As séries de ficção científica sempre atraíram grupos de fãs tanto pelo tema em si quanto pelas teorias conspiratórias. Vamos combinar que é intrigante acompanhar um produto audiovisual em que você pode sentar e debater por horas diversas teorias diferentes sobre os motivos pelos quais tais situações estarem acontecendo ou sobre como tudo aquilo irá se resolver. O problema reside, entretanto, na incapacidade de desenvolver um roteiro que consiga prender do início ao fim, afinal, não são muitas das produções que alcançam esse feito.
Outra Vida, série original Netflix que teve sua estreia no final do mês passado, escrita por Aaron Martin (Being Erica), traz a história da astronauta Nick Breckenridge (Katee Sackhoff) – que precisa se reunir a uma equipe jovem para retornar ao espaço em busca de respostas sobre um artefato que pousou na Terra há seis meses e até então não realizou nenhum tipo de contato com os humanos.
A dramaturgia recheada de ficção científica e teorias conspiratórias possui um roteiro que a princípio convence o telespectador a continuar querendo saber o que mais vem por aí. Entretanto, com o passar dos primeiros episódios, fica evidente que a história não apresenta nada essencialmente novo e não se encaminha para lugar algum. É como se estivéssemos vendo o mesmo plot em que a protagonista e sua equipe se desentendem e encontram algum problema que pode acabar com a missão como um todo. É a mesma sequência de fatos repetidas por capítulos seguidos apenas mudando o motivo da briga e a situação.
A produção, por um tempo, irá prender sua atenção, contudo, ao longo do capítulos, a trama se torna cansativa, repetitiva, sendo os cliffhangers ao final de cada episódio o único motivo para alguém continuar assistindo. É um looping que somente finaliza ao final do décimo capítulo da primeira temporada, que também termina com um gancho numa tentativa frustrada de prender o espectador para a próxima etapa, se é que ainda terá uma.
Outro ponto prejudicial para a série de TV está na construção dos personagens, afinal, somente a protagonista e o holograma William (Samuel Anderson) possuem uma relação convincente, além de serem interessantes e transmitirem realismo devido a suas complexidades. Entretanto, o restante da equipe a bordo da nave é tipicamente boring, além de mostrarem somente camadas superficiais como se não existisse mais para ver deles, inclusive, é tão forte essa parte de não criarem empatia com o público que se torna difícil memorizar os nomes e saber quem é quem.
August Catawnee (Blu Hunt), Bernie Martinez (A.J. Rivera), Sasha Harrison (Jake Abel), Oliver Sokolov (Alex Ozerov), Javier Almanzar (Alexander Eling), entre outros, são todos parte deste pacote de personagens entediantes. Quanto ao marido de Nick, Erik Wallace (Justin Chatwin), cujo papel é fundamental nos avanços das descobertas na Terra, entra também no meio desses que não acrescentam muito nem em atuação, nem em construção do mesmo. Só para ter uma ideia, William, que é um holograma, tem mais química com a personagem de Katee e mais camadas que o mesmo.
No quesito técnico a produção não apresenta grandes transformações em direção, somente o básico que o telespectador já está acostumado a conferir em séries de ficção científica. A trilha sonora não acrescenta em nada, muito menos é marcante, e a arte trabalha com aquilo que o roteiro pede, nada muito surpreendente. Não vá esperando grandes transformações e diferenciais.
No geral, Outra Vida é uma série mediana, sem muito a acrescentar na vida do espectador e sustentada pela construção e atuação da protagonista e do holograma William. É uma história que te fará passar raiva depois de conferir dez episódios.