domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | ‘Pose’ aposta no drama familiar para o 5º episódio da última temporada

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Apesar de ter esbarrado em certos obstáculos na semana passada, Pose continua, episódio a episódio, mostrando que é uma das melhores e mais importantes séries da atualidade – e até mesmo da história. Através de personagens complexos e temas cuja importância se estende para os dias de hoje, a produção, criada por Ryan Murphy, vem se afastando de uma superficialidade iconográfica desde a temporada anterior e abrindo espaço para reflexões sobre o que significa ser humano e se colocar no lugar do outro, canalizando esforços para o que a comunidade LGBTQ+ enfrenta numa sociedade movida pelo tradicionalismo retrógrado.

Caminhando para o series finale, que será exibido em pouco tempo, é apenas natural que Murphy já venha finalizando os arcos dos protagonistas, como fez com Pray Tell (Billy Porter) no quarto capítulo, por exemplo. Agora, chegou a hora de termos um relance do que o futuro aguarda para nossas amadas personagens, especialmente no tocante a Angel (Indya Moore), que, depois de cair inúmeras vezes, encontrou seu final feliz ao lado de Papi (Angel Bismark Curiel), ambos prestes a unirem laços matrimoniais – mas, como é de se esperar, regados a mais problemas que surgem quando tudo parece perfeito.



A princípio, Steven Canals, que fica a encargo da direção e assina o roteiro ao lado de Brad Falchuk, resolve retomar a leveza atmosférica de capítulos anteriores, indicando a nós que, talvez, faça uso de um filler para dar mais dinamismo a uma narrativa que vem se concentrando com força no flashback. Entretanto, essa sutileza aponta para a evolução do outrora conturbado relacionamento entre Angel e Blanca (Mj Rodriguez), principalmente quando esta descobriu que a filha estava usando drogas; e do encerramento entre Blanca e Elektra (Dominique Jackson) mais uma vez, mostrando que o amadurecimento chegou para ambas as personagens em um ciclo de amor e respeito mútuos que ainda tem muito a ser explorado – por mais que o fim esteja próximo. É preciso dizer que certas escolhas artísticas talvez pequem por não se casarem com a trama principal, como colocar Elektra em uma breve narração sobre os negócios que fechou com a máfia nova-iorquina.

Não se enganem: o enredo que inicia o episódio, intitulado “Something Borrowed, Something Blue”, é o dá forças para todos os eventos consecutivos, mas não a condução da cena de abertura – algo que deixa o restante da iteração um pouco desconexa. Felizmente, Canals é ágil o suficiente para perceber os erros que cometeu e tentar repará-los antes das revelações finais e de mais uma reviravolta que coloca os laços de todos em xeque. Elektra, chamando a si mesma como uma “reencarnação de Cleópatra”, sente-se completa por ter vencido todas as adversidades e poder dar o que suas filhas bem entenderem – uma reforma absoluta para Blanca e o casamento dos sonhos para Angel -, e é justamente isso que torna a história ainda mais densa.

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Novamente, nota-se um emprego antológico que, apesar de não seguir a mesma estrutura dos anos anteriores, é uma opção interessante para a brevidade dessa série tão implacável. Se observarmos cada um dos capítulos como pequenos contos de superação e de amor-próprio, é possível até mesmo traçar uma linha separada de cada protagonista, que une-se pelo momento em que vivem e pela cultura do ballroom, que permitiu que se transformassem numa família. Tais predileções também impedem que as fórmulas são jogadas para debaixo do tapete e se respaldam numa liberdade maior que transmutam a si mesmas conforme o que se quer contar – nesse caso, apostando na exuberância de um casamento e de uma festa de despedida de solteira em contraposição ao melodramático momento em que escolhas irresponsáveis podem mudar uma vida inteira.

Os holofotes são destinados a Angel e a Papi, essencialmente, mas, como é de se esperar, Jackson rouba a cena com mais uma performance soberba como Elektra. A matriarca da antiga Casa Abundance não leva desaforos para casa, como bem sabemos, e repete o mesmo discurso recheado de sarcasmo e ironia para um dono de uma loja de vestidos que se recusa a atendê-las por seres mulheres transsexuais – colocando em voga, como é de se esperar, um preconceito injustificável que vem acompanhando a comunidade queer desde sempre. Porém, tudo é mascarado com uma veia ácida que não funcionaria em mais nenhum lugar além daqui.

