Estreante como diretor de longa-metragens no cinema, Otto Bathurst fez escola com Guy Ritcher (Rei Arthur: A Lenda da Espada) e Tommy Wirkola (João e Maria: Os Caçadores de Bruxas) para desenvolver a lógica da releitura Robin Hood: A Origem, ao lado dos roteiristas estreantes Ben Chandler e David James Kelly. Com tantos novatos no comando, o filme segue a linguagem dos vídeo games, exagera nas cenas de ação e esbarra no inverossímil e ridículo em alguns momentos, desconectando o público da história.
Como uma figura lendária da Inglaterra, Robin Hood (Taron Egerton) é o imaginário do lema faça a coisa certa, mesmo se parecer errada, ou, em outras palavras, os fins justificam os meios. A busca de desmoralizar a política e religião é bem intencionada, com algumas frases de efeito, declarações de estupro pela igreja e a representação de um clérigo inescrupuloso. Contudo, essas facetas são exageradas e tornam-se caricatas.
Vindo de uma lenda de revolução, Robin Hood: A Origem parece uma paródia da história. A começar pela total falta de cuidado com a ambientação e o figurino. Pode até ter sido proposital para aproximar a vestimenta do atual público jovem, no entanto, soa como um acentuado desleixo. Ambientado na época medieval, no período da Guerra das Cruzadas (1095 – 1291), o capuz de Robin – e todos os outros representados no filme – parece ter saído da loja da GAP.
Este é apenas um detalhe entre várias vestimentas inadequadas, como na festa de gala com mulheres de macacões coloridos e outros personagens com piercing no nariz. Apesar do carisma de Taron Egerton (Kingsmans: Serviço Secreto), o novo Robin Hood não tem personalidade, ou melhor, a jornada do herói não tem evolução. Ele passa de um soldado desenganado, para um desertor, um sujeito em busca da mulher amada (Eve Hewson), um boneco de vingança de Little John (Jamie Foxx), e “lidera” uma revolução, sem nenhum ponto de virada no percurso.
Além disso, o casal principal, Robin e Marian, não funciona e o triângulo amoroso, com Will Scarlet (Jamie Dornan), muito menos. Em contradição à sua própria montagem, o enredo apoia-se na construção de um segundo vilão por conta de sua desilusão amorosa, mas o roteiro apresenta em cenas anteriores o descaso de Will por Marian. Ou seja, apenas mais uma falha deste festival de equívocos.
O Xerife de Nottingham (Ben Mendelsohn) – semelhante a Kylo Hen de Star Wars: Os Últimos Jedi (2017) – quer fazer maldades com todas as pessoas e declama prosas sórdidas, tal como “vou espalhar o seu sangue pelo chão de toda cidade para os cachorros lamberem” ou “vou matá-lo fervendo-o em sua própria urina”. O grande vilão, portanto, é apenas um sádico devolvendo ao mundo os seus sofrimentos de infância. Com uma melhoria de diálogos, ele talvez poderia ser um antagonista melhor aproveitado.
Robin Hood: A Origem ressalta os efeitos de câmera, tanto que a mesma cena ganha pontos de vistas diferenciados; utiliza à exaustão o slow motion a cada labareda de fogo; e destaca ao máximo o uso do arco e flecha como a única arma possível. Aliás, as espadas, o maior poder bélico das guerras santas, não aparecem em quase nenhum confronto – um dos poucos momentos é quando John perde a mão.
Com produção executiva de Leonardo DiCaprio, Robin Hood poderia sair direto para as estantes das lojas de vídeo games, pois o Príncipe do Ladrões tornou-se um pistoleiro de arco e flecha, usando sua arma branca tal como um fuzil, sempre em posição de combate e com disparo de quatro flechas juntas. Sem falar em suas estripulias de Velozes e Furiosos, só que com cavalos e carroças pulando de telhado em telhado em grande velocidade.
A computação gráfica arrebenta, mas não há muita lógica nas sequências. O objetivo alcançado é a sensação de alucinação imagética, com cortes desvairados e efeitos de câmera lenta a cada flechada que quebra a parede, a cada labareda que se acende ou, até mesmo, quando Robin faz uma careta de dor. Para além de tudo isso, o novo Robin Hood tem algumas cenas bem engendradas e piadas que funcionam, mas definitivamente não precisa de uma continuação.