Retratar a construção de um relacionamento romântico está enraizado nas produções audiovisuais, pois até mesmo quando o tema do filme é divergente dos clássicos romances, sempre existe algo amoroso de segundo plot. O que acontece é que por sermos submetidos a muitas histórias como essas acabamos classificando boa parte como clichês e reconhecendo certos aspectos da narrativa como já vistos anteriormente. O ponto é que não é fácil mostrar casais sem cair no mais do mesmo, entretanto, a websérie RED consegue, em mais uma temporada, fazer algo diferente.
O número de casais LGBTQ+ no audiovisual vem crescendo cada vez mais, afinal, como cansamos de dizer: representatividade importa. É importante para todos se reconhecer na sua série, filme, desenho, livro, entre outros, favorito. E a quarta temporada da produção criada por Germana Belo e Viv Schiller aproveita para trazer mais algumas cartas à mesa.
Partindo de um curto período após a season finale da terceira temporada, a quarta tem início com Mel (Luciana Bollina) e Liz (Ana Paula Lima) juntas precisando encarar alguns problemas vividos anteriormente. No caso de Mel, o aborto espontâneo, e de Liz, o tratamento para o vício em drogas. Aqui é possível ver a personagem de Ana Paula mais fixa, estando presente para Mel diante desta situação. Com o passar dos episódios é possível conferir a melhora da personagem de Bollina para dar lugar aos problemas do relacionamento.
O roteiro permanece fiel à qualidade das temporadas anteriores, trabalhando com detalhes que gritam e dando espaço para mais diálogos desta vez. É perceptível o amadurecimento dos personagens principais e secundários, tendo em vista o aumento de tempo dos episódios para dar lugar aos enredos que vêm sendo desenvolvidos em segundo plano, o que só favorece a websérie. Anna (Monique Vaillé), por exemplo, passa por todo um desenvolvimento na relação com Laura (Laura Alvarenga). Enquanto Eric (Eduardo Cardoso) precisa encarar algumas descobertas sobre si mesmo.
As atuações permanecem no ponto e Ana Paula Lima e Luciana Bollina fazem, mais uma vez, um trabalho incrível, com destaque desta vez para a primeira, cuja personagem aprofunda mais do que anteriormente. Aqui o público vê uma Liz se descobrindo apaixonada e vivenciando sentimentos antes desconhecidos. Existem duas participações importantes de se comentar que é a da Gaby Haviaras como Rafa, a ex da personagem de Lima, e Bella Carrijo que dá vida à Victoria, ex da Mel, que compete com a atual para ver quem tem o olhar mais apaixonado.
A direção de Fernando Belo permanece com a sutileza e planos detalhes tão marcantes das temporadas anteriores. Em RED, a transformação de palavras em produto audiovisual funciona em uma harmonia gostosa de acompanhar. A trilha sonora continua sendo um dos pontos mais marcantes na parte técnica da websérie e só provoca no espectador a vontade de ouvir sem interrupções as músicas tocadas. A captura de som também deu um upgrade se comparado a antes, contudo, a fotografia peca em algumas cenas desfocando quando não aparenta ser o momento disso acontecer, porém, nada que estrague a experiência.
No geral, RED permanece sendo uma produção que merece ser vista e revista, é um aprendizado sobre como escrever um bom romance entre pessoas LGBTQ+. Ademais, tem tom de realidade e faz com que o telespectador sinta que a trama apresentada poderia ser vivida por ele ou algum conhecido. E vamos combinar que depois desta season finale, resta segurar a ansiedade para saber o que acontecerá na próxima etapa.
ALERTA DE SPOILER
Um dos detalhes sobre a narrativa que senti a necessidade de enumerar é o conflito estabelecido dentro do relacionamento Meliz. Acredito que ambas cometeram falhas que poderiam muito bem ter sido resolvidas com conversas. Entretanto, Liz é muito fechada e parece não estar sabendo lidar muito bem com a vida “doméstica”, algo que nunca teve antes. Enquanto isso, a presença de Victoria provoca mais insegurança, ainda mais após ver o quanto ela tem em comum com Mel. Ter gostos e vir de mundos semelhantes não faz um casal ser perfeito um para o outro, mas é preciso admitir que a personagem de Carrijo é tão bem resolvida quanto a de Bollina, enquanto Liz parece estar se encontrando no meio de tantas mudanças.
O conflito de Eric sobre a possibilidade de ser bissexual foi um dos pontos mais altos da quarta temporada e está aí algo que será positivo ser explorado na próxima etapa. É raro vermos as produções sequer usarem o termo bissexual ainda mais com personagens masculinos. Portanto, esta abordagem só soma às qualidades de RED.
E vocês, o que acharam da quarta temporada?