sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar – Insanidade em Doses Controladas

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Jack Sparrow no automático

O Capitão Jack Sparrow (Johnny Depp) se vê no meio de um evento de proporções cataclísmicas, que envolve a busca de algum artefato místico, com o propósito de derrotar um vilão apresentado como ameaça sobrenatural, no interim sendo o cupido para um jovem casal, e disparando frases de efeito e gags em seu repertório. Bem, esta poderia ser facilmente a sinopse de qualquer filme da franquia Piratas do Caribe, série que funciona dentro de sua fórmula pré-estabelecida e repetitiva como nenhuma outra no cinema comercial hoje (talvez somente Transformers).

O motivo apenas martela um fato muito sabido, o público gosta de ver sempre a mesma coisa. Dê-lhe algo novo e será rejeitado. Bom, nem sempre. Muitos afirmam que existe uma fórmula dos filmes da Marvel, ou ainda que qualquer série cinematográfica, dentro de seus episódios, é repetitiva, mas isso não é necessariamente verdade.



Veja, por exemplo, as mudanças de tom, teor e estética trazidas por diferentes cineastas para os filmes Missão: Impossível e a franquia Alien (digam o que quiserem os detratores, os filmes são totalmente opostos um do outro). Se quisermos ir mais longe e pegar como exemplo a “fórmula Marvel”, não encontraremos tantas semelhanças assim em filmes como O Primeiro Vingador (2011) e Soldado Invernal (2014), ou Homem de Ferro (2008) e Homem de Ferro 3 (2013), e ainda Os Vingadores (2012) e a Era de Ultron (2015).

Piratas do Caribe é a mesma piada contada pela quinta vez. Mas admito, ainda é relativamente engraçada. O primeiro filme, datado de 2003, foi inovador pela forma como Depp criou seu herói, um pirata afeminado e cambaleante, um bêbado sem princípios, ao qual o ator espelhou o roqueiro Keith Richards, dos Rolling Stones (não por acaso o músico deu as caras na franquia como o pai de Jack). A novidade de se afastar do típico homem de ação forte, íntegro e duro poderia ter se tornado um desastre, mas ao invés rendeu a Depp uma indicação ao Oscar.

Os anos se passaram e as continuações ficaram cada vez mais incoerentes e incompreensíveis. As regras eram subvertidas a cada momento, dentro de sua própria lógica de universo. Uma hora Jack está morto, depois vivo. Para o vilão ser derrotado é preciso isso, não, não era bem isso, é aquilo outro. O roteiro parece aquela criança que muda as regras do jogo conforme lhe convém de cinco em cinco minutos. Não por acaso, o público alvo para o qual esta franquia é mirada são justamente elas, as crianças bem pequenas. E com isso não estou dizendo que os mais velhos não possam aproveitá-la, como eu fiz no mais recente exemplar da franquia.

Para tentarmos retirar o máximo de proveito do novo Piratas do Caribe é necessária certa meditação. Entrar de mente limpa. É necessário abstrair e entender que o que ganharemos será exatamente o que já tivemos antes, sem qualquer mudança mínima. Para quem já gosta talvez seja um deleite. Para os que criam barreira, o ponto positivo é se tratar do longa de menor duração na franquia. Quem espera alguma reinvenção da roda com a entrada dos novos diretores Joachim Ronning e Espen Sandberg, do ótimo Expedição Kon Tiki (2012), pare! Você está fazendo isso errado.

Na trama, o jovem Henry (Brenton Thwaites), filho de Will Turner (Orlando Bloom) e Elizabeth Swann (Keira Knightley), deseja quebrar a maldição do pai, aprisionado no navio de Davy Jones (Bill Nighy). Para isso, o galante jovem herói, que faz as vias do pai na primeira trilogia e do sacerdote vivido por Sam Claflin no quarto filme, precisa encontrar o tridente de Poseidon – o MacGuffin da vez. E como nenhum galã funciona sozinho, A Vingança de Salazar trata de incluir a astrônoma Carina Smyth (a filha de brasileira Kaya Scodelario), tida como bruxa por seus conhecimentos celestiais, para completar com ele o formatinho do coração. A moça guarda alguns segredos próprios, que incluem elos de sangue com personagens da franquia.

