domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Penny Dreadful: City of Angels – 01×05: Children Of The Royal Sun

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Analisando os eventos do episódio anterior, a mais nova semana de Penny Dreadful: City of Angels’ continua a trilha o caminho de grande sucesso qu vinha sendo planejado nas últimas iterações. “Children of the Royal Sun”, como ficou intitulado o recente episódio da série, é uma amálgama de todas as tensões que vinham crescendo na cidade de Los Angeles do final da década de 1930, culminando na concretização da profecia outrora proferida pelo demônio Magda (Natalie Dormer): uma guerra entre irmãos regada a sangue e a fogo. É claro que a metáfora óbvia para a II Guerra Mundial ainda existe (visto que é o tema principal das relações entre os personagens principais e coadjuvantes), mas o sobrenatural continua a ganhar força descomunal com o choque entre dois mundos tão diferentes.

Dessa vez, o foco panfletário investigado por John Logan e seu time criativo é colocado um segundo plano arquitetado com astúcia, deixando margens para que suas criações sejam humanizadas e colocadas em conflito umas com as outras. Em outras palavras, a figura cegamente justa do Detetive Tiago Vega (Daniel Zovatto) se vê cara a cara com os algozes de seu colega de profissão: Rio (um dos alter-egos de Dormer na série), a líder da gangue latina que está mais do que pronta para enfrentar a força branca que se estende contra sua raça, e Mateo (Johnathan Nieves), seu irmão mais novo que resolveu afastar-se dos laços familiares para encontrar um motivo para viver e para lutar contra uma opressão infindável – ainda mais com a ascensão do movimento nazifascista representado pelo Grupo Germano-Americano e pelos ideários controversos de Peter Craft (Rory Kinnear).



A partir desta semana, fica claro que a perspectiva principal de Logan é transformar suas criações em complexas dimensões da sociedade estadunidense, explorando seus erros como modo de dar continuidade à trama principal. Não é surpresa que, depois de se envolver com a evangelista Molly Finnester (Kerry Bishé), a qual já vem se desprendendo de sua criação extremamente religiosa para um entendimento humanista do que a rodeia, ele seja obrigado a mentir para o parceiro, Lewis (Nathan Lane), e a fazer de tudo para que as pistas que adquiri ao longo do caminho não sejam as certas. No final das contas, o embate supracitado é inevitável e ele não tem escolha a não ser deixar o irmão fugir, impedindo que ele seja encarcerado e torturado. Mas a que preço? Afinal, um outro inocente foi tomado pela polícia e sofrerá as consequências – dando significado ainda maior à faca de dois gumes construída pelo roteiro.

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Em outro espectro, a narrativa se delineia com respeito grandioso acerca dos tabus da época, como a cultura mexicana e sua poderosa iconografia – tomando forma na já apresentada Santa Muerte (Lorenza Izzo) e seu trânsito entre o mundo dos mortais e o dos espíritos – e entremeios acerca da orientação sexual fora dos padrões normatizados. Enquanto Mateo se envolve com Rio e com Fly Rico (Sebastian Chacon), o vereador Charlton Townsend (Michael Gladis) tem sua sexualidade e sua intimidade posta em perigo ao ser ameaçado por seu braço-direito, Alex (Dormer mais uma vez). Mais do que isso, as incursões nesse arco, especificamente, revelam um apreço pela decadência e pela mentira humanas que vem à tona com a saudosista melodia do jazz e dos sonhos que já não mais existem.

Se isso não fosse o bastante, a história também brinca com as simbologias o suficiente para nos manter envolvidos do começo ao fim. Não é surpresa que temos uma romantização conhecida do panteão Penny Dreadfulsobre assassinatos e adultérios – no caso, no relacionamento proibido entre a femme fatale Elsa (Dormer) e Peter, cujo choque é aumentado quando encobrem um homicídio nada premeditado. Na verdade, esse conturbado e tóxico laço flerta com o casal formado por Dorian Grey e Lily Frankenstein na série original. Entretanto, o dialogismo em questão é cru demais para que esperemos algo mais profundo e macabro – que deve ser confirmado (ou não) nas próximas semanas. Em outro espectro, os solilóquios proferidos por Rio saem do âmbito crítico-social e são revestidos com uma análise histórica de Tenochtitlán, capital do Império Asteca, invadida pelos espanhóis durante as Grandes Navegações e que foi palco do nascimento das “crianças do sol real”.

