sábado , 23 novembro , 2024

Crítica | Robin Williams: Entre na Minha Mente: Uma odisseia sobre um dos maiores comediantes dos últimos tempos

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Já se passaram quatro anos. Repentinamente, um dos fôlegos mais ávidos do humor mundial cessou seu riso e, consequentemente, o nosso também. Robin Williams era brilhante em formas que talvez jamais seja possível explicar em palavras. Dono de uma mente acelerada e ideias borbulhantes que saltavam pelos lábios em caracterizações impressionantes, ele se tornou uma referência avassaladora para uma geração de comediantes de renome como David Letterman, Bob Newhart e Jerry Seinfeld – no auge dos anos 70 e 80, alcançando com a mesma maestria as futuras crianças e adolescentes, nascidas entre meados das décadas de 80 e 90, que tiveram o deleite de ter suas respectivas infâncias marcadas por Uma Babá Quase Perfeita, Jumanji e Hook – A Volta do Capitão Gancho.



Navegando entre o humor e o drama desde Popeye, Williams possui um currículo riquíssimo permeado por uma sensibilidade profunda que, ironicamente, nasceu das piadas mais ácidas e – até mesmo – sadistas, onde a sexualidade, o vulgarismo e a improvisação dominavam palcos simples, cercados por audiências sedentas por boas risadas em shows de stand up comedy. Este mesmo contraste tão extremo é o grande tema do documentário Robin Williams: Entre na Minha Mente. Há anos luz de distância dos raciocínios convencionais, esta mesma mente resguarda segredos profundos, medos aterrorizantes, uma solitude inerente e indesejada e uma confusão emocional, de alguém que passou seus 62 anos imerso em si mesmo, digladiando com seus picos altíssimos do humor mais absoluto, com os vícios que lhe roubavam a graça e com o silêncio estrondoso de alguém que temia a solidão.

E de maneira muito respeitosa, a nova produção original da HBO consegue condensar toda essa complexidade, cumprindo o seu papel, permanecendo na tênue linha que separa a especulação de um suicídio e uma abrupta e indesejada morte em consequência de uma doença que afetava suas funções motoras e mentais. Sem desejar tocar em uma ferida profunda – ainda aberta -, a documentarista Marina Zenovich sai ilesa, centrando seus relatos naquilo que mais amamos no comediante. Pois muito mais que tentar dissecar sua trágica despedida, valioso mesmo é tentar dissecar sua mente, uma das mais impressionantes da indústria do entretenimento. E como um ator de cinema cuja carreira se iniciou na TV, o veterano se encontrava mesmo na simplicidade do improviso. Sua melhor característica, ele era capaz de fazer histórias comuns se transformarem em um espetáculo de um homem só, sendo um showman imprevisível e irredutível. Crescente como foguete em ascensão, essa sua trajetória apresentada no documentário é regada por uma memorabilia impressionante com hiatos incríveis de sua carreira, que mostram que – antes do sucesso – ele já tinha essa característica como sua pedra angular inerente.

Com imagens que percorrem sua infância, adolescência e juventude, além de vídeos raros de performances das mais diversas, que se perdem no tempo tamanho preciosismo, Entre na Minha Mente é atemporal em suas escolhas do material fonte, traz alguns dos melhores momentos de Williams em Mork & Mindy, apresentações revigorantes do ator no Comedy Store – clube de comédia emblemático de Los Angeles que ainda existe – e reflexões profundas do próprio artista, que pairam sobre figuras estáticas que estampam um semblante dolorido, que muitas vezes se escondia por trás do risos alvoroçados da audiência e de suas próprias representações. Cercado por um sucesso repentino, originado de seu talento nato, ele também se viu cercado pelo abafado universo hollywoodiano, regado por excessos e uma dimensão astronômica dos perigos que este mesmo sucesso, tão seu como nunca, poderiam lhe causar.

E talvez tenha sido sua imersão quase instantânea no submundo de Hollywood que lhe causou sequelas que lhe acompanharam por toda a vida. Amigo íntimo de John belushi e Billy Crystal, parte de sua vida foi marcada pelos extremos do emblemático comediante de Os Irmãos Cara-de-Pau, que viveu sua ascensão entre carreiras de cocaína e injeções de heroína. Este tal sucesso, tão doentio quanto revigorante, levou Williams pelo mesmo caminho e Entre na Minha Mente faz questão de destacar os rumos degringolados que suas escolhas passadas tomaram em seu presente e futuro. Testemunha da morte de Belushi – fruto de uma overdose, um enxerto tão traumático e pouco conhecido da vida do comediante é trazido à tela com delicadeza, sob os depoimentos de sua primeira esposa, amigos e personalidades do ramo que conviveram de perto com ele.

