sexta-feira , 15 novembro , 2024

Crítica | Penny Dreadful: City of Angels – 01×06: How It Is with Brothers

Já ficou bem claro que o panteão Penny Dreadful segue seus próprios passos e faz o que bem entender. Desde a primeira série, ambientada na Inglaterra do final do século XIX, o criador John Logan delineava inúmeras narrativas que distorciam os conceitos de progressão temporal e cronologia, viajando no tempo sem quaisquer precedentes, mergulhando em uma estética mais intimista e sobrenatural enquanto deixava a ação de lado. Agora, chegou a vez de Penny Dreadful: City of Angels’, o interessante spin-off que já se estende por um mês e meio na Showtime, recuar para uma versão mais pessoal do que o que estávamos acostumados. E, apesar dos deslizes, “How It Is with Brothers” – como ficou intitulado o sexto episódio – foi uma sólida adição à temporada inicial, preferindo investir nas tramas interpessoais do que continuar a crescente exploração dos espectros de terror e suspense.

Na verdade, a série derivada há muito vem se provando como uma asserção bastante política em comparação à produção anterior. Afinal, a narrativa principal se insere em uma das épocas mais conturbadas da História ocidental: a ascensão de Hitler ao poder e do nazifascismo como doutrina libertadora – o que provou ser o exato oposto, vindo para cima de minorias sociais (incluindo imigrante, judeus e homossexuais) como modo de prevalência de uma raça “pura” (lê-se ariana). A ideia por trás desse panfletarismo, por mais que tenha cedido às fórmulas de qualquer drama meia-boca da televisão, alcançou um nível de análise bastante coeso – principalmente agora que nos aproximamos cada vez mais do season finale -, considerando que o protagonista é um descendente latino que tornou-se o primeiro detetive mexicano da polícia de Los Angeles.



Nesta última semana, Daniel Zovatto entregou a melhor performance de sua carreira ao fornecer uma interpretação ainda mais profunda de Tiago Vega, ainda lutando por seu lugar em meio a uma supremacia branca que tem asco no tocante à comunidade latina. Novamente seguindo as consequências diretas do capítulo predecessor, Tiago se vê empalado entre a vida profissional e pessoal, percebendo o quão difícil é manter a justiça onde vive e impedir que sua família seja alvo de corrupções raciais que desde sempre existiram. O problema fica ainda maior complexo quando Mateo (Johnathan Nieves), seu irmão caçula, admite ser o culpado pelo assassinato de um policial branco – dando início a uma guerra civil sem precedentes. E, numa tentativa de salvá-lo e de impedir que ele seja levado para a câmara de gás, Tiago acaba levando como prisioneiro um outro membro da gangue latina – o jovem Diego Lopez (Adan Rocha), que servirá de bode expiatório custe o que custar.

Ao longo da iteração, percebe-se que o roteiro de Vinnie Wilhelm faz uso constante da máxima “de boas intenções, o Inferno vive cheio”. Ao contrário do que se esperava, o símbolo de empatia insurge na figura de Lewis Michener (Nathan Lane), o velho detetive e parceiro de Vega que esconde sua descendência judaica para não sofrer crimes de ódio. Completamente alheio aos segredos que Tiago vem escondendo desde o episódio piloto, ele se joga cegamente nos discursos subvertidos do colega até descobrir a verdade por trás de uma personalidade tão evasiva. No final das contas, cabe a ele recobrar um pouco de sensatez e, numa última tentativa de ajudá-lo a acobertar o real criminoso, ele compreende os motivos da rebelião imigrante para com a brutalidade policial e reverte a situação com um pungente e cru discurso.

Enquanto Lane e Zovatto permanecem em um patamar artístico bastante elevado – roubando o foco da sempre envolvente Natalie Dormer em suas múltiplas performances -, a história parece não sabe onde se fixar. De fato, a diretora Roxann Dawson (que retorna para sua segunda semana seguida ao show) teria maior controle da situação caso apenas uma das tramas ganhasse palco. Entretanto, a profusão de personagens (alguns descartáveis, devo dizer) implica uma dissidência imagética e circinal que não deveria ter lugar ou voz. Desde o esquecível arco de amadurecimento de Molly (Kerry Bishé) até a presença impiedosa e extremamente machista de Peter (Rory Kinnear) poderiam ser adiados para um futuro capítulo, deixando que ‘City of Angels’ transformasse a si mesma em um drama policial e claustrofóbico tirado das profundezas criativas de David Fincher e Quentin Tarantino.

