quinta-feira, abril 18, 2024

Crítica | Paddleton – Dramédia da Netflix aborda bromance em meio a doença terminal

Os contrastes e dissabores da vida encontram na comédia dramática o equilíbrio ideal para a construção de uma narrativa. Divagando entre o hilário, o trágico e todos os demais tons entre esses extremos, produções do gênero – quando bem escritas – são um extrato genuíno da arte de viver. Nem sempre tão deprê e nem tudo apenas flores, nossas jornadas são permeadas por um pouco de tudo. Essa simplicidade, que de fato é mais profunda do que se sugere, rende produções únicas à sua maneira. Paddleton, o novo longa da Netflix, traz em sua essência essas intermitências da vida, a partir de uma maravilhosa amizade no estilo bromance, linda de se testemunhar nas telas.

Na dramédia, Mark Duplass e Ray Romano são dois vizinhos que descobrem em si uma amizade genuína. Um tanto incomuns, ambos são como caricaturas peculiares da vida humana. Quando um deles é diagnosticado com câncer terminal, esse estranho bromance ganha uma trágica reviravolta, eclodindo em uma viagem final que visa consagrar a bela e diferente relação da dupla, antes do já anunciado fim de jornada de um deles. Dirigido por Alex Lehman e co-escrito por ele e Duplass, o longa é um retrato dos últimos instantes de dois amigos difíceis de se imaginar um sem o outro.

Com um roteiro que foge os padrões e formatos tradicionais, Paddleton nos cativa, primeiramente, por sua construção criativa. Estruturada à base de improvisos, a produção conta com um esqueleto, que seria uma espécie de bússola, e segue a partir disso para uma sucessão de cenas feitas com naturalidade. Trazendo o estilo comum da comédia para o centro do drama, o longa da Netflix passa num piscar de olhos, levando a audiência a testemunhar de perto a inusitada aventura de dois amigos que, embora tenham que se despedir, não conseguem achar meios para tal.

O improviso se faz presente em praticamente tudo. Em diálogos e monólogos neuróticos de Ray, percorrendo também o desenrolar das cenas. Com um norte para seguir e a leveza de quem pode criar a partir do que já fora pensado, Duplass e Romano se completam na tela, em uma dinâmica relacional genuína, autêntica e realista. Aqui, a trama gira em torno de suas respectivas caracterizações, simples, mas muito bem consolidadas. Entre conversas sobre a vida após a morte e o desejo de tirar a areia da praia do corpo, Paddleton nos entrega um humor leve e irônico, majoritariamente oriundo do comediante criador de Everybody Loves Raymond. Interpretando ele mesmo com tranquilidade, rimos de suas neuroses, jeitão metódico e TOCs.

Um deleite para os olhos e ouvidos, Romano é a cereja desse bolo, fazendo do estilo irritado e cheio de melindres os motivos das nossas principais gargalhadas. Deixando ele brilhar em cena, Duplass complementa o seu humor, com um personagem sensato que, embora queira fugir da morte, não consegue evitar caminhar em direção a ela. E com uma direção simples, Paddleton se firma como uma crônica sobre a amizade verdadeira. Sem encher a trama de firulas e confetes desnecessários, a comédia dramática é pura e simplesmente sobre duas pessoas enfrentando o momento mais difícil de suas vidas – por dois ângulos distintos.

Prazeroso, o filme ainda conta com um figurino que já se apresenta como uma piada. Com peças peculiares e cafonas, o visual dos protagonistas é formatado de maneira inusitada, com estampas que não casam entre si e moletons temáticos, que só salientam ainda mais as características das personalidades de ambos. Como um instrumento de narrativa visual, o design é uma extensão desse roteiro de improvisos. Embora nada seja obviamente dito, tudo é muito bem compreendido com naturalidade. E assim, Paddleton se torna uma surpresa agradável da Netflix, emocionando nas extremidades, com um humor que rende gargalhadas e um choro amargo, que insiste em se dissolver em lágrimas com um simbólico e forte final.

 

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