No meio do caminho está o Jack Sparrow de Johnny Depp, que em vias de completar 54 anos, e diversos problemas na vida pessoal (inclusive de saúde com álcool e drogas, e uma queda abismal de popularidade após os escândalos com a ex-mulher, a atriz Amber Heard), aparenta nas telas o cansaço e a falta de inspiração para dar vida ao personagem pela quinta vez. É o que alguns especialistas chamavam de alegria na atuação, ou seja, perceber quando um ator entra de cabeça num projeto ou apenas bate ponto para descontar o cheque no fim do dia. Depp, apesar de algumas boas tiradas, escorrega mais para o segundo quesito.

Em contrapartida, temos a alma e alegria do filme com o vilão mais carismático que Piratas do Caribe já viu. O espanhol Javier Bardem está calejado em criar antagonistas icônicos e ameaçadores nas telonas. Após seu Oscar por Onde os Fracos Não Têm Vez (2007), no qual viveu o perturbador Anton Chigurh, o ator marcou a série 007 na era Daniel Craig como Raul Silva – o vilão mais memorável da nova leva. Bardem repete o feito na pele do Capitão Armando Salazar, apelidado de “o matador”, o sujeito é um oficial condecorado da Marinha Espanhola, especialista em caçar e exterminar piratas, de forma maníaca. Isto é, até conhecer e ser trapaceado por um jovem Jack Sparrow.

A ligação de passado e futuro na série com este novo episódio se mostra um interessante elemento e um diferencial. Se por um lado temos esta conexão bem pessoal de Jack com o vilão Salazar, saído diretamente de seu passado, por outro, esta incursão da série bem que poderia se chamar Piratas do Caribe: A Nova Geração, com a presença de Henry Turner e de Carina Smyth, herdeiros das aventuras de capa e espada – resta saber se serão mantidos para uma eventual e certeira continuação. Fora isso, A Vingança de Salazar reserva algumas grandes cenas de ação, os chamarizes deste tipo de filme, que se traduzem como os melhores números musicais dentro de um espetáculo do gênero. Aqui, temos a cena que abre o longa, com o roubo ao banco de Jack e seus piratas – simplesmente impagável; e a cena da guilhotina, quando Sparrow é condenado à morte pelo novo método – garantido de arrancar muitas risadas.

Quando em minha crítica de Alien: Covenant eu afirmei ser mais do mesmo, estava equivocado. A definição ideal talvez fosse ‘menos do mesmo’. Piratas do Caribe sim,é mais do mesmo. No entanto, é também a continuação mais satisfatória da franquia e o melhor filme depois do original. Ah, e como sempre nos filmes da Disney, fiquem após os créditos, vem mais coisa por aí.

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O motivo apenas martela um fato muito sabido, o público gosta de ver sempre a mesma coisa. Dê-lhe algo novo e será rejeitado. Bom, nem sempre. Muitos afirmam que existe uma fórmula dos filmes da Marvel, ou ainda que qualquer série cinematográfica, dentro de seus episódios, é repetitiva, mas isso não é necessariamente verdade.

Veja, por exemplo, as mudanças de tom, teor e estética trazidas por diferentes cineastas para os filmes Missão: Impossível e a franquia Alien (digam o que quiserem os detratores, os filmes são totalmente opostos um do outro). Se quisermos ir mais longe e pegar como exemplo a “fórmula Marvel”, não encontraremos tantas semelhanças assim em filmes como O Primeiro Vingador (2011) e Soldado Invernal (2014), ou Homem de Ferro (2008) e Homem de Ferro 3 (2013), e ainda Os Vingadores (2012) e a Era de Ultron (2015).

Piratas do Caribe é a mesma piada contada pela quinta vez. Mas admito, ainda é relativamente engraçada. O primeiro filme, datado de 2003, foi inovador pela forma como Depp criou seu herói, um pirata afeminado e cambaleante, um bêbado sem princípios, ao qual o ator espelhou o roqueiro Keith Richards, dos Rolling Stones (não por acaso o músico deu as caras na franquia como o pai de Jack). A novidade de se afastar do típico homem de ação forte, íntegro e duro poderia ter se tornado um desastre, mas ao invés rendeu a Depp uma indicação ao Oscar.

Os anos se passaram e as continuações ficaram cada vez mais incoerentes e incompreensíveis. As regras eram subvertidas a cada momento, dentro de sua própria lógica de universo. Uma hora Jack está morto, depois vivo. Para o vilão ser derrotado é preciso isso, não, não era bem isso, é aquilo outro. O roteiro parece aquela criança que muda as regras do jogo conforme lhe convém de cinco em cinco minutos. Não por acaso, o público alvo para o qual esta franquia é mirada são justamente elas, as crianças bem pequenas. E com isso não estou dizendo que os mais velhos não possam aproveitá-la, como eu fiz no mais recente exemplar da franquia.

