Às vésperas do jogo mais importante do Fluminense esse ano (o Mundial de Clubes), a história de uma outra partida – provavelmente, o jogo mais importante da história do futebol mundial – chega às telas de cinema no circuito nacional a partir de hoje. Trata-se do longa ‘Quem Fizer Ganha’, novo projeto encabeçado por Taika Waititi que mistura comédia e crítica social com a fineza de um mamute.

Em 2001, a equipe de futebol da Samoa Americana jogou contra a equipe da Austrália e perdeu. Perdeu feio, com um placar de 31×0 a favor dos australianos. Desde então, o time da Samoa Americana se manteve firmemente em último lugar no ranking da FIFA. Esse episódio teve impacto profundo não só no time, mas em toda a população da pequena ilha do Pacífico, que oficializou sua entrada no ranking apenas em 1983. Com a proximidade da Copa do Mundo de 2014, novas eliminatórias precisarão ser enfrentadas pelo time da Samoa Americana, mas, dessa vez, a FFAS, a federação do país aposta em uma nova estratégia: contratar um novo técnico, com experiência internacional, para treinar os jogadores. Porém, o único candidato é justamente Thomas Rogen (Michael Fassbender), um técnico de futebol explosivo e com histórico de agressões em campo, enviado para lá como punição da federação europeia, encabeçada por sua ex-esposa, Gail (Elizabeth Moss). Agora isolado de tudo que conhece e diante de uma equipe sem a menor técnica, Rogen descobrirá que tem mais a aprender do que a ensinar na calma ilha da Samoa Americana.

‘Quem Fizer Ganha’ poderia ter um tom dramático de superação como o tem os filmes ‘Um Sonho Possível’, ‘Invencível’ ou ‘Somos Marshall’, porém, em vez de envergar para o recurso estadunidense de “white savior”, o longa ganha o tom que Taika Waititi vem adotando ao longo de sua carreira, contando a história de povos originários pelo ponto de vista deles e fazendo uso do humor para realizar a crítica social, para passar a história dentro da História. ‘Quem Fizer Ganha’ tem exatamente esse tom, com Taika assumindo o papel de produtor do projeto (ao lado de Andy Serkis e outros) e também como narrador do longa – um padre que desde a primeira cena faz rir pela forma como apresenta o plot.

Partindo dessa absurda história real, o roteiro de Taika e Iain Morris conta o episódio com muito, muito humor, nascido a partir do contraste cultural entre a ocidentalidade agressiva de Rogen e a tranquilidade e o respeito às tradições encontradas nos samoanos. Embora Rogen seja o protagonista, são os personagens do time de futebol e todos os outros da ilha que entregam as melhores atuações e garantem a diversão do filme, com especial brilho à atriz Kaimana, tão bela quanto suave, quebrando o excesso de testosterona do protagonista ao brilhar na tela dando vida à Jaiyah, primeira jogadora de futebol transgênero, que jogou pelo time de futebol masculino da Samoa Americana já se reconhecendo como uma “fa’afafine”, um terceiro gênero comumente respeitado na Polinésia, onde fica o país.

‘Quem Fizer Ganha’ é mais um acerto de Taika Waititi para o mundo. Inserido no universo futebolístico, o longa fala de inclusão, preconceito e tantas outras pautas, sempre com irreverência e crítica. Desses filmes que dão gosto de ver, cujo absurdo de ser baseado numa história real só faz melhorar a percepção do longa, afinal, ser um vencedor é uma questão de como se encara a jornada. Bom demais!