As comédias são um dos produtos mais atrativos quando se trata de produções audiovisuais. Diferente de alguns gêneros, elas são capazes de atrair diversos tipos de públicos diferentes e assim unificá-los. Existem as boas comédias, as medianas e aquelas que não chegam nem perto de demonstrarem qualquer qualidade. O ponto é que parece fácil, mas fazer comédia é difícil, especialmente quando a intenção é justamente a de unir todos os tipos de pessoas e públicos.
Professor Iglesias estreou na Netflix com uma proposta um pouco diferente das que temos visto atualmente no gênero. Criada por Kevin Hench (Last man Standing) e com Gabriel Iglesias como protagonista, aqui o espectador acompanha a trama do professor de História do ensino médio, Gabe, de natureza boa cujo excelente trabalho consiste em estimular seus alunos, um grupo de desajustados, a buscarem algo melhor diante das adversidades da vida.
A série tem uma vibe noventista e anos 2000 – aqui se encontra a diferença -, que lembra um pouco a inocência de produções como Um Maluco no Pedaço, Kenan & Kell e até mesmo Todo Mundo Odeia o Chris (que já é de 2005). Neste clima um tanto quanto nostálgico, a criação de Hench desenvolve sua história com uma plateia de fundo assistindo à gravação. O roteiro conta com a excelente capacidade cômica de Gabriel que torna impossível imaginar outra pessoa no lugar interpretando o Professor mais querido do Woodrow Wilson High School.
Além de contar com piadas divertidíssimas, estimulantes e de cunho social, a trama é maravilhosamente planejada e chega a dar gosto de acompanhar. É praticamente impossível ver os dez episódios, entre 26-31 minutos cada, passarem sem que desejemos mais. Sem pestanejar, a produção chama atenção para temas importantes debatidos na sociedade atual, sendo muitos deles trazidos à tona devido aos jovens da modernidade.
Os roteiristas deixam bem claro suas posições e através de uma comédia leve para toda a família conscientiza o público com diálogos muito bem elaborados. Sem contar que aqueles que já se formaram e passaram pelo período do ensino médio vão vivenciar sentimentos nostálgicos e uma vontade imensa de ser aluno do Professor Iglesias.
Claro que é impossível fazer uma boa história sem bons personagens e a série de Hench está recheada deles. Na faixa adulta o público tem o próprio protagonista, que ganha o coração de todos na primeira cena; seu melhor amigo, Tony (Jacob Vargas), o típico professor que não está nem aí – todo mundo já teve um desse –; Abigail Spencer (Maggie Geha) é a professora novata e a crush de todos os alunos; a Diretora Paula Madison (Sherri Shepherd) irá te fazer rir muito; entre outros.
No time adolescente também se destacam alguns nomes cujo timing para comédia está no ponto certinho: entre eles estão Marisol Fuentes (Cree Cicchino), a jovem latinx que precisa trabalhar para ajudar a família e também dá um duro danado na escola; Mikey Gutierrez (Fabrizio Zacharee Guido), cujo episódio da prova oral é um dos seus melhores momentos; Walt (Tucker Albrizzi), apenas observem-no; Grace (Gloria Aung), com respostas na ponta da língua para ninguém colocar defeito; e Lorenzo (Coy Stewart), que traz uma ótima discussão durante o capítulo seis. A química entre ambos os times (adulto e adolescente) de atores é um personagem por si só, parece até que todos já se conheciam e estão na “quinta temporada”.
Além de todas essas qualidades, a série também conta com excelentes referências que vão de audiovisual à política. A direção está de acordo com o roteiro e traz uma abordagem de ângulos já conhecidos nas comédias. A trilha sonora se encontra no mesmo parâmetro e se encaixam com o pedido. Não espere grandes mudanças quando o assunto é tecnicalidade, afinal, a grandeza da produção está em sua história.
Professor Iglesias é o tipo de comédia que vale a pena ver e rever sempre que possível nas horas vagas. Ademais, queremos para ontem uma segunda temporada.