Robin Williams: Entre na Minha Mente é como um bom documentário deve ser: preciso, sincero e sensível. Relatar a história de alguém que não está mais aqui para compartilhar sua própria percepção é sempre um desafio e o risco de transformar um bela lembrança em uma narrativa oportunista e vulgar é sempre evidente. Mas nas mãos da experiente Zenovich, que já trouxe à luz as narrativas de Richard Pryor e Roman Polanski, a fascinante história de um dos maiores gênios da comédia contemporânea se materializa como se o artista ainda estivesse entre nós. E ainda que compreendê-lo seja uma missão inalcançável, passear pelos seus devaneios criativos aqui impressos é uma viagem deliciosa, que vale a pena ser constantemente revista.

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Navegando entre o humor e o drama desde Popeye, Williams possui um currículo riquíssimo permeado por uma sensibilidade profunda que, ironicamente, nasceu das piadas mais ácidas e – até mesmo – sadistas, onde a sexualidade, o vulgarismo e a improvisação dominavam palcos simples, cercados por audiências sedentas por boas risadas em shows de stand up comedy. Este mesmo contraste tão extremo é o grande tema do documentário Robin Williams: Entre na Minha Mente. Há anos luz de distância dos raciocínios convencionais, esta mesma mente resguarda segredos profundos, medos aterrorizantes, uma solitude inerente e indesejada e uma confusão emocional, de alguém que passou seus 62 anos imerso em si mesmo, digladiando com seus picos altíssimos do humor mais absoluto, com os vícios que lhe roubavam a graça e com o silêncio estrondoso de alguém que temia a solidão.

E de maneira muito respeitosa, a nova produção original da HBO consegue condensar toda essa complexidade, cumprindo o seu papel, permanecendo na tênue linha que separa a especulação de um suicídio e uma abrupta e indesejada morte em consequência de uma doença que afetava suas funções motoras e mentais. Sem desejar tocar em uma ferida profunda – ainda aberta -, a documentarista Marina Zenovich sai ilesa, centrando seus relatos naquilo que mais amamos no comediante. Pois muito mais que tentar dissecar sua trágica despedida, valioso mesmo é tentar dissecar sua mente, uma das mais impressionantes da indústria do entretenimento. E como um ator de cinema cuja carreira se iniciou na TV, o veterano se encontrava mesmo na simplicidade do improviso. Sua melhor característica, ele era capaz de fazer histórias comuns se transformarem em um espetáculo de um homem só, sendo um showman imprevisível e irredutível. Crescente como foguete em ascensão, essa sua trajetória apresentada no documentário é regada por uma memorabilia impressionante com hiatos incríveis de sua carreira, que mostram que – antes do sucesso – ele já tinha essa característica como sua pedra angular inerente.

Com imagens que percorrem sua infância, adolescência e juventude, além de vídeos raros de performances das mais diversas, que se perdem no tempo tamanho preciosismo, Entre na Minha Mente é atemporal em suas escolhas do material fonte, traz alguns dos melhores momentos de Williams em Mork & Mindy, apresentações revigorantes do ator no Comedy Store – clube de comédia emblemático de Los Angeles que ainda existe – e reflexões profundas do próprio artista, que pairam sobre figuras estáticas que estampam um semblante dolorido, que muitas vezes se escondia por trás do risos alvoroçados da audiência e de suas próprias representações. Cercado por um sucesso repentino, originado de seu talento nato, ele também se viu cercado pelo abafado universo hollywoodiano, regado por excessos e uma dimensão astronômica dos perigos que este mesmo sucesso, tão seu como nunca, poderiam lhe causar.

E talvez tenha sido sua imersão quase instantânea no submundo de Hollywood que lhe causou sequelas que lhe acompanharam por toda a vida. Amigo íntimo de John belushi e Billy Crystal, parte de sua vida foi marcada pelos extremos do emblemático comediante de Os Irmãos Cara-de-Pau, que viveu sua ascensão entre carreiras de cocaína e injeções de heroína. Este tal sucesso, tão doentio quanto revigorante, levou Williams pelo mesmo caminho e Entre na Minha Mente faz questão de destacar os rumos degringolados que suas escolhas passadas tomaram em seu presente e futuro. Testemunha da morte de Belushi – fruto de uma overdose, um enxerto tão traumático e pouco conhecido da vida do comediante é trazido à tela com delicadeza, sob os depoimentos de sua primeira esposa, amigos e personalidades do ramo que conviveram de perto com ele.

Robin Williams: Entre na Minha Mente é como um bom documentário deve ser: preciso, sincero e sensível. Relatar a história de alguém que não está mais aqui para compartilhar sua própria percepção é sempre um desafio e o risco de transformar um bela lembrança em uma narrativa oportunista e vulgar é sempre evidente. Mas nas mãos da experiente Zenovich, que já trouxe à luz as narrativas de Richard Pryor e Roman Polanski, a fascinante história de um dos maiores gênios da comédia contemporânea se materializa como se o artista ainda estivesse entre nós. E ainda que compreendê-lo seja uma missão inalcançável, passear pelos seus devaneios criativos aqui impressos é uma viagem deliciosa, que vale a pena ser constantemente revista.

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