sábado , 1 fevereiro , 2025

Crítica | Penny Dreadful: City of Angels – 01×04: Josefina and the Holy Spirit

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E Penny Dreadful: City of Angels’ deu uma alavancada considerável na última semana com um episódio recheado de surpresas e angústias construídas com bastante cautela.

Se John Logan vinha perdendo a mão ao deixar de lado o teor sobrenatural de sua série conterrânea e dar mais atenção a um panfletarismo político que não conseguia se mesclar de jeito algum, o showrunner e roteirista parece ter se reencontrado com brechas imperceptíveis para imprimir sua identidade única. “Josefina and the Holy Spirit” pode até soar “natalino”, por assim dizer, com título retirado de quaisquer escritos de Charles Dickens – mas o conto funciona mais como uma emblemática ode trágica do que uma história de superação e amadurecimento. E, enquanto ela não insurge como a melhor do arriscado e arrepiante panteão do terror, é, sem sombra de dúvida, uma das mais bem arquitetadas por seus claros e inovadores arcos.

De alguma forma, as iterações predecessoras funcionaram apenas como um prelúdio do que estava por vir. As incursões raciais, anteriormente pinceladas com um drama caprichoso e incoerente, ganham, aqui, um capítulo tenso e denso que traduz com perfeição a atmosfera controversa e complexa do final dos anos 1940 – principalmente com o estabelecimento do nazismo nos Estados Unidos e a ascensão do III Reich como uma força ameaçadora e mortal. No centro disso tudo, temos a presença ainda fragmentada do Detetive Tiago Vega (Daniel Zovatto), em conflito com suas raízes mexicanas e seu trabalho como oficial da justiça de Los Angeles: de um lado, ele sofre em silêncio gritante o fato de não poder ajudar seus companheiros latinos a saírem das garras de uma corrupção branca e vil que se alastra pela cidade; do outro, observa impotente a forma como sua cultura religiosa está sendo utilizada como insígnia de vingança.

Em outro extremo, temos a presença da ingênua evangelista e figura pública Molly Finnister (Kerry Bishé), que vive na sombra da mãe e apenas agora começou a se libertar – ou pelo menos é no que ela acredita. Depois de se afastar do primeiro contato real que tem ao lado de Tiago, ela entrega-se a uma força dêitica que, por breves momentos, toma conta de seu corpo em plena purgação. Na verdade, a referência a Amunet (vide a série predecessora) é quase instantânea e serve como motivo para manter os espectadores animados para as próximas semanas e, agora, precisamos esperar que esse sutil e brevíssimo gancho seja aproveitado do modo que merece – e sempre explorando as minúcias dos diversos personagens que nos apresentou até agora.

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Enquanto isso, mesmo que certos aspectos não sejam suficientemente equilibrados, ainda têm muito a contar e já começam a despontar. As atuações novelescas de coadjuvantes são deixadas de lado para um cru e raivoso realismo, dessa vez movendo-se para o premeditado assédio sexual e para o adultério. Magda (Natalie Dormer), travestindo-se como a sorridente Elsa, aproxima-se ainda mais de Peter (Rory Kinnear), prometendo apenas com um singelo olhar coisas que sua família não pode lhe oferecer. Mascarando-se como a gângster Rio, incita os jovens latinos a se rebelarem contra o status quo e mostrarem que não estão ali para brincadeira, enfrentando a brutalidade policial na mesma medida que vinham sido tratados desde o começo.

Talvez o momento de maior glória seja a história de terror que o filho-golem de Elsa conta para os outros meninos arianos em uma festa do pijama macabra. Ao delinear uma narrativa que realmente aconteceu (a poucos quarteirões dali), o tímido Tom Craft (Julian Hilliard) começa a ter alucinações com uma garota esquartejada e, considerando seu recuado arco de dúvidas acerca das reais intenções da nova amiga do pai, é provável que ele caminhe em uma trajetória de insanidade sobrenatural que se entrelace com as tramas principais.

À medida que o roteiro encontra um patamar quase refrescante – por mais que não esteja livre de alguns amadorismos não-lapidados -, a própria estética imagética eleva-se a um nível de maior obscurantismo e tensão, trabalhando com paletas de cores contrastantes. Nos momentos de apaziguamento e de individualidade dos personagens, a ambiência rende-se a arquiteturas mais sombrias, nas quais as luzes pontuais direcionam-se para as aureolares redomas que os circundam; já nas sequências revestidas com espectro fúnebre e nefasto, os enquadramentos naturalistas são adornados com faixas douradas e vibrantes, indicando com ambiguidade que nem tudo é o que parece ser – e que as coisas podem mudar drasticamente conforme nos aproximamos do season finale.

