Pet Story
Ao sair da exibição para a imprensa de Pets: A Vida Secreta dos Bichos, nova animação grandiosa da Universal (que vem acompanhada de um prefácio estrelado pelos Minions, portanto trate de chegar cedo e repare na ligação que o curta possui com Pets), me peguei pensando sobre o pitch – as chamadas ideias na hora de desenvolver um longa-metragem mirado ao grande público, seja na forma de uma animação ou live-action. O tipo de pensamento que irá ditar tendência, o que está ocorrendo atualmente no mundo, ou algo defasado que precisa ser novamente impresso no consciente coletivo.
Em Pets, o mote é o amor incondicional de animais de estimação por seus donos e vice-versa. Ou seja, se você for levar seus filhos para uma sessão do filme e não tiver um pet, pode ter certeza de que esta ideia será implantada em seu lar nas próximas semanas incessantemente, ou quem sabe nos próximos meses. Isso até faz pensar se a ideia não foi financiada por empresas de adoção de animais e pet shops. Deixando as brincadeiras de lado, vale dizer também que esta é uma animação bem inofensiva, transparecendo toda sua inocência e terminando por ser recomendada para crianças mais novinhas.
Existem animações que satisfazem as crianças, ao mesmo tempo não se tornando um exercício torturante para os adultos, muito pelo contrário, dando-lhes inclusive algumas surpresas que passam despercebidas pelos miúdos. Este não é tanto o caso com Pets. Aqui, somos apresentados a toda uma gama de animais de estimação, desde peixinhos dourados, gatos e passarinhos, até os cachorros, onde concentra-se grande parte do elenco. O protagonista é Max (voz do humorista Louis C. K. no idioma original, e Danton Mello na dublagem brasileira), um cãozinho extremamente devoto a sua dona, Katie (voz de Ellie Kemper), depois que esta o resgatou de uma caixa no meio da rua.
Como visto nas prévias, a abordagem seria “o que fazem os animais depois que seus donos saem para trabalhar e assim permanecem pela maior parte do dia”. Bem, eles ficam a esperar o retorno de seus humanos, confabulam, se reúnem e até mesmo dão festas – algumas bem extravagantes. Mas a trama não para por aí (já que seria difícil preencher quase duas horas de exibição apenas com esta premissa), e temos a rivalidade entre Max e um novo cachorro, adotado por sua “mãe”. Duke (Eric Stonestreet) é o gigante peludo que chega para disputar o amor incondicional de sua dona com o protagonista. E se você chegou à conclusão de que esta história lembra demais a rivalidade entre o brinquedo novo Buzz Lightyear e o antigo, Woody, pela fidelidade do dono Andy, está correto, porque o que temos aqui é uma reciclagem do roteiro de Toy Story (1995), da rival Disney / Pixar.
Existe ainda um desvio na história que leva os irmãos aos esgotos para uma sociedade secreta de animais criminosos, que conspiram contra os humanos, comandados pelo coelhinho Snowball (Kevin Hart), e seu resgate arquitetado pelo restante da turminha. Como dito, a Illumination Entertainment, estúdio responsável pelo braço de animação da Universal, entrega mais uma produção bobinha e inocente – no melhor sentido de tais palavras – que segue de perto a cartilha do que foi apresentado em Meu Malvado Favorito (2010) e seu derivado Os Minions (2015). Esta é a linha seguida aqui, porém, ao contrário das citadas, Pets não exibe grande originalidade na hora de criar seus personagens, deixando pouco espaço para se tornarem tão memoráveis quanto Gru ou seus asseclas amarelos.
Pets é bonitinho e sua animação é de primeira (o estúdio está de parabéns, dominar totalmente a arte é com estes grandes colossos do meio), mas fora isso não entrega qualquer subtexto, sendo inteiramente uma aventura escapista. Quem sabe Sing: Quem Canta Seus Males Espanta, novo produto da casa que a Illumination lança no fim do ano (e que possui uma desavergonhada inserção dentro de Pets – repare na traseira do ônibus que o coelho dirige), chegue mais próximo de se tornar inesquecível.