domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Personal Shopper

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A Insustentável Leveza do Ser

A última parceria entre o cineasta Olivier Assayas e a renovada Kristen Stewart (ainda alvo de certa hostilidade cinéfila, como DiCaprio no pós-Titanic) rendeu para a moça o prêmio César, o Oscar da França. Trata-se de Acima das Nuvens (2014), símbolo da mudança de direção na carreira da atriz, no qual Stewart interpretava a assistente de uma famosa estrela de cinema. No novo trabalho, Stewart mantém o emprego, no papel de um secretária de luxo (cujo cargo é o título do longa), e o endereço – o cenário é Paris.

Personal Shopper, no entanto, apesar das coincidências iniciais, guarda poucas semelhanças com a última colaboração da dupla. Este é declaradamente um filme de gênero, no caso um thriller / terror, mais refletido no cinema de gente como Brian De Palma e Dario Argento, por exemplo. A sinopse e prévias ludibriam os cinéfilos, fazendo-os esperar por um drama espiritual. E daí a confusão, seguida de falta de interesse. Personal Shopper é em seu núcleo uma história de fantasmas arrepiante, digna dos clássicos do subgênero, levemente vestido de cinema de arte – o que torna o sabor mais especial.



personal-shopper-cinepop

Stewart interpreta Maureen, a “compradora pessoal” do título, cujo trabalho detesta. Ela cita que o emprego toma todo seu tempo, não deixando espaço para buscar algo realmente desejado. O namorado pede para que ela abandone tudo e vá viver com ele em outro país, mas ela ainda aguarda contato com o espírito do irmão gêmeo, falecido na cidade francesa. O espiritismo é um dos tópicos abordados aqui por Assayas desde o início e faz parte da ideologia de sua protagonista. Na primeira metade o diretor inclusive leva o tema com bastante seriedade, abordando cenários reais, entrevistas e pesquisas sobre o assunto.

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Na segunda metade, Personal Shopper assume de vez as tintas do terror, banhando-se totalmente com elementos sobrenaturais. A imprevisibilidade do roteiro assinado pelo próprio diretor é um dos grandes chamarizes da obra. Assayas nos faz seguir sua protagonista de perto, sem saber para onde tamanho investimento irá nos levar. Apesar de não ser uma personagem propriamente interessante, Stewart está empenhada e a cria justamente com contornos de uma jovem meio perdida, com a qual fica fácil criar identificação. A entrega da atriz é tamanha que Stewart desempenha alguns momentos de nudez, demonstrando plena confiança em seu comandante.

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O novo filme de Assayas e Stewart pode ser tudo, menos desinteressante. A câmera do cineasta nos enfeitiça, fazendo-nos não desgrudar os olhos da tela. O conjunto entre fotografia, direção de arte, roteiro, direção e atuações é uníssono, nos emergindo completamente nesta trama. Algo parecido costuma acontecer nos filmes de Nicolas Winding-Refn, mesmo que após os créditos desmereçamos totalmente o assistido. O teor enigmático, de constante pesadelo, se faz muito presente em Personal Shopper, criando níveis de tensão absoluta e um suspense altíssimo, apesar da coerência abandonar o longa em variados momentos. Este é um exercício em estilo, técnica e domínio de gênero.

Assayas também brinca com os clichês de tais filmes, acrescentando muito em troca. De casas vazias e escuras, barulhos durante a noite, aparições fantasmagóricas, mensagens de fontes anônimas e até mesmo um terrível assassinato, o diretor cria no lugar comum de obras do tipo um encantamento único, provido de um cinema só seu. Sem entregar muito, a obra ainda guarda o momento mais gelado que presenciei recentemente, passado numa das últimas cenas. É engraçado dizer, mas Personal Shopper é um dos filmes de terror mais diferentes e inusitados, o que nem de perto traduz-se em acessível ou recomendado para todos os gostos.

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A última parceria entre o cineasta Olivier Assayas e a renovada Kristen Stewart (ainda alvo de certa hostilidade cinéfila, como DiCaprio no pós-Titanic) rendeu para a moça o prêmio César, o Oscar da França. Trata-se de Acima das Nuvens (2014), símbolo da mudança de direção na carreira da atriz, no qual Stewart interpretava a assistente de uma famosa estrela de cinema. No novo trabalho, Stewart mantém o emprego, no papel de um secretária de luxo (cujo cargo é o título do longa), e o endereço – o cenário é Paris.

Personal Shopper, no entanto, apesar das coincidências iniciais, guarda poucas semelhanças com a última colaboração da dupla. Este é declaradamente um filme de gênero, no caso um thriller / terror, mais refletido no cinema de gente como Brian De Palma e Dario Argento, por exemplo. A sinopse e prévias ludibriam os cinéfilos, fazendo-os esperar por um drama espiritual. E daí a confusão, seguida de falta de interesse. Personal Shopper é em seu núcleo uma história de fantasmas arrepiante, digna dos clássicos do subgênero, levemente vestido de cinema de arte – o que torna o sabor mais especial.

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Stewart interpreta Maureen, a “compradora pessoal” do título, cujo trabalho detesta. Ela cita que o emprego toma todo seu tempo, não deixando espaço para buscar algo realmente desejado. O namorado pede para que ela abandone tudo e vá viver com ele em outro país, mas ela ainda aguarda contato com o espírito do irmão gêmeo, falecido na cidade francesa. O espiritismo é um dos tópicos abordados aqui por Assayas desde o início e faz parte da ideologia de sua protagonista. Na primeira metade o diretor inclusive leva o tema com bastante seriedade, abordando cenários reais, entrevistas e pesquisas sobre o assunto.

Na segunda metade, Personal Shopper assume de vez as tintas do terror, banhando-se totalmente com elementos sobrenaturais. A imprevisibilidade do roteiro assinado pelo próprio diretor é um dos grandes chamarizes da obra. Assayas nos faz seguir sua protagonista de perto, sem saber para onde tamanho investimento irá nos levar. Apesar de não ser uma personagem propriamente interessante, Stewart está empenhada e a cria justamente com contornos de uma jovem meio perdida, com a qual fica fácil criar identificação. A entrega da atriz é tamanha que Stewart desempenha alguns momentos de nudez, demonstrando plena confiança em seu comandante.

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O novo filme de Assayas e Stewart pode ser tudo, menos desinteressante. A câmera do cineasta nos enfeitiça, fazendo-nos não desgrudar os olhos da tela. O conjunto entre fotografia, direção de arte, roteiro, direção e atuações é uníssono, nos emergindo completamente nesta trama. Algo parecido costuma acontecer nos filmes de Nicolas Winding-Refn, mesmo que após os créditos desmereçamos totalmente o assistido. O teor enigmático, de constante pesadelo, se faz muito presente em Personal Shopper, criando níveis de tensão absoluta e um suspense altíssimo, apesar da coerência abandonar o longa em variados momentos. Este é um exercício em estilo, técnica e domínio de gênero.

Assayas também brinca com os clichês de tais filmes, acrescentando muito em troca. De casas vazias e escuras, barulhos durante a noite, aparições fantasmagóricas, mensagens de fontes anônimas e até mesmo um terrível assassinato, o diretor cria no lugar comum de obras do tipo um encantamento único, provido de um cinema só seu. Sem entregar muito, a obra ainda guarda o momento mais gelado que presenciei recentemente, passado numa das últimas cenas. É engraçado dizer, mas Personal Shopper é um dos filmes de terror mais diferentes e inusitados, o que nem de perto traduz-se em acessível ou recomendado para todos os gostos.

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