quarta-feira , 12 março , 2025

Crítica | Paterson – novo filme do cult Jim Jarmusch


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Por: Julie Nunes

Para salvar retinas tão fatigadas

O cinema de Jim Jarmusch pode carregar diversos adjetivos, mas de todos os elementos com os quais já trabalhou, é provável que o tempo e suas possíveis formas visuais seja o mais eloquente, e o que cria ressonância em toda sua filmografia. Seus personagens carregam em suas ações a atmosfera singular do diretor, que foge dos lugares comuns para habitar um território aonde a situação aparentemente mais banal é percebida através de nuances e posições menos corriqueiras.



A obra anterior, Amantes Eternos (2013), é sem sombra de dúvida um notório exemplo de sua lupa temporal que, ao explorar a mítica do universo vampiro, trata das relações também reais e o seu sentido figurado é capaz de não apenas ampliar sua visão, mas também dar possibilidade de uma construção estética – essa que flerta com o moderno, o romântico e o barroco – inspirada e essencial para transparecer as sensações de afogamento daqueles personagens dentro da própria existência.

Paterson CinePOP

Em Paterson, conhecemos o motorista de ônibus e poeta chamado Paterson (Adam Driver) e sua esposa Laura (Golshifteh Farahani) que está em busca de seus sonhos e mais do que isso, saber quais são esses. Ao acompanharmos por meio de uma segmentação dada a partir dos dias de uma semana, de maneira bastante linear, entendemos que na vida desses personagens – e daqueles que os encontram – poucas mudanças ocorrem. E é sobre a recorrência da repetição dos dias, das buscas e da rotina que fala o longa, mas isso, visto e catalisado enquanto poesia.


Como quem já está tão habituado ao seu modo de vida, o personagem acorda, em um quase dia da marmota, sempre por volta do mesmo horário, sem sequer um despertador. Esse estado de engrenagem não é matéria de revolta e sim de observação, pois ali temos Paterson, o morador de Paterson (a cidade), que conduz um ônibus por Paterson, a cidade está nele e ele na cidade.

Paterson CinePOP1

Essa ideia de espelhamento entre elementos, à primeira vista iguais, mas cheios de distinções e relações, que transpassam o esperado, é inserida pelo nome do protagonista ser tão presente, por personagens gêmeos que surgem pontualmente e a poética presente na água. Tudo possui um outro, por exemplo, o casal Laura e Paterson, ambos se dividem entre possibilidades que os proporciona experiências de vida com as quais eles parecem se satisfazer. Para ele a poesia e a condução do ônibus, enquanto para ela, suas artes, a música e os cupcakes.

Assista também: 
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Jarmusch emprega o uso de grafismos e transparências visuais para compor esteticamente os espelhos e mergulhos na alma dos seus personagens, que repletos de si entregam em seus mais simples gestos uma singela sinceridade diante dos acontecimentos. O ritmo dos poemas existentes na trama abrem campo para o caminho dos múltiplos, porque sua sonoridade e tempo dão os espaços capazes de criar mais possibilidades, informações, ferramentas e expressões.

Paterson CinePOP2

Seu elenco impressiona na entrega que parece estar despida de qualquer máscara, mesmo que elas existam no trabalho de atuação em alguma medida, mas a forma com a qual transmitem suas essências dão a grandeza da fluidez orgânica e livre na qual o longa se baseia. Os sons, os espelhamentos e rimas estão no filme em muitos aspectos e por meio da trama se organizam criando uma poesia maior que é a obra completa.

Paterson CinePOP3

Em Paterson, os dias parecem se repetir sem grandes contornos ou mudanças, mas ainda assim somos muitos, ainda mais em planos mais complexos do que aquele universo, e admitir essa multiplicidade, abraçar vontades e espaços, não é uma tarefa tão simples. Quando a jovem poeta (Sterling Jerins) constata alguma graça no motorista de ônibus que gosta de poesia, Paterson se depara com a dificuldade de entender que não há hierarquia entre esses dois habitantes do seu ser.

