domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Peterloo – A história por trás do massacre

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A última derrota de Napoleão (antes de seu exílio final na Ilha de Santa Helena) se deu próximo a Waterloo (o que hoje em dia é território Belga). A ruína do imperador francês aconteceu com o auxílio de uma força militar inglesa liderada pelo Duque de Wellington, no ano de 1815. Apesar da vitória, tanto os soldados sobreviventes da batalha quanto a população de partes do território da coroa britânica sofreu, após Waterloo, de diversas mazelas.

O povo inglês sofria por fome e abusos como redução salarial e desemprego, à medida que o trabalho nas tecelagens se mantinha a todo vapor (e com todas as péssimas condições de trabalho, que conhecemos). O preço do trigo barato outrora importado pelo reino unido passou a sofrer duras tarifações no intuito de fortalecer a produção interna. No entanto, essa medida, conhecida como “leis dos cereais” (que duraram de 1815 até 1846) levaram a população proletária a uma condição alarmante de fome e pobreza. Levando o povo, ainda sobre o efeito da revolução popular francesa, a ir às ruas em busca de direitos básicos. Em busca do Sufrágio, do poder popular através do voto.



Como visto no longa-metragem de Pierre Scholler  “A Revolução em Paris”, a luta em solo francês mobilizou o povo e, em decorrência impeliu seus representantes a depor o então Rei Luis XVI, e condená-lo à forca. A força popular vista na revolução Francesa teve um fim bem diferente e trágico no caso do conhecido “massacre de Peterloo”, retratado no filme do diretor Mike Leigh. A batalha de Peterloo encerra a narrativa poeticamente construída no longa, mostrando que na história mundial, a humanidade dos indivíduos de menor poder se perde diante da pesada mão de ferro da lei. Lei esta moldada estritamente para os interesses da monarquia.

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O filme propõe uma imersão na conturbada atmosfera do noroeste inglês, em Manchester, mais especificamente em St. Peter’s Field. Após a batalha de Watherloo, com a nomeação de uma liderança omissa para a região, a população se via refém de juízes tiranos (e sanguinários), que deliberavam sem grandes comprometimentos com a justiça em seu sentido mais puro. E também de uma força policial truculenta e sedenta pelo fim das agitações populares. O medo da perda do poder, seja por parte dos magistrados ou por parte da coroa britânica, promoveu um dos episódios de repressão popular mais cruéis da história inglesa. Onde uma população desarmada (leia-se: homens, mulheres e CRIANÇAS), foram brutalmente reprimidos, em uma tarde que findou com alguns mortos e muitos feridos (novamente, estamos falando também de crianças).

Alguns pontos fortes da produção são o figurino, a direção de arte e a cenografia. Um aspecto que chama atenção para o cuidado com a caracterização está nos dentes dos personagens (esse é um ponto que sempre me chama muita atenção). Em pleno século XIX o que se espera, ao retratar uma população miserável, é que a dentição corresponda à realidade da época. E o trabalho da equipe de maquiagem do longa não só contempla essa estética, como apresenta “diferentes tipos de dentes” que variam de acordo com a classe e posição social dos personagens. Isso pode parecer besteira, mas denota um cuidado singular à produção. Para além disso, as vestes utilizadas para a fria locação do noroeste inglês também evidencia as condições de vida das esferas sociais representadas. Elogios devem ir para Jacqueline Durran (figurino).

A direção de arte de Jane Brodier e a Cenografia de Charoltte Dirickx também são muito felizes ao trazer à tela diferenças gritantes entre as locações de St. Peter’s Field e da tão importante Londres. As construções, as paisagens e cenários explicitam as diferentes condições de vida de um reino decadente. E, ao retratar Manchester, trazem ao público um misto de beleza bucólica com angústia pela pobreza e as mazelas do período (que incluíam, para além da fome, epidemias e mortalidade elevada).

Essa atmosfera também se reforça pela película, que traz a sensação de filme antigo colorido posteriormente. O elenco (e seu belíssimo sotaque) traz a cena um trabalho bonito dentro do lento ritmo do filme. Sem destaques, mas sendo um conjunto coeso de elenco bem preparado.

A narrativa do longa-metragem é arrastada. Apresenta de maneira lenta os principais atores envolvidos no evento principal da trama, mostrando a organização paulatina, junto a crescente insatisfação popular. Os diálogos são muito elucidativos, e mostram uma população, apesar de muito pobre, muito lúcida frente à própria condição. No entanto, não se desenrola de maneira envolvente a ponto de trazer uma identificação profunda do público com os personagens, fazendo com que o filme seja de fato cansativo ao expectador. No entanto, é uma proposta interessante de trazer às telas uma história tão emblemática e não tão ventilada, como outras tantas batalhas ocorridas nos séculos XVIII e XIX. Para os amantes de filmes históricos, que se interessam por entender o pano de fundo dos acontecimentos que marcaram a caminhada da sociedade ocidental, é uma boa opção.

