quarta-feira , 11 dezembro , 2024

Crítica | Retrato de Um Certo Oriente – Um dos Filmes Brasileiros Mais Lindos do Ano

Quanto mais os realizadores se debruçam sobre a história do nosso país, mais nós, espectadores, vamos descobrindo nuances e camadas de nosso imenso território. Com mais de quinhentos anos de história registrada em palavras e de largura continental, é seguro dizer que existem muitos Brasis dentro do Brasil, e que, fora do eixo Rio-São Paulo, há uma infinidade de mundos ainda a serem conhecidos pelos cinéfilos brasileiros. Felizmente há alguns escritores e diretores se dedicando a trazer, ainda que através da ficção, novos episódios daquilo que conhecemos como História brasileira com maiúscula. É o caso do belíssimo – belíssimo mesmo! – ‘Retrato de Um Certo Oriente’, atualmente em cartaz nos cinemas após exibição prévia no Festival do Rio e da Mostra de São Paulo esse ano.

Retrato de Um Certo Oriente



Líbano, 1949. Diante da iminente guerra que se acerca do país, dois irmãos, Emilie (Wafa’a Celine) e Emir (Charbel Kamel) decidem deixar o lugar e viajar diante do desconhecido: uma viagem de barco até o longínquo Brasil, país distante da guerra, da pobreza e de tudo que conhecem. A ideia parte de Emir, e, a contragosto, Emilie topa embarcar rumo ao desconhecido para uma terra onde sequer fala a língua. Porém, o dinheiro é pouco, então os dois compram apenas o bilhete de Emilie, ao passo que Emir vai clandestino no navio. Com a liberdade de poder transitar sozinha, Emilie conhece o misterioso e charmoso Omar (Zakaria Al Kaakour), comerciante a caminho de Manaus. Apaixonada, Emilie convence o irmão de que o futuro dos dois está na capital do Amazonas, mas, até chegarem no coração da floresta muitas coisas irão acontecer a esse pequeno grupo de libaneses no Brasil.

Inspirado na obra de Milton Hatoum, ‘Relato de Um Certo Oriente’, a sensação que se tem ao final da projeção é que este é um filme belíssimo, em muitos sentidos. No quesito técnico, o que mais se destaca é a primorosa fotografia, que realça a beleza natural tanto dos personagens quanto da paisagem, comandada por Pierre de Kerchove. Por optar em captar as imagens todas em preto e branco, inclusive as que se passam na floresta amazônica, o diretor coloca personagens e paisagem fundidos, como que iguais, mas, ao mesmo tempo, é a partir desse contraste que se realça as belezas individuais – dos atores, do rio Amazonas, do calor tropical, da floresta que se debruça sobre eles.

Retrato de Um Certo Oriente

Maria Camargo, que já havia antes adaptado outro livro de Hatoum, volta a participar do roteiro deste ‘Retrato de Um Certo Oriente’, junto com Gustavo Campos e Marcelo Gomes, fazendo uma boa adaptação do romance e transpondo as angústias narrativas para as expressões do trio principal de personagens. Personagens estes muito bem vividos pela trinca de atores escolhida a dedo pelo diretor Marcelo Gomes, trazidos para o Brasil para gravar o longa sem nem saberem a língua portuguesa, fundindo-se, assim, com as experiências de seus personagens.

Retrato de Um Certo Oriente’ é um filme belíssimo de um Brasil tropical com sabor árabe. Um recorte de história pouco conhecido da população (a migração libanesa e árabe para o Amazonas) transporta numa história de amor, drama, traição, ciúmes e sobrevivência. Impressiona a jornada de uma vida caber em uma hora e meia de longa, o que sinaliza a capacidade efetiva do diretor em contar uma boa história sem se alongar demais. ‘Retrato de Um Certo Oriente’ é um filme que merece a chance de ser visto em tela grande, pois fica ainda mais bonito e intenso na imensidão em que mergulham os personagens ao chegarem no Brasil.

Retrato de Um Certo Oriente

Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Retrato de Um Certo Oriente

Líbano, 1949. Diante da iminente guerra que se acerca do país, dois irmãos, Emilie (Wafa’a Celine) e Emir (Charbel Kamel) decidem deixar o lugar e viajar diante do desconhecido: uma viagem de barco até o longínquo Brasil, país distante da guerra, da pobreza e de tudo que conhecem. A ideia parte de Emir, e, a contragosto, Emilie topa embarcar rumo ao desconhecido para uma terra onde sequer fala a língua. Porém, o dinheiro é pouco, então os dois compram apenas o bilhete de Emilie, ao passo que Emir vai clandestino no navio. Com a liberdade de poder transitar sozinha, Emilie conhece o misterioso e charmoso Omar (Zakaria Al Kaakour), comerciante a caminho de Manaus. Apaixonada, Emilie convence o irmão de que o futuro dos dois está na capital do Amazonas, mas, até chegarem no coração da floresta muitas coisas irão acontecer a esse pequeno grupo de libaneses no Brasil.

Inspirado na obra de Milton Hatoum, ‘Relato de Um Certo Oriente’, a sensação que se tem ao final da projeção é que este é um filme belíssimo, em muitos sentidos. No quesito técnico, o que mais se destaca é a primorosa fotografia, que realça a beleza natural tanto dos personagens quanto da paisagem, comandada por Pierre de Kerchove. Por optar em captar as imagens todas em preto e branco, inclusive as que se passam na floresta amazônica, o diretor coloca personagens e paisagem fundidos, como que iguais, mas, ao mesmo tempo, é a partir desse contraste que se realça as belezas individuais – dos atores, do rio Amazonas, do calor tropical, da floresta que se debruça sobre eles.

Retrato de Um Certo Oriente

Maria Camargo, que já havia antes adaptado outro livro de Hatoum, volta a participar do roteiro deste ‘Retrato de Um Certo Oriente’, junto com Gustavo Campos e Marcelo Gomes, fazendo uma boa adaptação do romance e transpondo as angústias narrativas para as expressões do trio principal de personagens. Personagens estes muito bem vividos pela trinca de atores escolhida a dedo pelo diretor Marcelo Gomes, trazidos para o Brasil para gravar o longa sem nem saberem a língua portuguesa, fundindo-se, assim, com as experiências de seus personagens.

Retrato de Um Certo Oriente’ é um filme belíssimo de um Brasil tropical com sabor árabe. Um recorte de história pouco conhecido da população (a migração libanesa e árabe para o Amazonas) transporta numa história de amor, drama, traição, ciúmes e sobrevivência. Impressiona a jornada de uma vida caber em uma hora e meia de longa, o que sinaliza a capacidade efetiva do diretor em contar uma boa história sem se alongar demais. ‘Retrato de Um Certo Oriente’ é um filme que merece a chance de ser visto em tela grande, pois fica ainda mais bonito e intenso na imensidão em que mergulham os personagens ao chegarem no Brasil.

Retrato de Um Certo Oriente

Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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