terça-feira , 5 novembro , 2024

Crítica | Perpetrator – Alicia Silverstone em Louco Filme de Terror Feminista [Berlim 2023]

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Em seu segundo longa-metragem, Jennifer Reeder cria uma atmosfera de horror e mistério em tom de comédia e com uma pegada queer feminista. Ou seja, Perpetrator mistura várias ideias e momentos bizarros, os quais somente os fãs de derramamento de sangue e resoluções mirabolantes vão apreciar. 

Tudo começa quando algumas adolescentes de uma cidadezinha norte-americana desaparecem misteriosamente. Há cartazes espalhados por todos os cantos. A cena inicial é uma dessas jovens sendo sequestrada e, em seguida, “manipulada” por um carrasco. 

Em seguida, o enredo nos apresenta a jovem Jonny (Kiah McKirnan). Bem diferente das meninas dos cartazes, isto é, donzelas em perigo, Jonny é durona e, por vezes, realiza furtos para  ajudar o seu problemático pai a pagar o aluguel. Seu verdadeiro plano, no entanto, é deixá-lo para trás e seguir a vida adulta por conta própria.

Prestes a completar 18 anos, a jovem é enviada para casa da distante tia Hildie (Alicia Silverstone). Com a mudança repentina, vem também uma nova escola, onde ocorre cenas estranhas de humor e diálogos sem pé nem cabeça. Desse modo, a trama é quase um palco de stand-up comedy, isto é, onde todo mundo tem uma tirada engraçadinha. 

Propositalmente, todas as frases e diálogos de Alicia Silverstone são inapropriados para situação ou extremamente caricaturais. Com o objetivo de banhar-se no gore, a cineasta norte-americana não poupa cenas de mergulho em um vermelho pulsante e sangue coagulado. Jonny, por exemplo, está sempre com hemorragia nasal. 

Sabemos que o sangue representa a passagem da infância à maturidade sexual para as mulheres, entretanto, Perpetrator abusa dessas demonstrações. Após seu aniversário de 18 anos, Jonny “desperta” seus poderes ancestrais de sentir as emoções alheias e de transformar-se em outras pessoas. 

Como grandes poderes trazem grandes responsabilidades, Jonny se incube da missão de encontrar as meninas desaparecidas. Por que não? No meio desse jogo de sobrenatural e mistério, a jovem ainda tem um caso com a colega Elektra (Ireon Roach) e o chorão Kirk (Sasha Kuznetsov).

Todo mundo que sai com Kirk desaparece em seguida. O mistério do filme joga a culpa para um dos quatro homens do elenco, o playboy Kirk, o policial da cidade, o diretor da escola (Christopher Lowell) e o próprio pai de Jonny. Perpetrator não se preocupa em construir um bom mistério, muito menos numa resolução plausível. 

Em filmes desse tipo, as atenções estão voltadas para as mutilações e banhos de sangue. Em outras palavras, o roteiro faz o serviço para os fãs de filme de gênero. Por ter uma mensagem de empoderamento feminino, a obra ganhou mais evidência e lançamento na mostra Panorama do Festival de Berlim.

Após o longa de estreia Knives and Skin (2019), o cineasta Bong Joon Ho (Parasita) colocou Jennifer Reeder na sua lista de “diretores a ficar de olho nos anos 2020”. Com esta recomendação de peso, a diretora/roteirista legitima seu domínio nos filme de gênero, todavia precisa aprimorar os diálogos e as motivações no seu roteiro. 

Perpetrator diverte exatamente por não se levar a sério. Sangue pelo sangue gera audiência, mas o trash com coerência nos inebria. Vale lembrar de pequenas grandes produções de horror recentes, como a belga Yummy (2019), de Lars Damoiseaux, e a taiwanesa A Tristeza (2021), de Rob Jabbaz

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Tudo começa quando algumas adolescentes de uma cidadezinha norte-americana desaparecem misteriosamente. Há cartazes espalhados por todos os cantos. A cena inicial é uma dessas jovens sendo sequestrada e, em seguida, “manipulada” por um carrasco. 

Em seguida, o enredo nos apresenta a jovem Jonny (Kiah McKirnan). Bem diferente das meninas dos cartazes, isto é, donzelas em perigo, Jonny é durona e, por vezes, realiza furtos para  ajudar o seu problemático pai a pagar o aluguel. Seu verdadeiro plano, no entanto, é deixá-lo para trás e seguir a vida adulta por conta própria.

Prestes a completar 18 anos, a jovem é enviada para casa da distante tia Hildie (Alicia Silverstone). Com a mudança repentina, vem também uma nova escola, onde ocorre cenas estranhas de humor e diálogos sem pé nem cabeça. Desse modo, a trama é quase um palco de stand-up comedy, isto é, onde todo mundo tem uma tirada engraçadinha. 

Propositalmente, todas as frases e diálogos de Alicia Silverstone são inapropriados para situação ou extremamente caricaturais. Com o objetivo de banhar-se no gore, a cineasta norte-americana não poupa cenas de mergulho em um vermelho pulsante e sangue coagulado. Jonny, por exemplo, está sempre com hemorragia nasal. 

Sabemos que o sangue representa a passagem da infância à maturidade sexual para as mulheres, entretanto, Perpetrator abusa dessas demonstrações. Após seu aniversário de 18 anos, Jonny “desperta” seus poderes ancestrais de sentir as emoções alheias e de transformar-se em outras pessoas. 

Como grandes poderes trazem grandes responsabilidades, Jonny se incube da missão de encontrar as meninas desaparecidas. Por que não? No meio desse jogo de sobrenatural e mistério, a jovem ainda tem um caso com a colega Elektra (Ireon Roach) e o chorão Kirk (Sasha Kuznetsov).

Todo mundo que sai com Kirk desaparece em seguida. O mistério do filme joga a culpa para um dos quatro homens do elenco, o playboy Kirk, o policial da cidade, o diretor da escola (Christopher Lowell) e o próprio pai de Jonny. Perpetrator não se preocupa em construir um bom mistério, muito menos numa resolução plausível. 

Em filmes desse tipo, as atenções estão voltadas para as mutilações e banhos de sangue. Em outras palavras, o roteiro faz o serviço para os fãs de filme de gênero. Por ter uma mensagem de empoderamento feminino, a obra ganhou mais evidência e lançamento na mostra Panorama do Festival de Berlim.

Após o longa de estreia Knives and Skin (2019), o cineasta Bong Joon Ho (Parasita) colocou Jennifer Reeder na sua lista de “diretores a ficar de olho nos anos 2020”. Com esta recomendação de peso, a diretora/roteirista legitima seu domínio nos filme de gênero, todavia precisa aprimorar os diálogos e as motivações no seu roteiro. 

Perpetrator diverte exatamente por não se levar a sério. Sangue pelo sangue gera audiência, mas o trash com coerência nos inebria. Vale lembrar de pequenas grandes produções de horror recentes, como a belga Yummy (2019), de Lars Damoiseaux, e a taiwanesa A Tristeza (2021), de Rob Jabbaz

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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