No início da década de 2010, surfando na onda da saga ‘Crepúsculo’ e da corrente de fãs que se formou mundo afora (na sua maioria, adolescentes e jovens naquela época), uma grande quantidade de histórias sobre vampiros começou a ser publicadas, colocando os sanguessugas dentro de contextos contemporâneos, trazendo-os para o cotidiano comum a todos. O vampiro, assim, podia ser seu chefe, seu marido, a professora da escola, o crush da internet. Dentre os muitos livros publicados, ‘Os Radley’, lançado no Brasil pela editora Galera Record, em 2011, conquistou seu espaço dentre o público leitor, e, assim, quinze anos após sua primeira publicação na Inglaterra, a história ganhou sua adaptação cinematográfica, que chega com o mesmo nome ao circuito exibidor a partir de hoje.
‘Os Radley’ são uma família comum, embora seus vizinhos os achem esquisitos e o tempo todo fiquem pichando essa palavra na fachada da casa da família. Peter (Damian Lewis, de ‘Era Uma Vez… em Hollywood’) é médico; Helen (Kelly MacDonald, de ‘Onde Os Fracos Não Têm Vez’) é uma mãe que fica em casa enquanto cuida da família; Clara (Bo Bragason), desde que virou vegana, está sempre pálida e vomitando por tudo, enquanto seu irmão menor, Rowan (Harry Baxendale), é super introvertido e se esconde atrás de uma câmera, passando o dia a fotografar pessoas. Após uma festa, o jovem Stuart (Freddie Wise) é dado como desaparecido, e as evidências apontam para a família Radley. É nesse momento que a jovem Clara descobre o terrível segredo da família: na verdade eles são todos vampiros, e o tio Mark (Steven Waddington) chega para mostrar os benefícios dos tentadores poderes vampirescos.
Dado o relativo sucesso dos livros mundo afora (aqui no Brasil, inclusive), é um pouco decepcionante que a adaptação cinematográfica não tenha a mesma energia do que a história criada por Matt Haig. Mesmo em se tratando de uma trama de mortos-vivos, o filme de ‘Os Radley’ parece sem vida, sem cores, tudo muito cinzento-azulado, desde a paisagem de interior da Inglaterra ao figurino e às interpretações do elenco como um todo, como se fossem mais humanos do que vampiros e a única diferença fisiológica fosse os dentes pontudos.
O que é um tanto surpreendente, uma vez que o filme é dirigido por Euros Lyn, que também dirigiu a série ‘Heartstopper’. É provável, também, que o roteiro de Talitha Stevenson e Jo Brand leve uma parcela de responsabilidade, mesmo sendo perceptível o esforço de adaptar todos os acontecimentos do livro em uma produção de uma hora e meia de duração. Assim, temos muito tempo dedicado a, por exemplo, uma festa de aniversário de Peter, e pouco tempo para a profundar a descoberta dos poderes vampirescos pelos irmãos adolescentes ou aos motivos da paranoia do personagem Jared (Shaun Parkes), que ficam bastante gratuito e, quando explicado, é atropelado pelos eventos subsequentes. Por fim, em vez de apresentar um filme sobre vampiros, ‘Os Radley’ acaba sendo um filme sobre uma família de classe média mediana, bem padrão, com um casal em crise no matrimônio, uma adolescente aborrecente e um jovem entendendo seus próprios hormônios – e que, por acaso, são vampiros, como poderiam ser, sei lá, imigrantes.
Sem quase nada de terror e sangue, ‘Os Radley’ é um drama britânico que adiciona o elemento vampiresco para falar de questões do cotidiano.
Assista:
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