Wilhelm encontra território fértil para investir em uma verborragia arrepiante e angustiante – representando o principal ápice da episódio. De outro lado, as várias tramas fundem-se em uma explosiva e transbordante necessidade de contar tudo ao mesmo tempo (e nem os longos 60 minutos são o bastante para dar conta). De qualquer forma, apesar do contratempo, é inegável dizer que a série derivada de Penny Dreadful deu uma guinada profunda desde sua estreia algumas semanas atrás – e esperamos que as coisas permaneçam assim.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Na verdade, a série derivada há muito vem se provando como uma asserção bastante política em comparação à produção anterior. Afinal, a narrativa principal se insere em uma das épocas mais conturbadas da História ocidental: a ascensão de Hitler ao poder e do nazifascismo como doutrina libertadora – o que provou ser o exato oposto, vindo para cima de minorias sociais (incluindo imigrante, judeus e homossexuais) como modo de prevalência de uma raça “pura” (lê-se ariana). A ideia por trás desse panfletarismo, por mais que tenha cedido às fórmulas de qualquer drama meia-boca da televisão, alcançou um nível de análise bastante coeso – principalmente agora que nos aproximamos cada vez mais do season finale -, considerando que o protagonista é um descendente latino que tornou-se o primeiro detetive mexicano da polícia de Los Angeles.

Nesta última semana, Daniel Zovatto entregou a melhor performance de sua carreira ao fornecer uma interpretação ainda mais profunda de Tiago Vega, ainda lutando por seu lugar em meio a uma supremacia branca que tem asco no tocante à comunidade latina. Novamente seguindo as consequências diretas do capítulo predecessor, Tiago se vê empalado entre a vida profissional e pessoal, percebendo o quão difícil é manter a justiça onde vive e impedir que sua família seja alvo de corrupções raciais que desde sempre existiram. O problema fica ainda maior complexo quando Mateo (Johnathan Nieves), seu irmão caçula, admite ser o culpado pelo assassinato de um policial branco – dando início a uma guerra civil sem precedentes. E, numa tentativa de salvá-lo e de impedir que ele seja levado para a câmara de gás, Tiago acaba levando como prisioneiro um outro membro da gangue latina – o jovem Diego Lopez (Adan Rocha), que servirá de bode expiatório custe o que custar.

Ao longo da iteração, percebe-se que o roteiro de Vinnie Wilhelm faz uso constante da máxima “de boas intenções, o Inferno vive cheio”. Ao contrário do que se esperava, o símbolo de empatia insurge na figura de Lewis Michener (Nathan Lane), o velho detetive e parceiro de Vega que esconde sua descendência judaica para não sofrer crimes de ódio. Completamente alheio aos segredos que Tiago vem escondendo desde o episódio piloto, ele se joga cegamente nos discursos subvertidos do colega até descobrir a verdade por trás de uma personalidade tão evasiva. No final das contas, cabe a ele recobrar um pouco de sensatez e, numa última tentativa de ajudá-lo a acobertar o real criminoso, ele compreende os motivos da rebelião imigrante para com a brutalidade policial e reverte a situação com um pungente e cru discurso.

Enquanto Lane e Zovatto permanecem em um patamar artístico bastante elevado – roubando o foco da sempre envolvente Natalie Dormer em suas múltiplas performances -, a história parece não sabe onde se fixar. De fato, a diretora Roxann Dawson (que retorna para sua segunda semana seguida ao show) teria maior controle da situação caso apenas uma das tramas ganhasse palco. Entretanto, a profusão de personagens (alguns descartáveis, devo dizer) implica uma dissidência imagética e circinal que não deveria ter lugar ou voz. Desde o esquecível arco de amadurecimento de Molly (Kerry Bishé) até a presença impiedosa e extremamente machista de Peter (Rory Kinnear) poderiam ser adiados para um futuro capítulo, deixando que ‘City of Angels’ transformasse a si mesma em um drama policial e claustrofóbico tirado das profundezas criativas de David Fincher e Quentin Tarantino.

Wilhelm encontra território fértil para investir em uma verborragia arrepiante e angustiante – representando o principal ápice da episódio. De outro lado, as várias tramas fundem-se em uma explosiva e transbordante necessidade de contar tudo ao mesmo tempo (e nem os longos 60 minutos são o bastante para dar conta). De qualquer forma, apesar do contratempo, é inegável dizer que a série derivada de Penny Dreadful deu uma guinada profunda desde sua estreia algumas semanas atrás – e esperamos que as coisas permaneçam assim.

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