sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | Papillon – Charlie Hunnam e Rami Malek no remake do clássico 70´s

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Um Sonho de Liberdade

Estreando no Brasil um ano após sua primeira exibição no mundo – durante o Festival de Toronto 2017 – Papillon é a refilmagem do clássico homônimo de 1973, escrito pelo icônico Dalton Trumbo, dirigido por Franklin J. Schaffner (O Planeta dos Macacos, 1968) e estrelado por Steve McQueen e Dustin Hoffman. Antes disso, porém, Papillon foi um livro (relançado agora com o novo filme) escrito pelo próprio Henri ‘Papillon’ Charrière sobre sua vida.

O estranhamento inicial a ser ultrapassado é o fato desta história ter ocorrido na França e tanto aqui quanto na versão original termos atores falando inglês fluente, sem sotaque, mas se passando por cidadãos do citado país. É a magia do cinema de Hollywood, na qual o inglês é o idioma oficial de qualquer nação em uma produção mirada a uma venda pelo mundo e, especialmente, é claro, nos EUA. Uma vez passada esta irregularidade – e ela some rápido em nossas mentes -, é fácil abraçar o novo projeto.



Falecido em 1973 – ou seja, no mesmo ano de lançamento da versão cinematográfica de sua história -, Charrière é descrito na nova produção como um golpista, arrombador de cofres, vivendo no submundo da Paris da década de 1930. Devido às companhias que mantinha com gangsteres e afins, logo se torna bode expiatório, sendo acusado de um assassinato que não cometeu. O sujeito é encarcerado e enviado para uma prisão da Guiana Francesa localizada em uma ilha. No local, o sujeito vive um verdadeiro inferno e começa a planejar sua fuga.

A nova investida na biografia é capitaneada pelo dinamarquês Michael Noer, com roteiro de Aaron Guzikowski (Os Suspeitos, 2013), e não perde tempo em se revelar dona de uma narrativa dinâmica e moderna. Esta leitura acerta de cara ao evitar os maneirismos do cinema hollywoodiano atual, ou seja, nada de atropelos, edição e montagem frenéticas ou qualquer trejeito adquirido da era dos videoclipes da MTV. Este é um forte exemplar do cinema adulto de entretenimento que ainda resiste à extinção.

Podemos perceber a proposta de Noer já na cena em que o protagonista é transferido para a ilha onde ficará preso por muitos anos. Sem que percebamos por completo que se trata de um transporte num barco, o diretor já estabelece as regras do pior lugar do mundo, onde nenhum de nós desejaria estar. Neste pequeno segmento, o cineasta define as ameaças, cria situações aparentemente sem escapatória, desenvolve seus personagens à base da ação (e deixa seus atores se assentarem neles), cria elos entre eles e subverte o esperado através do triunfo inimaginado.

Papillon é um digno herdeiro da versão original e do livro. Noer realiza um trabalho chamativo, imponente e suntuoso – sem nunca apelar ao pretensiosismo ou a afetações artísticas. Seu filme é simples, mas recheado das melhores qualidades que fizeram de Hollywood a maior indústria do cinema mundial: a mescla exata, na medida certa, entre entretenimento (aqui, diversão adulta) e subtexto o suficiente para nos fazer refletir a cada entrelinha.

O ator Charlie Hunnam ainda não conseguiu exatamente emplacar como astro em sua carreira – apesar de ter protagonizado diversos trabalhos de qualidade. Aqui, na pele do francês Papillon, Hunnam entrega mais uma performance encorpada, misturando sua silhueta de galã (bem parecido fisicamente com Daniel Craig aqui) com a truculência de um prisioneiro que não aceita desaforo. O ator exibe boa forma em sua interpretação dramática, demonstrando que está apto a desafios maiores, dando mais um passo em sua filmografia. Por outro lado, Rami Malek, que interpreta o protegido fiel do protagonista, o frágil Louis Dega, não atinge a nota necessária, permanecendo fora de tom em alguns momentos chave.

De forma geral, o novo Papillon é uma aula de como uma refilmagem deve ser. Tudo bem que muitos irão afirmar que a fonte aqui é o livro e não o filme original. Para este argumento, deve-se enfatizar que o roteiro do longa de 1973 foi igualmente utilizado como material base. Seja como for, Papillon permanece como libelo à liberdade e ao espírito humano inquebrável, fazendo uma boa dobradinha com o recente Uma Noite de 12 Anos, produção sul-americana de Álvaro Brechner. O pesadelo do cárcere como denúncia e a força perseverante da vontade humana são temas atemporais e indispensáveis, que vira e mexe se reciclam para novas audiências, mas nunca sairão de pauta.