Para tentarmos retirar o máximo de proveito do novo Piratas do Caribe é necessária certa meditação. Entrar de mente limpa. É necessário abstrair e entender que o que ganharemos será exatamente o que já tivemos antes, sem qualquer mudança mínima. Para quem já gosta talvez seja um deleite. Para os que criam barreira, o ponto positivo é se tratar do longa de menor duração na franquia. Quem espera alguma reinvenção da roda com a entrada dos novos diretores Joachim Ronning e Espen Sandberg, do ótimo Expedição Kon Tiki (2012), pare! Você está fazendo isso errado.

Na trama, o jovem Henry (Brenton Thwaites), filho de Will Turner (Orlando Bloom) e Elizabeth Swann (Keira Knightley), deseja quebrar a maldição do pai, aprisionado no navio de Davy Jones (Bill Nighy). Para isso, o galante jovem herói, que faz as vias do pai na primeira trilogia e do sacerdote vivido por Sam Claflin no quarto filme, precisa encontrar o tridente de Poseidon – o MacGuffin da vez. E como nenhum galã funciona sozinho, A Vingança de Salazar trata de incluir a astrônoma Carina Smyth (a filha de brasileira Kaya Scodelario), tida como bruxa por seus conhecimentos celestiais, para completar com ele o formatinho do coração. A moça guarda alguns segredos próprios, que incluem elos de sangue com personagens da franquia.

No meio do caminho está o Jack Sparrow de Johnny Depp, que em vias de completar 54 anos, e diversos problemas na vida pessoal (inclusive de saúde com álcool e drogas, e uma queda abismal de popularidade após os escândalos com a ex-mulher, a atriz Amber Heard), aparenta nas telas o cansaço e a falta de inspiração para dar vida ao personagem pela quinta vez. É o que alguns especialistas chamavam de alegria na atuação, ou seja, perceber quando um ator entra de cabeça num projeto ou apenas bate ponto para descontar o cheque no fim do dia. Depp, apesar de algumas boas tiradas, escorrega mais para o segundo quesito.

Em contrapartida, temos a alma e alegria do filme com o vilão mais carismático que Piratas do Caribe já viu. O espanhol Javier Bardem está calejado em criar antagonistas icônicos e ameaçadores nas telonas. Após seu Oscar por Onde os Fracos Não Têm Vez (2007), no qual viveu o perturbador Anton Chigurh, o ator marcou a série 007 na era Daniel Craig como Raul Silva – o vilão mais memorável da nova leva. Bardem repete o feito na pele do Capitão Armando Salazar, apelidado de “o matador”, o sujeito é um oficial condecorado da Marinha Espanhola, especialista em caçar e exterminar piratas, de forma maníaca. Isto é, até conhecer e ser trapaceado por um jovem Jack Sparrow.

A ligação de passado e futuro na série com este novo episódio se mostra um interessante elemento e um diferencial. Se por um lado temos esta conexão bem pessoal de Jack com o vilão Salazar, saído diretamente de seu passado, por outro, esta incursão da série bem que poderia se chamar Piratas do Caribe: A Nova Geração, com a presença de Henry Turner e de Carina Smyth, herdeiros das aventuras de capa e espada – resta saber se serão mantidos para uma eventual e certeira continuação. Fora isso, A Vingança de Salazar reserva algumas grandes cenas de ação, os chamarizes deste tipo de filme, que se traduzem como os melhores números musicais dentro de um espetáculo do gênero. Aqui, temos a cena que abre o longa, com o roubo ao banco de Jack e seus piratas – simplesmente impagável; e a cena da guilhotina, quando Sparrow é condenado à morte pelo novo método – garantido de arrancar muitas risadas.

Quando em minha crítica de Alien: Covenant eu afirmei ser mais do mesmo, estava equivocado. A definição ideal talvez fosse ‘menos do mesmo’. Piratas do Caribe sim,é mais do mesmo. No entanto, é também a continuação mais satisfatória da franquia e o melhor filme depois do original. Ah, e como sempre nos filmes da Disney, fiquem após os créditos, vem mais coisa por aí.

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