quinta-feira, setembro 12, 2024

Crítica | Pisque Duas Vezes: Zoe Kravitz surpreende os fãs de thriller psicológico com excepcional e exuberante estreia na direção

As cores vibrantes desta isolada e paradisíaca ilha são um colírio para os olhos. A exuberância de seu visual natural e rústico exalam um frescor. É como se essas imagens tão vivas possuíssem um aroma palpável, que transborda para fora das telas, mexendo com nossos sentidos. Zoë Kravitz faz sua estreia na direção de maneira pouco espalhafatosa, como se mais uma vez, mais um experiente ator tentasse a sorte do lado oposto da câmera. Nada de novo. Exceto que Pisque Duas Vezes não é qualquer tentativa cinematográfica de projeção e entrada no seleto grupo de excelentes diretores, existente em Hollywood. Com um olhar cirúrgico e um pulso firme para a construção de inesperados planos sequência, a filha do famoso rockstar Lenny Kravitz tem muito a dizer…e a nos ensinar.

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Sempre abusando do brilho nos tons avermelhados e claros e do contraste nas cores mais terrosas e rústicas, o thriller psicológico acompanha a história de um magnata da tecnologia (Channing Tatum) tentando se reconciliar com seus comportamentos indiscretos e com a opinião pública. Em busca de redenção e perdão, ele faz seu retorno à mídia como um recomeço, conforme mantém uma vida idílica e bem Hollywood-life-style nessa deserta praia com seus amigos. Com festas inesgotáveis, um visual quase celestial e corpos sedutores banhados por um sol escaldante, ele e seus convidados vivem os sabores de uma espiral de prazeres carnais inesgotáveis. Tudo gira em torno de uma grande festa, regada por álcool, substâncias ilícitas e risos desesperadores. Até que algo começa a sair do controle, ruindo essa arquitetada miragem.

E embora saibamos que estamos diante de um suspense psicológico, a sinestésica experiência com Pisque Duas Vezes é sempre um desembrulhar de caixas muito bem ornamentadas, cuidadosamente talhadas e seladas com embrulhos suntuosos. Como uma espécie de quebra-cabeças ou uma melindrosa partida de xadrez, o longa explora a premissa do assédio/abuso sexual por uma ótica muito mais original, brincando com as sensações de seus personagens e da audiência, à medida em que nos convida a entendê-los e gradativamente decifrá-los. Nos levando por um jogo psicótico e psicodélico, o longa vai desafiando nossa percepção, sempre nos surpreendendo e chocando.

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Nesse labirinto festivo rodado em pouquíssimos sets, Kravitz faz sua triunfal estreia diretorial, trazendo identidade, conceito e uma excelente história para contar. E ainda que a temática em si não seja nova, sua abordagem é convincente, original e bebe de relatos horripilantes vinculados ao magnata Jeffrey Epstein e sua misteriosa ilha. Trazendo Tatum em sua estreia como vilão, Pisque Duas Vezes finalmente nos mostra um outro nível de maturidade profissional do ator, que migra de papeis românticos e cômicos para um lado mais sombrio e desafiador. Provando que é capaz de oferecer muito mais do que jamais fizera em Hollywood, ele nos entrega sua melhor e mais complexa performance.

Naomi Ackie, Christian Slater, Adria Arjona, Alia Shawkat, Haley Joel Osment, Simon Rex e Geena Davis completam o elenco com brilhantismo, agregando pavor, tensão e angústia com suas atuações. Contribuindo para a crescente tensão que apenas eclode em seu clímax, os demais protagonistas dividem a tela com Tatum em nível de igualdade, ajudando a fazer do roteiro de Kravitz e de ET Feigenbaum uma experiência cinematográfica que nos absorve para dentro da tela e que nos torna personagens inaudíveis, tamanho nosso envolvimento com cada quadro.

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Marcado por uma trilha sonora ensurdecedora que contribui para a atmosfera de constante estado de alerta, o thriller psicológico é uma das melhores surpresas do cinema em 2024 e foge aos padrões do que fora lançado nas telonas até o momento. Se privando da necessidade de se explicar excessivamente, Pisque Duas Vezes apenas nos toma pelas mãos na expectativa de que saibamos ler as entrelinhas. Fazendo de cada elemento de seu design de produção um artefato fundamental em seu storytelling, a estreia de Zoë na direção é um convite à sua ousada visão criativa e ao que ela é capaz de nos entregar em meio a um cinema contemporâneo que ainda se retroalimenta de sequências que ninguém pediu e remakes que ninguém quer.

 

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