domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Os Rejeitados: Alexander Payne torna o comum em extraordinário em excelente dramédia natalina

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Na época mais acalentadora e aconchegante do ano, um gélido inverno chega como um choque térmico, um contraste entre como a época natalina deveria ser e como ela de fato acaba se tornando. Diante de coros de canções religiosas que celebram o nascimento de Cristo, Os Rejeitados se abre para nós audiência sem nos preparar para a experiência que se inicia. Paul Giamatti surge na tela, com aquele mesmo ar cansado e frustrado de Sideways – Entre umas e Outras. Cercado por um estilo de vida pouco atraente, mas prático e funcional, ele é uma vez mais o protagonista atípico que não escolheríamos, tão pouco desejaríamos. Mas nunca nos atraímos tanto a ele como aqui.



Estrábico, Paul é um professor de História Antiga no início dos anos 70, de um internato voltado para meninos, localizado nos arredores de Boston. Com a missão de conduzir os poucos alunos incapazes de passarem as festas de fim de ano com suas famílias, ele é condecorado com a péssima obrigação docente de tutelá-los até o reinício das aulas. Os “Holdovers”, os remanescentes – como o título original do filme sugere -, são poucos e aleatórios adolescentes de faixas etárias diferentes, vindos de contextos financeiros privilegiados e com pouca noção da penosa realidade externa. 

Eventualmente eles são reduzidos a apenas um: Angus Tully (Dominic Sessa). Completamente abandonado por sua família e deixado para trás pelos demais colegas que conseguem uma carona nas festas de fim de ano de um deles, ele se vê forçado a passar suas próximas duas semanas festivas com seu maior algoz e ao lado da chefe de cantina, Mary Lamb, viúva antes de casar e mais uma vez de luto, dessa vez pela morte de seu jovem filho. E é nesse cenário tão caótico e deprimente que o comum se torna extraordinário. Entre frustrações pessoais, desejos jamais realizados e coincidências infelizes, Alexander Payne faz de Os Rejeitados um de seus filmes mais lindos e apaixonantes.

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Transitando entre o drama e a comédia com a leveza e fluidez de um exímio contador de histórias, ele nos envolve em uma trama quente, intimista e profundamente catártica sobre vida, crescimento, amadurecimento, solidão, solitude e família. Com protagonistas tão díspares, distantes uns dos outros em contextos pessoais, mas tão próximos emocionalmente, Os Rejeitados é uma ode aos underdogs da vida cotidiana, uma celebração aos que sofrem calados, aos abandonados pelas escolhas alheias que inevitavelmente os afetam e aos sofridos de coração partido – seja qual for o motivo. 

Com uma direção característica de zooms rápidos e cortes mais secos, Os Rejeitados é Alexander Payne no auge de sua criatividade artística. Flertando com seus melhores trabalhos do passado, Os Descendentes e Sideways, o longa é uma experiência cinematográfica inadvertida. Inicialmente sem sabermos muito bem o que esperar, a produção é um convite a um pequeno e tão valioso recorte da vida de três protagonistas atípicos e pouco dejesáveis em termos cinematográficos. Mas tão bem construídos e alinhavados, eles são a essência de uma comédia dramática poderosa, bem escrita e absolutamente hipnotizante.

Aqui, Giamatti mostra mais uma faceta de seu talento como aquele homem cético, verborrágico e pedante. Nada atraente e extremamente frustrado e frustrante, ele consegue carregar um carisma inigualável – mérito de sua belíssima performance em tela. Transformando o roteiro assinado por David Hemingson em uma oportunidade criativa pessoal valiosa, ele brilha em tela, nos cativa, nos move e nos comove. Da’Vine Joy Randolph e sua invariável tristeza agregam a dramaticidade necessária ao filme. Como uma espécie de pêndulo que direciona o humor do longa em pontos chave, ela é um elo de conexão poderoso entre Paul e Angus. E Dominic Sessa fecha o trio como o revoltado aluno com síndrome de abandono, deixado no Natal e no Ano Novo por uma mãe distraída e egocêntrica.

Juntos, eles tornam a obra de Alexander Payne em uma dramédia natalina às avessas, onde o tradicional visco não pauta momentos românticos e a magia e as luzes de Natal não resplandecem nos olhos de seus personagens. Realista como alguns dos momentos mais dolorosos da experiência humana na Terra, o longa é a expressão máxima da arte de encontrar a beleza em meio à dor, à ausência e à quietude de um inverno talvez mais solitário e menos festivo. Engraçado quando menos se espera e delicado por essência, Os Rejeitados é a combinação entre a doçura e o amargor da vida cotidiana. Transformando o comum em extraordinário, o filme é uma reflexão sobre como há beleza no feio, no soturno e no ignorado. Atraindo nossos olhos para aquilo que menos chamaria a nossa atenção, essa talvez seja uma das pérolas mais valiosas de 2023.