Penny Dreadful: City of Angels’, mesmo que a passos curtos, recupera o tempo perdido e investe em algo que há muito desejávamos ver. No aniversário de um mês de sua estreia, Logan e seu incrível time criativo chega a um consenso interessante, cujos resultados podem ser magníficos – ou não.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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E Penny Dreadful: City of Angels’ deu uma alavancada considerável na última semana com um episódio recheado de surpresas e angústias construídas com bastante cautela.

Se John Logan vinha perdendo a mão ao deixar de lado o teor sobrenatural de sua série conterrânea e dar mais atenção a um panfletarismo político que não conseguia se mesclar de jeito algum, o showrunner e roteirista parece ter se reencontrado com brechas imperceptíveis para imprimir sua identidade única. “Josefina and the Holy Spirit” pode até soar “natalino”, por assim dizer, com título retirado de quaisquer escritos de Charles Dickens – mas o conto funciona mais como uma emblemática ode trágica do que uma história de superação e amadurecimento. E, enquanto ela não insurge como a melhor do arriscado e arrepiante panteão do terror, é, sem sombra de dúvida, uma das mais bem arquitetadas por seus claros e inovadores arcos.

De alguma forma, as iterações predecessoras funcionaram apenas como um prelúdio do que estava por vir. As incursões raciais, anteriormente pinceladas com um drama caprichoso e incoerente, ganham, aqui, um capítulo tenso e denso que traduz com perfeição a atmosfera controversa e complexa do final dos anos 1940 – principalmente com o estabelecimento do nazismo nos Estados Unidos e a ascensão do III Reich como uma força ameaçadora e mortal. No centro disso tudo, temos a presença ainda fragmentada do Detetive Tiago Vega (Daniel Zovatto), em conflito com suas raízes mexicanas e seu trabalho como oficial da justiça de Los Angeles: de um lado, ele sofre em silêncio gritante o fato de não poder ajudar seus companheiros latinos a saírem das garras de uma corrupção branca e vil que se alastra pela cidade; do outro, observa impotente a forma como sua cultura religiosa está sendo utilizada como insígnia de vingança.

Em outro extremo, temos a presença da ingênua evangelista e figura pública Molly Finnister (Kerry Bishé), que vive na sombra da mãe e apenas agora começou a se libertar – ou pelo menos é no que ela acredita. Depois de se afastar do primeiro contato real que tem ao lado de Tiago, ela entrega-se a uma força dêitica que, por breves momentos, toma conta de seu corpo em plena purgação. Na verdade, a referência a Amunet (vide a série predecessora) é quase instantânea e serve como motivo para manter os espectadores animados para as próximas semanas e, agora, precisamos esperar que esse sutil e brevíssimo gancho seja aproveitado do modo que merece – e sempre explorando as minúcias dos diversos personagens que nos apresentou até agora.

Enquanto isso, mesmo que certos aspectos não sejam suficientemente equilibrados, ainda têm muito a contar e já começam a despontar. As atuações novelescas de coadjuvantes são deixadas de lado para um cru e raivoso realismo, dessa vez movendo-se para o premeditado assédio sexual e para o adultério. Magda (Natalie Dormer), travestindo-se como a sorridente Elsa, aproxima-se ainda mais de Peter (Rory Kinnear), prometendo apenas com um singelo olhar coisas que sua família não pode lhe oferecer. Mascarando-se como a gângster Rio, incita os jovens latinos a se rebelarem contra o status quo e mostrarem que não estão ali para brincadeira, enfrentando a brutalidade policial na mesma medida que vinham sido tratados desde o começo.

Talvez o momento de maior glória seja a história de terror que o filho-golem de Elsa conta para os outros meninos arianos em uma festa do pijama macabra. Ao delinear uma narrativa que realmente aconteceu (a poucos quarteirões dali), o tímido Tom Craft (Julian Hilliard) começa a ter alucinações com uma garota esquartejada e, considerando seu recuado arco de dúvidas acerca das reais intenções da nova amiga do pai, é provável que ele caminhe em uma trajetória de insanidade sobrenatural que se entrelace com as tramas principais.

À medida que o roteiro encontra um patamar quase refrescante – por mais que não esteja livre de alguns amadorismos não-lapidados -, a própria estética imagética eleva-se a um nível de maior obscurantismo e tensão, trabalhando com paletas de cores contrastantes. Nos momentos de apaziguamento e de individualidade dos personagens, a ambiência rende-se a arquiteturas mais sombrias, nas quais as luzes pontuais direcionam-se para as aureolares redomas que os circundam; já nas sequências revestidas com espectro fúnebre e nefasto, os enquadramentos naturalistas são adornados com faixas douradas e vibrantes, indicando com ambiguidade que nem tudo é o que parece ser – e que as coisas podem mudar drasticamente conforme nos aproximamos do season finale.

Penny Dreadful: City of Angels’, mesmo que a passos curtos, recupera o tempo perdido e investe em algo que há muito desejávamos ver. No aniversário de um mês de sua estreia, Logan e seu incrível time criativo chega a um consenso interessante, cujos resultados podem ser magníficos – ou não.

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