sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | Pieces of a Woman: Vanessa Kirby e Shia LaBeouf em chocante drama familiar

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Filme assistido durante o Festival de Toronto 2020

Entre contrações pulsantes e gemidos dilacerados que anunciam as dores do parto, Pieces of a Woman (ou Mulher em Pedaços, em tradução) desconstrói uma muralha de padrões, estereótipos ilusórios e fábulas romantizadas do processo de um parto. Distante das fotos quase estrategicamente posadas e com filtro preto e branco que decoram os feeds do Instagram, a primeira meia hora do novo longa de Kornél Mundruczó é um soco na boca do estômago, um choque inesperado para a audiência. Como invasores da mais profunda e tênue intimidade de um casal, somos levados para o que talvez seja a cena de parto mais visceral da história do cinema.



Sem eufemismos, floreios ou alívios cômicos, testemunhamos literalmente todas as dores de um parto, pela brilhante perspectiva da atriz Vanessa Kirby. Aqui, como uma mulher que decidiu adotar um método cada vez mais comum entre as gestantes, ela tenta trazer sua filha à vida em casa, com instrumentos mais escassos do que se veria em um hospital, contando apenas com o suporte do seu esposo e de uma doula. E o que inicialmente deveria ter sido uma jornada natural e purista, se transforma em um rápido pesadelo diante dos nossos olhos, à medida que presenciamos o sonho de uma nova família se sufocar a ponto de sequer respirar.

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Pieces of a Woman é uma avalanche avassaladora de sensações, que começa no nosso emocional e chega a se alastrar pelo corpo como uma intensa e insustentável febre. Sinestésico do começo ao fim, observamos de perto também a desconstrução de uma mulher, que já idealizada como mãe, é forçada a se digladiar com suas próprias transformações hormonais. Mãe psicológica, mas não fisicamente, seu corpo transborda os restos do que deveria ser a maternidade. Seu seio produz leite, mas não há uma criança. Seu vigor nascido na gestação se vai junto com sua pequena filha, assim como tudo aquilo que a rodeia. Trabalho, casamento e amigos se desmoronam, com a nossa protagonista cambaleando sem tentar entender o que e quem ela é após uma perda tão inestimável.

E o longa roteirizado por Kata Wéber explora com uma voracidade invasiva todos os átrios das consequências de uma atitude mal pensada, mostrando nitidamente como nossa vida pode mudar em uma fração de minutos. Trazendo Kirby na melhor atuação de sua vida, Pieces of a Woman é a combinação hipnotizante de dois atores profundamente distintos, mas que de maneira maestral se completam. Com Shia LaBeouf mais uma vez provando seu brilhantismo artístico diante das telas, o drama nos leva a conhecer os extremos desse relacionamento tão atípico e que logo de cara é capaz de nos cativar por sua dinâmica.

Com um desfecho um pouco acelerado demais, o drama sobre o luto e sua diversas faces é dono de uma profundidade inesgotável. Particularmente identificável de maneira exageradamente íntima com as mulheres, Pieces of a Woman é um filme que traz uma reflexão intimista para cada tipo de público, à medida que traz à luz uma narrativa pouco ou quase nunca relatada nas telonas. Sem censura e algumas vezes brutal, o longa – produzido por Martin Scorsese e adquirido pela Netflix – ainda marca um tempo novo na carreira de Vanessa Kirby, que nunca esteve tão perto de uma estatueta do Oscar como agora.

 

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Sem eufemismos, floreios ou alívios cômicos, testemunhamos literalmente todas as dores de um parto, pela brilhante perspectiva da atriz Vanessa Kirby. Aqui, como uma mulher que decidiu adotar um método cada vez mais comum entre as gestantes, ela tenta trazer sua filha à vida em casa, com instrumentos mais escassos do que se veria em um hospital, contando apenas com o suporte do seu esposo e de uma doula. E o que inicialmente deveria ter sido uma jornada natural e purista, se transforma em um rápido pesadelo diante dos nossos olhos, à medida que presenciamos o sonho de uma nova família se sufocar a ponto de sequer respirar.

Pieces of a Woman é uma avalanche avassaladora de sensações, que começa no nosso emocional e chega a se alastrar pelo corpo como uma intensa e insustentável febre. Sinestésico do começo ao fim, observamos de perto também a desconstrução de uma mulher, que já idealizada como mãe, é forçada a se digladiar com suas próprias transformações hormonais. Mãe psicológica, mas não fisicamente, seu corpo transborda os restos do que deveria ser a maternidade. Seu seio produz leite, mas não há uma criança. Seu vigor nascido na gestação se vai junto com sua pequena filha, assim como tudo aquilo que a rodeia. Trabalho, casamento e amigos se desmoronam, com a nossa protagonista cambaleando sem tentar entender o que e quem ela é após uma perda tão inestimável.

E o longa roteirizado por Kata Wéber explora com uma voracidade invasiva todos os átrios das consequências de uma atitude mal pensada, mostrando nitidamente como nossa vida pode mudar em uma fração de minutos. Trazendo Kirby na melhor atuação de sua vida, Pieces of a Woman é a combinação hipnotizante de dois atores profundamente distintos, mas que de maneira maestral se completam. Com Shia LaBeouf mais uma vez provando seu brilhantismo artístico diante das telas, o drama nos leva a conhecer os extremos desse relacionamento tão atípico e que logo de cara é capaz de nos cativar por sua dinâmica.

Com um desfecho um pouco acelerado demais, o drama sobre o luto e sua diversas faces é dono de uma profundidade inesgotável. Particularmente identificável de maneira exageradamente íntima com as mulheres, Pieces of a Woman é um filme que traz uma reflexão intimista para cada tipo de público, à medida que traz à luz uma narrativa pouco ou quase nunca relatada nas telonas. Sem censura e algumas vezes brutal, o longa – produzido por Martin Scorsese e adquirido pela Netflix – ainda marca um tempo novo na carreira de Vanessa Kirby, que nunca esteve tão perto de uma estatueta do Oscar como agora.

 

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