É triste pensar que Pose está chegando ao fim e que, a cada semana, percebemos que o adeus já é inevitável. Em sua mais recente entrada, os pontuais equívocos são ajustados, apesar de ainda existirem – mas vê-se que, ao que parece, estamos sendo preparados para uma emocionante conclusão.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Apesar de ter esbarrado em certos obstáculos na semana passada, Pose continua, episódio a episódio, mostrando que é uma das melhores e mais importantes séries da atualidade – e até mesmo da história. Através de personagens complexos e temas cuja importância se estende para os dias de hoje, a produção, criada por Ryan Murphy, vem se afastando de uma superficialidade iconográfica desde a temporada anterior e abrindo espaço para reflexões sobre o que significa ser humano e se colocar no lugar do outro, canalizando esforços para o que a comunidade LGBTQ+ enfrenta numa sociedade movida pelo tradicionalismo retrógrado.

Caminhando para o series finale, que será exibido em pouco tempo, é apenas natural que Murphy já venha finalizando os arcos dos protagonistas, como fez com Pray Tell (Billy Porter) no quarto capítulo, por exemplo. Agora, chegou a hora de termos um relance do que o futuro aguarda para nossas amadas personagens, especialmente no tocante a Angel (Indya Moore), que, depois de cair inúmeras vezes, encontrou seu final feliz ao lado de Papi (Angel Bismark Curiel), ambos prestes a unirem laços matrimoniais – mas, como é de se esperar, regados a mais problemas que surgem quando tudo parece perfeito.

A princípio, Steven Canals, que fica a encargo da direção e assina o roteiro ao lado de Brad Falchuk, resolve retomar a leveza atmosférica de capítulos anteriores, indicando a nós que, talvez, faça uso de um filler para dar mais dinamismo a uma narrativa que vem se concentrando com força no flashback. Entretanto, essa sutileza aponta para a evolução do outrora conturbado relacionamento entre Angel e Blanca (Mj Rodriguez), principalmente quando esta descobriu que a filha estava usando drogas; e do encerramento entre Blanca e Elektra (Dominique Jackson) mais uma vez, mostrando que o amadurecimento chegou para ambas as personagens em um ciclo de amor e respeito mútuos que ainda tem muito a ser explorado – por mais que o fim esteja próximo. É preciso dizer que certas escolhas artísticas talvez pequem por não se casarem com a trama principal, como colocar Elektra em uma breve narração sobre os negócios que fechou com a máfia nova-iorquina.

Não se enganem: o enredo que inicia o episódio, intitulado “Something Borrowed, Something Blue”, é o dá forças para todos os eventos consecutivos, mas não a condução da cena de abertura – algo que deixa o restante da iteração um pouco desconexa. Felizmente, Canals é ágil o suficiente para perceber os erros que cometeu e tentar repará-los antes das revelações finais e de mais uma reviravolta que coloca os laços de todos em xeque. Elektra, chamando a si mesma como uma “reencarnação de Cleópatra”, sente-se completa por ter vencido todas as adversidades e poder dar o que suas filhas bem entenderem – uma reforma absoluta para Blanca e o casamento dos sonhos para Angel -, e é justamente isso que torna a história ainda mais densa.

Novamente, nota-se um emprego antológico que, apesar de não seguir a mesma estrutura dos anos anteriores, é uma opção interessante para a brevidade dessa série tão implacável. Se observarmos cada um dos capítulos como pequenos contos de superação e de amor-próprio, é possível até mesmo traçar uma linha separada de cada protagonista, que une-se pelo momento em que vivem e pela cultura do ballroom, que permitiu que se transformassem numa família. Tais predileções também impedem que as fórmulas são jogadas para debaixo do tapete e se respaldam numa liberdade maior que transmutam a si mesmas conforme o que se quer contar – nesse caso, apostando na exuberância de um casamento e de uma festa de despedida de solteira em contraposição ao melodramático momento em que escolhas irresponsáveis podem mudar uma vida inteira.

Os holofotes são destinados a Angel e a Papi, essencialmente, mas, como é de se esperar, Jackson rouba a cena com mais uma performance soberba como Elektra. A matriarca da antiga Casa Abundance não leva desaforos para casa, como bem sabemos, e repete o mesmo discurso recheado de sarcasmo e ironia para um dono de uma loja de vestidos que se recusa a atendê-las por seres mulheres transsexuais – colocando em voga, como é de se esperar, um preconceito injustificável que vem acompanhando a comunidade queer desde sempre. Porém, tudo é mascarado com uma veia ácida que não funcionaria em mais nenhum lugar além daqui.

É triste pensar que Pose está chegando ao fim e que, a cada semana, percebemos que o adeus já é inevitável. Em sua mais recente entrada, os pontuais equívocos são ajustados, apesar de ainda existirem – mas vê-se que, ao que parece, estamos sendo preparados para uma emocionante conclusão.

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