Carlos José Fontes Diegues. Esse é o nome de um dos grandes cineastas brasileiros de todos os tempos, que nos deixou em fevereiro desse ano. Responsável por clássicos do cinema nacional, como ‘Xica da Silva’, ‘Tieta do Agreste’, ‘Bye Bye Brasil’ e ‘Deus é Brasileiro’, o diretor e roteirista ganhou um emocionante documentário, pelas mãos do também diretor Lírio Ferreira, sob o título ‘Para Vigo Me Voy!’, que teve exibições antecipadas em diversos festivais pelo país ao longo desse ano e estreia mundial no Festival de Cannes.

Escrito pelo próprio Lírio Ferreira, o documentário passeia por alguns momentos-chave da trajetória de Cacá: faz um panorama sobre suas obras mais impactantes, apresenta bastidores do último filme de Cacá (o ainda inédito ‘Deus Ainda é Brasileiro’), usa entrevistas dadas por ele no passado para costurar os temas que permearam sua obra – tudo isso intercalado por uma mega festa em sua residência, onde podemos observar a presença de incontáveis artistas de todas as áreas, comprovando o quão querido o diretor era pela classe.
A dedicação empregada no trabalho de garimpo do material de acervo se reflete no resultado do que vemos: de uma maneira bem didática, o roteiro pacientemente explica a importância do biografado para o espectador (para o eventual caso de alguém não saber quem Cacá Diegues seja), exibindo diversas entrevistas dadas pelo diretor na época da formação do Cinema Novo, onde já então o diretor apontada a direção dos seus filmes e como ele enxergava o país (que, à época, enfrentava os anos de chumbo da ditadura).
Na tecitura do longa, é de suma importância a ilustração dos filmes que mais se destacaram na carreira do diretor – e, nesse sentido, é prazeroso (re)ver José Wilker em cena, falando a célebre frase ‘Para Vigo Me Voy!’ – título do documentário; ainda que não explicado ao espectador, fica evidente que para falar de um criador de filmes, é preciso usar a linguagem cinematográfica.

É muito gostoso também ver as imagens de bastidores de ‘Deus Ainda é Brasileiro’ com Antônio Fagundes em cena. Mesmo que não podendo mostrar muita coisa, ao ver Cacá ali, no comando, em ação na direção, somos lembrados de que seu legado permanece, para além dos filmes prontos.
A maneira carinhosa com que o diretor Lírio Ferreira e a montadora Karen Harley juntam o passado e o presente para construir um filme de afeto imprime na telona através dos depoimentos e gestos, tanto de Cacá quanto de outros personagens, como sua esposa Renata Magalhães; vê-los no cotidiano, com tanto carinho, faz o espectador se sentir parte da família.
Com uma hora e trinta e sete de duração, ‘Para Vigo Me Voy!’ é, segundo palavras próprias, uma viagem cinematográfica pela obra do biografado. E, para isso, presta-se muito mais ao processo da viagem em si do que em relatar pormenores da vida do biografado, resultando, portanto, num documentário muito mais inclinado a mostrar o cineasta Cacá Diegues do que os detalhes da vida civil do Carlos Diegues. Por isso mesmo, ‘Para Vigo Me Voy!’ é obra fundamental a todos os estudantes e profissionais do cinema brasileiro. Para ficar de olho quando entrar no circuito em 2026.
