sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | Retratos Fantasmas – Kleber Mendonça Filho entrega belo documentário sobre a sua relação com o Cinema e Recife [Cannes 2023]

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Dividido em três partes, Retratos Fantasmas é um documentário intimista e revelador sobre a trajetória do cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho. Nostálgico e reflexivo, o longa de 91 minutos nos faz mergulhar na magia da tradução de sentimentos  em imagens; neste caso, a paixão pelo cinema e Recife. 

Com a narração do próprio roteirista e diretor, a voz por cima das diversas sequências promove a costura perfeita da dedicada montagem de Matheus Farias. A partir de imagens de arquivos pessoais e das gavetas de instituições públicas, Kleber Mendonça Filho constrói uma ode ao cinema, à sua cidade natal e à sua família. 



Descortinado perante os olhos dos espectadores, o cinesta apresenta detalhes da sua casa, desde a compra pela mãe, a historiadora Joselice Jucá, a reforma realizada pelo seu irmão recém-formado arquiteto e as primeiras gravações no recindo. Ali, as paredes, as mesas e cada cômodo serviu de cenário para os seus projetos, o mais evidente é o curta Eletrodoméstica (2005).

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Com o dom de trazer afeto e apego para qualquer personagem, seja um cachorro solitário, seja uma cidade super povoada, Mendonça Filho transforma a casa do vizinho desconhecido em outro componente da história. A importância dessa residência vem à tona quando o narrador revela que a ideia do final de Aquarius habitava naqueles muros. Retratos Fantasmas é uma junção de todo os elementos da cabeça do cineasta cujas lentes transmitem admiráveis mensagens e emoções. 

Na segunda e terceira parte do filme, o cineasta dedica suas reminiscências aos cinemas de ruas de Recife nos anos 1970 e, por fim, a própria cidade. Cenário e presença nos seus filmes O Som ao Redor (2012) e Aquarius (2016), a capital de Pernambuco e suas ruas entram nas histórias de forma fascinante; como num passe de mágica, a realidade torna-se ficção, isto é, a vida fantasiada de entretenimento. 

Com participação indireta dos seus filhos, amigos e equipe, Retratos Fantasmas é feito de fragmentos de uma história do cinema nacional e da própria admiração do cineasta pelos anos 1970. Do calor da sala de projeção ao sumiço do cinema de rua, o documentário pondera sobre o desaparecimento dessas salas e o aumento das torres de prédios em frente às praias de Recife. 

Cena do filme Aquarius

Nesse labirinto de imagens resgatadas e de preciosas informações, a gente sente em casa sendo levados pela voz do narrador que nos ajuda a remar nesse mar de memórias. Como em seus filmes anteriores, a trilha sonora tem seu destaque, principalmente nos acordes de Happy End, de Tom Zé, e Meu Sangue Ferve por Você, de Sidney Magal, ambas setentistas. 

Se os fantasmas habitam o passado ou são expectros vivos na mémoria, o título do documentário vem de forma concreta de uma fotografia, porém concebe uma figura abstrata no imaginário do espectador. Retratos Fantasmas é um passeio  —  montando com primor por Matheus Farias — na história do cinema nacional e seus personagens recifenses. Veja, reflita e deguste sem restrições.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Dividido em três partes, Retratos Fantasmas é um documentário intimista e revelador sobre a trajetória do cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho. Nostálgico e reflexivo, o longa de 91 minutos nos faz mergulhar na magia da tradução de sentimentos  em imagens; neste caso, a paixão pelo cinema e Recife. 

Com a narração do próprio roteirista e diretor, a voz por cima das diversas sequências promove a costura perfeita da dedicada montagem de Matheus Farias. A partir de imagens de arquivos pessoais e das gavetas de instituições públicas, Kleber Mendonça Filho constrói uma ode ao cinema, à sua cidade natal e à sua família. 

Descortinado perante os olhos dos espectadores, o cinesta apresenta detalhes da sua casa, desde a compra pela mãe, a historiadora Joselice Jucá, a reforma realizada pelo seu irmão recém-formado arquiteto e as primeiras gravações no recindo. Ali, as paredes, as mesas e cada cômodo serviu de cenário para os seus projetos, o mais evidente é o curta Eletrodoméstica (2005).

Com o dom de trazer afeto e apego para qualquer personagem, seja um cachorro solitário, seja uma cidade super povoada, Mendonça Filho transforma a casa do vizinho desconhecido em outro componente da história. A importância dessa residência vem à tona quando o narrador revela que a ideia do final de Aquarius habitava naqueles muros. Retratos Fantasmas é uma junção de todo os elementos da cabeça do cineasta cujas lentes transmitem admiráveis mensagens e emoções. 

Na segunda e terceira parte do filme, o cineasta dedica suas reminiscências aos cinemas de ruas de Recife nos anos 1970 e, por fim, a própria cidade. Cenário e presença nos seus filmes O Som ao Redor (2012) e Aquarius (2016), a capital de Pernambuco e suas ruas entram nas histórias de forma fascinante; como num passe de mágica, a realidade torna-se ficção, isto é, a vida fantasiada de entretenimento. 

Com participação indireta dos seus filhos, amigos e equipe, Retratos Fantasmas é feito de fragmentos de uma história do cinema nacional e da própria admiração do cineasta pelos anos 1970. Do calor da sala de projeção ao sumiço do cinema de rua, o documentário pondera sobre o desaparecimento dessas salas e o aumento das torres de prédios em frente às praias de Recife. 

Cena do filme Aquarius

Nesse labirinto de imagens resgatadas e de preciosas informações, a gente sente em casa sendo levados pela voz do narrador que nos ajuda a remar nesse mar de memórias. Como em seus filmes anteriores, a trilha sonora tem seu destaque, principalmente nos acordes de Happy End, de Tom Zé, e Meu Sangue Ferve por Você, de Sidney Magal, ambas setentistas. 

Se os fantasmas habitam o passado ou são expectros vivos na mémoria, o título do documentário vem de forma concreta de uma fotografia, porém concebe uma figura abstrata no imaginário do espectador. Retratos Fantasmas é um passeio  —  montando com primor por Matheus Farias — na história do cinema nacional e seus personagens recifenses. Veja, reflita e deguste sem restrições.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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