Crítica | Paul Rudd e Jack Black estrelam o divertido e despretensioso meta-reboot de ‘Anaconda’

Há certos filmes que, ainda que não tenham se provado um sucesso de crítica e às vezes nem mesmo de público, se tornam clássicos cult inesperados que ganham expressiva apreciação por parte dos fãs com o passar dos anos. E esse foi o caso de Anaconda, thriller de ação e de aventura que chegou aos cinemas em 1997 e que trouxe nomes como Jennifer Lopez, Jon Voight e Ice Cube às telonas. Acompanhando um grupo de documentaristas que, em meio às filmagens na grandiosa Floresta Amazônica, se vê caçado pela gigantesca e mortal cobra que empresta seu nome ao título.

O longa-metragem logo se transformou em uma franquia que perdura até os dias de hoje – com o mais recente deles chegando aos cinemas nacionais no próximo dia 25 de dezembro (uma data curiosa para o lançamento, mas que oferece algo alternativo àqueles que não desejam assistir às costumeiras produções de fim de ano). Mas de não se enganem: Anaconda não é o que você imagina e funciona como uma despojada e insana história de comédia e aventura que constrói um universo metarreferencial recheado de easter eggs e participações especiais que reiteram a popularidade da narrativa original. E, apesar dos múltiplos deslizes, o projeto funciona dentro do esperado e não se levando a sério demais para se transformar em algo vergonhoso.

A nova versão é comandada por Tom Gormican, conhecido por seu trabalho na explosiva trama do subestimado ‘O Peso do Talento’ e no divertido ‘Um Tira da Pesada 4’, e é centrada em uma equipe cinematográfica que deseja recuperar um antigo sonho de infância e rodar um reboot do clássico Anaconda. Dessa forma, quando o ambicioso e sonhador Griff (Paul Rudd) consegue os direitos intelectuais da franquia, cabe a Doug (Jack Black) reunir seus amigos de longa data para uma viagem às terras brasileiras para começar a produção do filme – que incluem o avoado Kenny (Steve Zahn) e a adorável Claire (Thandiwe Newton).



Quando o grupo chega à Amazônia, eles se encontram com Ana Almeida (Daniela Melchior), que se apresenta como filha do capitão do barco que alugaram para as filmagens, e com o especialista em cobras Santiago Braga (Selton Mello), que empresta sua anaconda de estimação para servir como a antagonista titular do reboot. O problema é que as coisas não saem como o planejado e, em meio às conturbadas gravações, eles cruzam caminho com uma serpente gigantesca e perigosa que os caçará até que não sobre mais ninguém.

Como podemos ver, a narrativa acompanha de perto as incursões do filme original, mas mergulhando-a em uma hilária comédia de erros que não poupa esforços para uma metalinguagem incisiva e bastante categórica. Afinal, o esqueleto do projeto arquitetado por Gormican, que coassina o roteiro ao lado de Kevin Etten, já demonstra as camadas que serão exploradas em pouco menos de 100 minutos de tela: seja o fato de Griff e Doug liderarem uma equipe fílmica, seja com autocríticas pungentes que os próprios executivos da Sony Pictures aprovaram em uma tentativa de aproximação do público, as engrenagens movem-se sem muita dificuldade, por mais que não apresentem nada de novo ao gênero.

Apesar dos aspectos técnicos e artísticos não fugirem muito das obviedades conhecidas – tanto com a direção expansiva e melodramática para guiar os arcos dos personagens, quanto com uma fotografia que pouco a pouco nos envolve em um beco sem saída marcado por destruição, fogo e sangue -, a ideia aqui não é “reinventar a roda”, e sim promover uma abordagem diferente a uma franquia que se tornou favorita entre os espectadores. Em outras palavras, é notável como Gormican tem plena ciência do que está fazendo e abre espaço para uma despretensiosa incursão que entrega o que esperamos sem se estender muito mais do que deveria.

As fórmulas também acompanham os diálogos, sendo ofuscadas por um interessante trabalho do elenco: Rudd e Black, veteranos dentro da comédia, se divertem com personagens propositalmente estereotípicos das obras do gênero e aproveitam algumas brechas para trazer uma certa profundidade emocional que traz ritmo e dinamismo; Newton e Zahn têm seus respectivos momentos para brilhar, provando serem boas adições à trama; e Mello, que reafirmou sua inegável versatilidade performática com os recentes ‘Ainda Estou Aqui’ e ‘O Auto da Compadecida 2’, é um dos principais escapes da produção e nutre de uma ótima química com o restante do elenco.

Anaconda é um reboot autoconsciente o suficiente para nos tirar boas risadas, fugindo de possíveis investidas vaidosas e aproveitando os incontáveis clichês para construir uma história prazerosa e que tem o único objetivo de nos entreter – e que, apesar dos equívocos, encontra sucesso exatamente nisso.

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Thiago Nolla
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.
Thiago Nolla
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.
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