‘City of Angels’ finalmente honra o legado criado por Logan e adiciona elementos de puro terror psicológico para as múltiplas tramas apresentadas – recuando um pouco na quantidade exorbitante de personagens e permitindo que cada persona entre em conflito consigo mesma e veja a materialização quase dêitica de seus demônios interiores.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Analisando os eventos do episódio anterior, a mais nova semana de Penny Dreadful: City of Angels’ continua a trilha o caminho de grande sucesso qu vinha sendo planejado nas últimas iterações. “Children of the Royal Sun”, como ficou intitulado o recente episódio da série, é uma amálgama de todas as tensões que vinham crescendo na cidade de Los Angeles do final da década de 1930, culminando na concretização da profecia outrora proferida pelo demônio Magda (Natalie Dormer): uma guerra entre irmãos regada a sangue e a fogo. É claro que a metáfora óbvia para a II Guerra Mundial ainda existe (visto que é o tema principal das relações entre os personagens principais e coadjuvantes), mas o sobrenatural continua a ganhar força descomunal com o choque entre dois mundos tão diferentes.

Dessa vez, o foco panfletário investigado por John Logan e seu time criativo é colocado um segundo plano arquitetado com astúcia, deixando margens para que suas criações sejam humanizadas e colocadas em conflito umas com as outras. Em outras palavras, a figura cegamente justa do Detetive Tiago Vega (Daniel Zovatto) se vê cara a cara com os algozes de seu colega de profissão: Rio (um dos alter-egos de Dormer na série), a líder da gangue latina que está mais do que pronta para enfrentar a força branca que se estende contra sua raça, e Mateo (Johnathan Nieves), seu irmão mais novo que resolveu afastar-se dos laços familiares para encontrar um motivo para viver e para lutar contra uma opressão infindável – ainda mais com a ascensão do movimento nazifascista representado pelo Grupo Germano-Americano e pelos ideários controversos de Peter Craft (Rory Kinnear).

A partir desta semana, fica claro que a perspectiva principal de Logan é transformar suas criações em complexas dimensões da sociedade estadunidense, explorando seus erros como modo de dar continuidade à trama principal. Não é surpresa que, depois de se envolver com a evangelista Molly Finnester (Kerry Bishé), a qual já vem se desprendendo de sua criação extremamente religiosa para um entendimento humanista do que a rodeia, ele seja obrigado a mentir para o parceiro, Lewis (Nathan Lane), e a fazer de tudo para que as pistas que adquiri ao longo do caminho não sejam as certas. No final das contas, o embate supracitado é inevitável e ele não tem escolha a não ser deixar o irmão fugir, impedindo que ele seja encarcerado e torturado. Mas a que preço? Afinal, um outro inocente foi tomado pela polícia e sofrerá as consequências – dando significado ainda maior à faca de dois gumes construída pelo roteiro.

Em outro espectro, a narrativa se delineia com respeito grandioso acerca dos tabus da época, como a cultura mexicana e sua poderosa iconografia – tomando forma na já apresentada Santa Muerte (Lorenza Izzo) e seu trânsito entre o mundo dos mortais e o dos espíritos – e entremeios acerca da orientação sexual fora dos padrões normatizados. Enquanto Mateo se envolve com Rio e com Fly Rico (Sebastian Chacon), o vereador Charlton Townsend (Michael Gladis) tem sua sexualidade e sua intimidade posta em perigo ao ser ameaçado por seu braço-direito, Alex (Dormer mais uma vez). Mais do que isso, as incursões nesse arco, especificamente, revelam um apreço pela decadência e pela mentira humanas que vem à tona com a saudosista melodia do jazz e dos sonhos que já não mais existem.

Se isso não fosse o bastante, a história também brinca com as simbologias o suficiente para nos manter envolvidos do começo ao fim. Não é surpresa que temos uma romantização conhecida do panteão Penny Dreadfulsobre assassinatos e adultérios – no caso, no relacionamento proibido entre a femme fatale Elsa (Dormer) e Peter, cujo choque é aumentado quando encobrem um homicídio nada premeditado. Na verdade, esse conturbado e tóxico laço flerta com o casal formado por Dorian Grey e Lily Frankenstein na série original. Entretanto, o dialogismo em questão é cru demais para que esperemos algo mais profundo e macabro – que deve ser confirmado (ou não) nas próximas semanas. Em outro espectro, os solilóquios proferidos por Rio saem do âmbito crítico-social e são revestidos com uma análise histórica de Tenochtitlán, capital do Império Asteca, invadida pelos espanhóis durante as Grandes Navegações e que foi palco do nascimento das “crianças do sol real”.

‘City of Angels’ finalmente honra o legado criado por Logan e adiciona elementos de puro terror psicológico para as múltiplas tramas apresentadas – recuando um pouco na quantidade exorbitante de personagens e permitindo que cada persona entre em conflito consigo mesma e veja a materialização quase dêitica de seus demônios interiores.

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