Essa dualidade é brilhantemente colocada, quase que dissolvida ao final, pelo poema que diz “Você preferiria ser um peixe?”, inspirado na canção ‘Swinging On A Star’, que não fala sobre estarmos presos numa existência, mas na possibilidade de conseguirmos transcender a ela. Com belas imagens e uma sensibilidade narrativa comovente, Jarmusch reverbera o existencialismo em seu mais delicado trabalho.


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A obra anterior, Amantes Eternos (2013), é sem sombra de dúvida um notório exemplo de sua lupa temporal que, ao explorar a mítica do universo vampiro, trata das relações também reais e o seu sentido figurado é capaz de não apenas ampliar sua visão, mas também dar possibilidade de uma construção estética – essa que flerta com o moderno, o romântico e o barroco – inspirada e essencial para transparecer as sensações de afogamento daqueles personagens dentro da própria existência.

Paterson CinePOP

Em Paterson, conhecemos o motorista de ônibus e poeta chamado Paterson (Adam Driver) e sua esposa Laura (Golshifteh Farahani) que está em busca de seus sonhos e mais do que isso, saber quais são esses. Ao acompanharmos por meio de uma segmentação dada a partir dos dias de uma semana, de maneira bastante linear, entendemos que na vida desses personagens – e daqueles que os encontram – poucas mudanças ocorrem. E é sobre a recorrência da repetição dos dias, das buscas e da rotina que fala o longa, mas isso, visto e catalisado enquanto poesia.

Como quem já está tão habituado ao seu modo de vida, o personagem acorda, em um quase dia da marmota, sempre por volta do mesmo horário, sem sequer um despertador. Esse estado de engrenagem não é matéria de revolta e sim de observação, pois ali temos Paterson, o morador de Paterson (a cidade), que conduz um ônibus por Paterson, a cidade está nele e ele na cidade.

Paterson CinePOP1

Essa ideia de espelhamento entre elementos, à primeira vista iguais, mas cheios de distinções e relações, que transpassam o esperado, é inserida pelo nome do protagonista ser tão presente, por personagens gêmeos que surgem pontualmente e a poética presente na água. Tudo possui um outro, por exemplo, o casal Laura e Paterson, ambos se dividem entre possibilidades que os proporciona experiências de vida com as quais eles parecem se satisfazer. Para ele a poesia e a condução do ônibus, enquanto para ela, suas artes, a música e os cupcakes.

Jarmusch emprega o uso de grafismos e transparências visuais para compor esteticamente os espelhos e mergulhos na alma dos seus personagens, que repletos de si entregam em seus mais simples gestos uma singela sinceridade diante dos acontecimentos. O ritmo dos poemas existentes na trama abrem campo para o caminho dos múltiplos, porque sua sonoridade e tempo dão os espaços capazes de criar mais possibilidades, informações, ferramentas e expressões.

Paterson CinePOP2

Seu elenco impressiona na entrega que parece estar despida de qualquer máscara, mesmo que elas existam no trabalho de atuação em alguma medida, mas a forma com a qual transmitem suas essências dão a grandeza da fluidez orgânica e livre na qual o longa se baseia. Os sons, os espelhamentos e rimas estão no filme em muitos aspectos e por meio da trama se organizam criando uma poesia maior que é a obra completa.

Paterson CinePOP3

Em Paterson, os dias parecem se repetir sem grandes contornos ou mudanças, mas ainda assim somos muitos, ainda mais em planos mais complexos do que aquele universo, e admitir essa multiplicidade, abraçar vontades e espaços, não é uma tarefa tão simples. Quando a jovem poeta (Sterling Jerins) constata alguma graça no motorista de ônibus que gosta de poesia, Paterson se depara com a dificuldade de entender que não há hierarquia entre esses dois habitantes do seu ser.

Essa dualidade é brilhantemente colocada, quase que dissolvida ao final, pelo poema que diz “Você preferiria ser um peixe?”, inspirado na canção ‘Swinging On A Star’, que não fala sobre estarmos presos numa existência, mas na possibilidade de conseguirmos transcender a ela. Com belas imagens e uma sensibilidade narrativa comovente, Jarmusch reverbera o existencialismo em seu mais delicado trabalho.

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