quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Palmer – Justin Timberlake estrela sensível drama sobre identidade de gênero na Apple TV+

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Com a enxurrada de estreias diárias nas plataformas de aluguel sob demanda no Brasil, nós, meros espectadores, por vezes deixamos passar alguns bons filmes, que chegam na surdina, sem barulho, e que acabam sendo ocultados por lançamentos de maior peso. É o caso de ‘Palmer’, filme lançado este ano aos assinantes da Apple TV+.



Palmer (Justin Timberlake) acabou de sair da prisão, após doze anos de confinamento. Ele está tentando dar jeito na sua vida, por isso vai morar com a avó, Vivian (June Squibb), na sua cidade natal no interior dos Estados Unidos. Mas logo de cara percebe que a avó tem uma relação curiosa com o filho pequeno de sua vizinha, e passa a maior parte do tempo cuidando do pequeno Sam (Ryder Allen). Aos poucos, Palmer começa a notar que o menino tem uma percepção de mundo diferente da dele, e, sem que consiga se dar conta, aos poucos os dois vão criando um laço de amizade profunda. Porém, Sam é filho de Shelly (Juno Temple), uma viciada em drogas que desapareceu há um tempo, mas que pode voltar a qualquer instante e reivindicar o filho de volta.

Numa primeira olhada, nos trinta minutos iniciais de ‘Palmer’, temos a impressão de que o filme é mais um desses que conta a história do pobre menino branco injustiçado na vida. Entretanto, após a reviravolta na trama, o roteiro de Cheryl Guerriero vai sutilmente reconfigurando sua trama para o verdadeiro foco do longa: o embate entre o homem másculo e sua redenção ao afeto de uma criança, que, por sua vez, explicitamente busca sua identidade de gênero. Ao construir esses dois mundos opostos – o adulto, brucutu, ex-detento, com um menino doce, delicado e amoroso –, ‘Palmer’ convida o espectador a repensar as estruturas sociais que nos fazem aceitar como certo apenas o sistema binário homem-mulher, sem interseção, e repensar a toxicidade a que os meninos e homens são submetidos por conta de uma sociedade que exige deles o papel de macho dominante.

A direção de Fisher Stevens se adapta à transformação de seu protagonista: no início, sua câmera foca nessa adaptação de Palmer ao novo espaço – ele e a casa, ele e a liberdade noturna; em seguida, a câmera se concentra no rosto de Justin Timberlake, suas inquietações e dúvidas diante das desconfianças que vai surgindo em sua cabeça, sem nunca expressá-las verbalmente. Através de Palmer, nos deparamos com a questão de gênero sem nem estarmos preparados, e, junto com ele, vamos pensando alternativas  mais afetuosas para incluir essas outras possibilidades não-binárias nas comunidades nas quais estamos inseridos.

Palmer’ é um filme sensível que não carrega demasiado no drama e encontra um bom equilíbrio entre abordagem de pauta importante sem cair no didatismo. Com um Justin Timberlake firme e bem no papel, ‘Palmer’ é uma pequena joia escondida no catálogo da Apple TV+.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Palmer (Justin Timberlake) acabou de sair da prisão, após doze anos de confinamento. Ele está tentando dar jeito na sua vida, por isso vai morar com a avó, Vivian (June Squibb), na sua cidade natal no interior dos Estados Unidos. Mas logo de cara percebe que a avó tem uma relação curiosa com o filho pequeno de sua vizinha, e passa a maior parte do tempo cuidando do pequeno Sam (Ryder Allen). Aos poucos, Palmer começa a notar que o menino tem uma percepção de mundo diferente da dele, e, sem que consiga se dar conta, aos poucos os dois vão criando um laço de amizade profunda. Porém, Sam é filho de Shelly (Juno Temple), uma viciada em drogas que desapareceu há um tempo, mas que pode voltar a qualquer instante e reivindicar o filho de volta.

Numa primeira olhada, nos trinta minutos iniciais de ‘Palmer’, temos a impressão de que o filme é mais um desses que conta a história do pobre menino branco injustiçado na vida. Entretanto, após a reviravolta na trama, o roteiro de Cheryl Guerriero vai sutilmente reconfigurando sua trama para o verdadeiro foco do longa: o embate entre o homem másculo e sua redenção ao afeto de uma criança, que, por sua vez, explicitamente busca sua identidade de gênero. Ao construir esses dois mundos opostos – o adulto, brucutu, ex-detento, com um menino doce, delicado e amoroso –, ‘Palmer’ convida o espectador a repensar as estruturas sociais que nos fazem aceitar como certo apenas o sistema binário homem-mulher, sem interseção, e repensar a toxicidade a que os meninos e homens são submetidos por conta de uma sociedade que exige deles o papel de macho dominante.

A direção de Fisher Stevens se adapta à transformação de seu protagonista: no início, sua câmera foca nessa adaptação de Palmer ao novo espaço – ele e a casa, ele e a liberdade noturna; em seguida, a câmera se concentra no rosto de Justin Timberlake, suas inquietações e dúvidas diante das desconfianças que vai surgindo em sua cabeça, sem nunca expressá-las verbalmente. Através de Palmer, nos deparamos com a questão de gênero sem nem estarmos preparados, e, junto com ele, vamos pensando alternativas  mais afetuosas para incluir essas outras possibilidades não-binárias nas comunidades nas quais estamos inseridos.

Palmer’ é um filme sensível que não carrega demasiado no drama e encontra um bom equilíbrio entre abordagem de pauta importante sem cair no didatismo. Com um Justin Timberlake firme e bem no papel, ‘Palmer’ é uma pequena joia escondida no catálogo da Apple TV+.

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