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Na época mais acalentadora e aconchegante do ano, um gélido inverno chega como um choque térmico, um contraste entre como a época natalina deveria ser e como ela de fato acaba se tornando. Diante de coros de canções religiosas que celebram o nascimento de Cristo, Os Rejeitados se abre para nós audiência sem nos preparar para a experiência que se inicia. Paul Giamatti surge na tela, com aquele mesmo ar cansado e frustrado de Sideways – Entre umas e Outras. Cercado por um estilo de vida pouco atraente, mas prático e funcional, ele é uma vez mais o protagonista atípico que não escolheríamos, tão pouco desejaríamos. Mas nunca nos atraímos tanto a ele como aqui.

Estrábico, Paul é um professor de História Antiga no início dos anos 70, de um internato voltado para meninos, localizado nos arredores de Boston. Com a missão de conduzir os poucos alunos incapazes de passarem as festas de fim de ano com suas famílias, ele é condecorado com a péssima obrigação docente de tutelá-los até o reinício das aulas. Os “Holdovers”, os remanescentes – como o título original do filme sugere -, são poucos e aleatórios adolescentes de faixas etárias diferentes, vindos de contextos financeiros privilegiados e com pouca noção da penosa realidade externa. 

Eventualmente eles são reduzidos a apenas um: Angus Tully (Dominic Sessa). Completamente abandonado por sua família e deixado para trás pelos demais colegas que conseguem uma carona nas festas de fim de ano de um deles, ele se vê forçado a passar suas próximas duas semanas festivas com seu maior algoz e ao lado da chefe de cantina, Mary Lamb, viúva antes de casar e mais uma vez de luto, dessa vez pela morte de seu jovem filho. E é nesse cenário tão caótico e deprimente que o comum se torna extraordinário. Entre frustrações pessoais, desejos jamais realizados e coincidências infelizes, Alexander Payne faz de Os Rejeitados um de seus filmes mais lindos e apaixonantes.

Transitando entre o drama e a comédia com a leveza e fluidez de um exímio contador de histórias, ele nos envolve em uma trama quente, intimista e profundamente catártica sobre vida, crescimento, amadurecimento, solidão, solitude e família. Com protagonistas tão díspares, distantes uns dos outros em contextos pessoais, mas tão próximos emocionalmente, Os Rejeitados é uma ode aos underdogs da vida cotidiana, uma celebração aos que sofrem calados, aos abandonados pelas escolhas alheias que inevitavelmente os afetam e aos sofridos de coração partido – seja qual for o motivo. 

Com uma direção característica de zooms rápidos e cortes mais secos, Os Rejeitados é Alexander Payne no auge de sua criatividade artística. Flertando com seus melhores trabalhos do passado, Os Descendentes e Sideways, o longa é uma experiência cinematográfica inadvertida. Inicialmente sem sabermos muito bem o que esperar, a produção é um convite a um pequeno e tão valioso recorte da vida de três protagonistas atípicos e pouco dejesáveis em termos cinematográficos. Mas tão bem construídos e alinhavados, eles são a essência de uma comédia dramática poderosa, bem escrita e absolutamente hipnotizante.

Aqui, Giamatti mostra mais uma faceta de seu talento como aquele homem cético, verborrágico e pedante. Nada atraente e extremamente frustrado e frustrante, ele consegue carregar um carisma inigualável – mérito de sua belíssima performance em tela. Transformando o roteiro assinado por David Hemingson em uma oportunidade criativa pessoal valiosa, ele brilha em tela, nos cativa, nos move e nos comove. Da’Vine Joy Randolph e sua invariável tristeza agregam a dramaticidade necessária ao filme. Como uma espécie de pêndulo que direciona o humor do longa em pontos chave, ela é um elo de conexão poderoso entre Paul e Angus. E Dominic Sessa fecha o trio como o revoltado aluno com síndrome de abandono, deixado no Natal e no Ano Novo por uma mãe distraída e egocêntrica.

Juntos, eles tornam a obra de Alexander Payne em uma dramédia natalina às avessas, onde o tradicional visco não pauta momentos românticos e a magia e as luzes de Natal não resplandecem nos olhos de seus personagens. Realista como alguns dos momentos mais dolorosos da experiência humana na Terra, o longa é a expressão máxima da arte de encontrar a beleza em meio à dor, à ausência e à quietude de um inverno talvez mais solitário e menos festivo. Engraçado quando menos se espera e delicado por essência, Os Rejeitados é a combinação entre a doçura e o amargor da vida cotidiana. Transformando o comum em extraordinário, o filme é uma reflexão sobre como há beleza no feio, no soturno e no ignorado. Atraindo nossos olhos para aquilo que menos chamaria a nossa atenção, essa talvez seja uma das pérolas mais valiosas de 2023.

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