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O estranhamento inicial a ser ultrapassado é o fato desta história ter ocorrido na França e tanto aqui quanto na versão original termos atores falando inglês fluente, sem sotaque, mas se passando por cidadãos do citado país. É a magia do cinema de Hollywood, na qual o inglês é o idioma oficial de qualquer nação em uma produção mirada a uma venda pelo mundo e, especialmente, é claro, nos EUA. Uma vez passada esta irregularidade – e ela some rápido em nossas mentes -, é fácil abraçar o novo projeto.

Falecido em 1973 – ou seja, no mesmo ano de lançamento da versão cinematográfica de sua história -, Charrière é descrito na nova produção como um golpista, arrombador de cofres, vivendo no submundo da Paris da década de 1930. Devido às companhias que mantinha com gangsteres e afins, logo se torna bode expiatório, sendo acusado de um assassinato que não cometeu. O sujeito é encarcerado e enviado para uma prisão da Guiana Francesa localizada em uma ilha. No local, o sujeito vive um verdadeiro inferno e começa a planejar sua fuga.

A nova investida na biografia é capitaneada pelo dinamarquês Michael Noer, com roteiro de Aaron Guzikowski (Os Suspeitos, 2013), e não perde tempo em se revelar dona de uma narrativa dinâmica e moderna. Esta leitura acerta de cara ao evitar os maneirismos do cinema hollywoodiano atual, ou seja, nada de atropelos, edição e montagem frenéticas ou qualquer trejeito adquirido da era dos videoclipes da MTV. Este é um forte exemplar do cinema adulto de entretenimento que ainda resiste à extinção.

Podemos perceber a proposta de Noer já na cena em que o protagonista é transferido para a ilha onde ficará preso por muitos anos. Sem que percebamos por completo que se trata de um transporte num barco, o diretor já estabelece as regras do pior lugar do mundo, onde nenhum de nós desejaria estar. Neste pequeno segmento, o cineasta define as ameaças, cria situações aparentemente sem escapatória, desenvolve seus personagens à base da ação (e deixa seus atores se assentarem neles), cria elos entre eles e subverte o esperado através do triunfo inimaginado.

Papillon é um digno herdeiro da versão original e do livro. Noer realiza um trabalho chamativo, imponente e suntuoso – sem nunca apelar ao pretensiosismo ou a afetações artísticas. Seu filme é simples, mas recheado das melhores qualidades que fizeram de Hollywood a maior indústria do cinema mundial: a mescla exata, na medida certa, entre entretenimento (aqui, diversão adulta) e subtexto o suficiente para nos fazer refletir a cada entrelinha.

O ator Charlie Hunnam ainda não conseguiu exatamente emplacar como astro em sua carreira – apesar de ter protagonizado diversos trabalhos de qualidade. Aqui, na pele do francês Papillon, Hunnam entrega mais uma performance encorpada, misturando sua silhueta de galã (bem parecido fisicamente com Daniel Craig aqui) com a truculência de um prisioneiro que não aceita desaforo. O ator exibe boa forma em sua interpretação dramática, demonstrando que está apto a desafios maiores, dando mais um passo em sua filmografia. Por outro lado, Rami Malek, que interpreta o protegido fiel do protagonista, o frágil Louis Dega, não atinge a nota necessária, permanecendo fora de tom em alguns momentos chave.

De forma geral, o novo Papillon é uma aula de como uma refilmagem deve ser. Tudo bem que muitos irão afirmar que a fonte aqui é o livro e não o filme original. Para este argumento, deve-se enfatizar que o roteiro do longa de 1973 foi igualmente utilizado como material base. Seja como for, Papillon permanece como libelo à liberdade e ao espírito humano inquebrável, fazendo uma boa dobradinha com o recente Uma Noite de 12 Anos, produção sul-americana de Álvaro Brechner. O pesadelo do cárcere como denúncia e a força perseverante da vontade humana são temas atemporais e indispensáveis, que vira e mexe se reciclam para novas audiências, mas nunca sairão de pauta.

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