sexta-feira , 15 novembro , 2024

Crítica | Passages: Apelativo, drama desperdiça talento e carisma de Ben Whishaw

Filme assistido durante o Festival de Sundance 2023

Sob o negrume de um ambiente pouco iluminado, Franz Rogowski é como um chama fugaz, que rapidamente perde seu brilho e seu encanto. Sempre acima de tudo e de todos, ele perambula pelos lugares com um olhar sagaz, dominando pessoas dentro e fora das telas. Um diretor de cinema exigente e diligente, ele opera de forma fria em qualquer contexto. E embora seu negócio seja movido à base das mais profundas emoções, seu particular modus operandi é seco, frívolo. Seu narcisismo sufocante é irremediável, tanto para os demais protagonistas, como para nós, audiência. E assim, Passages, novo filme de Ira Sachs, se desdobra a fim de entregar uma análise por proximidade do caráter humano. Mas sem o mesmo carisma de A Pior Pessoa do Mundo, o drama é apenas um retrato inacabado de um romance que pouco nos interessa.



As intenções até que são boas e existe uma certa urgência no roteiro de Sachs e Mauricio Zacharias, que facilmente nos convidaria a uma epifania de reflexões sobre as relações amorosas na contemporaneidade. Mas Passages, como seu próprio título, é efêmero em absolutamente tudo. Forçando a sexualização de seus personagens, sem se preocupar em entregar uma trama mais substancial, o longa europeu – que é dirigido por um americano -, se perde em sua própria proposta. Entregando figuras nada carismáticas e rasas demais para sequer nos importarmos, o drama é um convite à objetificação do ser humano, sob a pecha de que estamos diante de uma análise intrínseca sob o narcisismo.

Mas perdendo a oportunidade de aprender com o belíssimo (e também europeu) A Pior Pessoa do Mundo, Sachs se equivoca ao achar que Rogowski e sua performance são suficientes para tornar Passages relevante. Apresentando um personagem intragável e detestável, o filme é incapaz de sustentar sua premissa, perdendo a nossa atenção rapidamente. E com seus coadjuvantes, vividos por Ben Whishaw e Adèle Exarchopoulos, tão rasos quanto o seu protagonista, o drama romântico nunca consegue genuinamente decolar. Soberbo em diversos aspectos, ele se escora na estética do cinema europeu na tentativa de que isso seja o bastante para tornar sua trama perene algo substancial. Mas obviamente, não consegue.

Desperdiçando o talento de Whishaw, o filme se torna cansativo em seus primeiros 20 minutos, seguindo por uma espiral decadente de repetições narrativas. E por não se aprofundar nos dilemas psicoemocionais do trio protagonista, Passages acaba por ficar no meio do caminho. Com exageradas cenas de sexo que mais prejudicam do que enobrecem a trama, o longa de Sachs é frustrante e beira o mal gostos. Aqui, discussões tão instigantes nunca chegam a acontecer, justamente pela falta de foco e tino da escrita do duo Sachs e Zacharia, o que é realmente uma pena.

Se furtando da rica oportunidade de escrever uma história de redenção ou até mesmo de responsabilização, o drama romântico se encerra sem um clímax convidativo e sem um desfecho memorável. Desgastando seus personagens, que sofrem tanto quanto nós, audiência, Passages é o cinema em seu estado medíocre, que se apropria de agendas políticas em voga para vulgarizar questões sérias e importantes, sem qualquer propósito. Desnecessário e irrelevante, a produção que teve sua estreia mundial no Festival de Sundance 2023 descarta o debate sobre relacionamentos tóxicos e abusivos dentro da comunidade LGBTQIA+, na tentativa de mais uma vez seguir pelo mesmo caminho da hipersexualidade que gradativamente tem deteriorado Hollywood.

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As intenções até que são boas e existe uma certa urgência no roteiro de Sachs e Mauricio Zacharias, que facilmente nos convidaria a uma epifania de reflexões sobre as relações amorosas na contemporaneidade. Mas Passages, como seu próprio título, é efêmero em absolutamente tudo. Forçando a sexualização de seus personagens, sem se preocupar em entregar uma trama mais substancial, o longa europeu – que é dirigido por um americano -, se perde em sua própria proposta. Entregando figuras nada carismáticas e rasas demais para sequer nos importarmos, o drama é um convite à objetificação do ser humano, sob a pecha de que estamos diante de uma análise intrínseca sob o narcisismo.

Mas perdendo a oportunidade de aprender com o belíssimo (e também europeu) A Pior Pessoa do Mundo, Sachs se equivoca ao achar que Rogowski e sua performance são suficientes para tornar Passages relevante. Apresentando um personagem intragável e detestável, o filme é incapaz de sustentar sua premissa, perdendo a nossa atenção rapidamente. E com seus coadjuvantes, vividos por Ben Whishaw e Adèle Exarchopoulos, tão rasos quanto o seu protagonista, o drama romântico nunca consegue genuinamente decolar. Soberbo em diversos aspectos, ele se escora na estética do cinema europeu na tentativa de que isso seja o bastante para tornar sua trama perene algo substancial. Mas obviamente, não consegue.

Desperdiçando o talento de Whishaw, o filme se torna cansativo em seus primeiros 20 minutos, seguindo por uma espiral decadente de repetições narrativas. E por não se aprofundar nos dilemas psicoemocionais do trio protagonista, Passages acaba por ficar no meio do caminho. Com exageradas cenas de sexo que mais prejudicam do que enobrecem a trama, o longa de Sachs é frustrante e beira o mal gostos. Aqui, discussões tão instigantes nunca chegam a acontecer, justamente pela falta de foco e tino da escrita do duo Sachs e Zacharia, o que é realmente uma pena.

Se furtando da rica oportunidade de escrever uma história de redenção ou até mesmo de responsabilização, o drama romântico se encerra sem um clímax convidativo e sem um desfecho memorável. Desgastando seus personagens, que sofrem tanto quanto nós, audiência, Passages é o cinema em seu estado medíocre, que se apropria de agendas políticas em voga para vulgarizar questões sérias e importantes, sem qualquer propósito. Desnecessário e irrelevante, a produção que teve sua estreia mundial no Festival de Sundance 2023 descarta o debate sobre relacionamentos tóxicos e abusivos dentro da comunidade LGBTQIA+, na tentativa de mais uma vez seguir pelo mesmo caminho da hipersexualidade que gradativamente tem deteriorado Hollywood.

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