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A última derrota de Napoleão (antes de seu exílio final na Ilha de Santa Helena) se deu próximo a Waterloo (o que hoje em dia é território Belga). A ruína do imperador francês aconteceu com o auxílio de uma força militar inglesa liderada pelo Duque de Wellington, no ano de 1815. Apesar da vitória, tanto os soldados sobreviventes da batalha quanto a população de partes do território da coroa britânica sofreu, após Waterloo, de diversas mazelas.

O povo inglês sofria por fome e abusos como redução salarial e desemprego, à medida que o trabalho nas tecelagens se mantinha a todo vapor (e com todas as péssimas condições de trabalho, que conhecemos). O preço do trigo barato outrora importado pelo reino unido passou a sofrer duras tarifações no intuito de fortalecer a produção interna. No entanto, essa medida, conhecida como “leis dos cereais” (que duraram de 1815 até 1846) levaram a população proletária a uma condição alarmante de fome e pobreza. Levando o povo, ainda sobre o efeito da revolução popular francesa, a ir às ruas em busca de direitos básicos. Em busca do Sufrágio, do poder popular através do voto.

Como visto no longa-metragem de Pierre Scholler  “A Revolução em Paris”, a luta em solo francês mobilizou o povo e, em decorrência impeliu seus representantes a depor o então Rei Luis XVI, e condená-lo à forca. A força popular vista na revolução Francesa teve um fim bem diferente e trágico no caso do conhecido “massacre de Peterloo”, retratado no filme do diretor Mike Leigh. A batalha de Peterloo encerra a narrativa poeticamente construída no longa, mostrando que na história mundial, a humanidade dos indivíduos de menor poder se perde diante da pesada mão de ferro da lei. Lei esta moldada estritamente para os interesses da monarquia.

O filme propõe uma imersão na conturbada atmosfera do noroeste inglês, em Manchester, mais especificamente em St. Peter’s Field. Após a batalha de Watherloo, com a nomeação de uma liderança omissa para a região, a população se via refém de juízes tiranos (e sanguinários), que deliberavam sem grandes comprometimentos com a justiça em seu sentido mais puro. E também de uma força policial truculenta e sedenta pelo fim das agitações populares. O medo da perda do poder, seja por parte dos magistrados ou por parte da coroa britânica, promoveu um dos episódios de repressão popular mais cruéis da história inglesa. Onde uma população desarmada (leia-se: homens, mulheres e CRIANÇAS), foram brutalmente reprimidos, em uma tarde que findou com alguns mortos e muitos feridos (novamente, estamos falando também de crianças).

Alguns pontos fortes da produção são o figurino, a direção de arte e a cenografia. Um aspecto que chama atenção para o cuidado com a caracterização está nos dentes dos personagens (esse é um ponto que sempre me chama muita atenção). Em pleno século XIX o que se espera, ao retratar uma população miserável, é que a dentição corresponda à realidade da época. E o trabalho da equipe de maquiagem do longa não só contempla essa estética, como apresenta “diferentes tipos de dentes” que variam de acordo com a classe e posição social dos personagens. Isso pode parecer besteira, mas denota um cuidado singular à produção. Para além disso, as vestes utilizadas para a fria locação do noroeste inglês também evidencia as condições de vida das esferas sociais representadas. Elogios devem ir para Jacqueline Durran (figurino).

A direção de arte de Jane Brodier e a Cenografia de Charoltte Dirickx também são muito felizes ao trazer à tela diferenças gritantes entre as locações de St. Peter’s Field e da tão importante Londres. As construções, as paisagens e cenários explicitam as diferentes condições de vida de um reino decadente. E, ao retratar Manchester, trazem ao público um misto de beleza bucólica com angústia pela pobreza e as mazelas do período (que incluíam, para além da fome, epidemias e mortalidade elevada).

Essa atmosfera também se reforça pela película, que traz a sensação de filme antigo colorido posteriormente. O elenco (e seu belíssimo sotaque) traz a cena um trabalho bonito dentro do lento ritmo do filme. Sem destaques, mas sendo um conjunto coeso de elenco bem preparado.

A narrativa do longa-metragem é arrastada. Apresenta de maneira lenta os principais atores envolvidos no evento principal da trama, mostrando a organização paulatina, junto a crescente insatisfação popular. Os diálogos são muito elucidativos, e mostram uma população, apesar de muito pobre, muito lúcida frente à própria condição. No entanto, não se desenrola de maneira envolvente a ponto de trazer uma identificação profunda do público com os personagens, fazendo com que o filme seja de fato cansativo ao expectador. No entanto, é uma proposta interessante de trazer às telas uma história tão emblemática e não tão ventilada, como outras tantas batalhas ocorridas nos séculos XVIII e XIX. Para os amantes de filmes históricos, que se interessam por entender o pano de fundo dos acontecimentos que marcaram a caminhada da sociedade ocidental, é uma boa opção.

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