filho de peixe, peixinho é. Em outras palavras, significa que os filhos provavelmente seguirão os passos de seus pais, principalmente no âmbito profissional. E no cinema isso é especialmente uma verdade. Um bom exemplo é a diretora Ishana Shyamalan, cujo sobrenome já entrega: ela é filha de ninguém menos do que um dos mais renomados diretores de filmes de terror da atualidade, M. Night Shyamalan. E tal qual seu pai, Ishana tem se dedicado ao cinema, com um recorte para contar histórias de terror, estreando agora com ‘Os Observadores’, filme atualmente em cartaz nos cinemas brasileiros.
Mina (Dakota Fanning, de ‘Tudo Que Eu Quero’) não consegue reagir na vida. Desde que causara o acidente que culminara na morte de sua mãe, quinze anos atrás, Mina vive numa apatia sem fim, passando os dias sem nenhuma emoção enquanto trabalha numa veterinária. Quando, em certa manhã, seu chefe lhe pede que leve um papagaio raro dali para uma outra loja em Galway, no interior da Irlanda, Mina nem pensa duas vezes, afinal, não faz a menor diferença pra ela. Só que o caminho de carro atravessando o país a leva por uma floresta sombria e obscura, que faz seu carro quebrar misteriosamente. Numa tentativa de buscar ajuda, Mina se afasta com o pássaro pela floresta, mas acaba se perdendo… e encontrando Ciara (Georgina Campbell), Madeline (Olwen Fouéré) e Daniel (Oliver Finnegan), presos numa casa de vidro no meio do mato.
Baseado na história de A. M. Shine, ‘Os Observadores’ tem uma boa premissa, mas escorrega várias vezes ao longo de suas uma hora e quarenta de duração. Escrito pela própria diretora Ishana Shyamalan, o roteiro se divide em três arcos destoantes: o primeiro, que apresenta a vida da protagonista, é quase entediante, já que a rotina dela também o é; no meio do filme, quando Mina entra na floresta e conhece os outros personagens, a coisa começa a ficar interessante, embora muitas cenas sejam um bocado confusas para a gente entender o que aconteceu; por fim, quando você acha que o filme já entregou tudo o que pretendia, vem um baita plot twist que dá até aquela animada, afinal, ele chega inesperadamente, mas tão rápido quanto chega, dá uma desacelerada, pois seu desenvolvimento se mostra inseguro.
E tudo isso é fruto mesmo da falta de quilometragem da diretora, em entender que partes de seu filme precisariam de melhor desenvolvimento, enquanto outras poderiam facilmente ter sido descartadas, seja pela repetição, seja pela ausência de funcionalidade no enredo. E, particularmente, ver Dakota Fanning sacudindo uma gaiola com a pobre da ave por quase meia hora é realmente angustiante, seja a imagem fruto de efeito visual ou não.
O mais legal em ‘Os Observadores’ é a sua premissa, que busca nas raízes celtas uma inspiração para construir uma trama envolvente de suspense estilo a ameaça desconhecida. Meio estilo Stephen King, o filme gasta muito tempo na ambientação, mas, nos momentos-chave da trama, parece que a câmera de Ishana Shyamalan fica inquieta e desvia rapidamente, deixando os personagens sem se explicarem direito e a nós, espectadores, frustrados pela falta de evidências. Ainda assim, por se tratar de um primeiro grande trabalho comercial e por uma boa história inspiradora, ‘Os Observadores’ é um suspense que apesar dos tropeços, envolve e cativa o público.