O desejo de refazer, retirar o que disse e de voltar atrás é o que fazem dos filmes com temática de viagem no tempo tão prazerosos. Como epifanias que transitam em linhas temporais distintas e fatos decisivos para o resto do curso da vida de alguém, longas como esse despertam a imaginação da audiência com desejos inalcançáveis e irremediáveis. O novo thriller da Blumhouse, Relive, traz o amado gênero como pilar de seu roteiro, acrescentando vários outros à trama, promovendo uma experiência cinematográfica imersiva e completa.
A produtora co-criada por Jason Blum sabe o que faz. Retomado um fértil território criativo – esquecido após o auge do terror nos anos 2000 -, com boas ideias e filmes aterrorizantes que levam o público ao delírio, a Blumhouse tem explorado os seus baixos orçamentos para abrir caminho no cinema independente. Indo na contramão daqueles thrillers e filmes de terror B de qualidade duvidosa (como The Blob – A Bolha Assassina), ela volta ao Festival de Sundance uma vez mais. Após o sucesso de Corra!, cujos direitos de distribuição foram adquiridos por ela, a empresa marca presença com um longa que traz a essência do que ela sabe fazer de melhor: entreter e instigar as audiências.
Em Relive, David Oyelowo interpreta Jack, um policial honesto que perde seu irmão, cunhada e sobrinha em um terrível assassinato. Tentando descobrir como todos foram tão brutalmente mortos, ele vai dedicar seus esforços para tentar fechar a ferida aberta. Mas o caso se complica, quando sua sobrinha aparentemente morta passa a se comunicar com ele – direto do passado, o levando a muito mais que resolver o crime, mas sim a evitar que a tragédia aconteça. Proporcionando um nó na mente do espectador, a narrativa – desenvolvida por Jacob Estes e Drew Daywalt, dribla a percepção de todos, sendo amarrada com tanta cautela, que passamos a maior parte do tempo tão perdidos como o protagonista.
Desenrolando os fatos de maneira, aparentemente, aleatória, o thriller segura o nosso fôlego, nos intrigando com uma espécie de quebra-cabeça turvo, onde a cada pedaço acoplado, mais complexo fica. Com uma tensão crescente, estabelecida pelos personagens de Oyelowo e Storm Reid, Relive faz jogos mentais com a audiência, nos levando a pensar em alternativas que poderiam mudar o futuro que já sabemos, mantendo nossa atenção vidrada na narrativa. Unindo um leque caprichado de gêneros, o longa mescla o suspense com a ação acelerada, encorpada por uma forte carga dramática, que é coroada com pequenos elementos do terror.
Unindo as pontas soltas com precisão, o filme dirigido por Estes tem seu ápice na viagem do tempo, que trabalha de maneira diferenciada, sem as batidas cápsulas tão usadas no cinema em longas do gênero. Consolidando toda essa premissa de maneira original, passado e presente conversam entre si, a fim de que ambos possam resultar em um futuro diferente. O que hipnotiza nossa atenção no thriller é justamente querer saber como esses dois fragmentos do tempo, o que era e o que é, podem se colidir para alternar o vindouro. E por meio das poderosas atuações da nossa dupla de protagonistas, somos arrebatados por uma produção insana, de ritmo acelerado e enredo bem amarrado.
Com uma direção que usa de artimanhas visuais para exprimir a sensação de viagem no tempo, focando também nas emoções dos personagens, Relive passeia pelos gêneros mais diversos com habilidade e leveza. Com um clímax extasiante e uma conclusão até um tanto óbvia, o longa traz fragmentos que são quase como referências de produções amadas como Sicário, De Volta Para o Futuro, Sem Segurança Nenhuma e até mesmo Corra!. Com elenco predominantemente negro, a Blumhouse se consolida mais uma vez como uma marca valiosa para o cinema com forte representatividade, nos permitindo ter o prazer de desfrutar de filmes como este, cheio de cliffhangers, reviravoltas e que vai – facilmente – explodir sua mente.