quarta-feira , 25 dezembro , 2024

Crítica | Roda Gigante – Kate Winslet soberba em novo filme de Woody Allen

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A Mulher Irracional

Roda Gigante, teu nome é Kate Winslet! O icônico Woody Allen possui graves problemas relacionados a mulheres que passaram por sua vida. Justamente por isso, o autor octogenário canaliza tão bem e transforma suas experiências pessoais em textos complexos e personagens tão intrincados, que conseguem resumir em detalhes por duas horas, anualmente, a essência humana. O que Allen cria também é uma fábrica de personagens femininas tão bem escritas e elenca perfeitamente suas intérpretes, terminando por, muitas vezes, encabeçarem indicações (e na metade das vezes saírem vitoriosas).

Nessa trajetória de parcerias vitoriosas se encaixam as defesas de Cate Blanchett (Blue Jasmine), Penélope Cruz (Vicky Cristina Barcelona), Mira Sorvino (Poderosa Afrodite), Dianne Wiest duplamente (Tiros na Broadway e Hannah e Suas Irmãs) e Diane Keaton (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa). Nesta seleta lista em breve poderá constar o nome de Kate Winslet, a protagonista de Roda Gigante, novo trabalho do prestigiadíssimo cineasta.



Que Woody Allen fala com todo tipo de público todos já sabem – desde os esnobes amantes do cinema de arte até os que curtem cinema de maneira mais despretensiosa – e que mesmo seus chamados “filmes menores” conseguem comunicar mais substância do que grande parte do que é feito na sétima arte também. Partindo dessa premissa, temos uma atriz protagonizando com a força de um furacão (pense em Cate Blanchett em Blue Jasmine), num filme que talvez não a acompanhe o tempo todo, rendendo dilemas próximos aos de O Homem Irracional (2015) – considerado um esforço menor do diretor.

A história guarda uma leve reviravolta, que de alguma forma já havia vazado nas prévias – eu inclusive já imaginava antes de ter assistido – mas que de forma alguma diminui o valor da dramaticidade proposta. De qualquer forma, seria bom evitar qualquer trailer, se possível. E neste sentido, o citado Homem Irracional (2015) foi dono de uma campanha de marketing melhor estruturada a fim de resguardar sua grande surpresa.

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Na trama, Kate Winslet interpreta Ginny, aspirante a atriz que termina como garçonete devido a uma indiscrição matrimonial. A mulher perde também o grande amor de sua vida, restando a criação solitária do pequeno rebento, o incendiário Richie (Jack Gore) – um dos destaques da obra. Isto é, até conhecer o mecânico Humpty (ótima performance de Jim Belushi, que igualmente pode render uma lembrança na época de prêmios), um homem bruto e de gostos simples. O companheiro é uma segurança, mas guarda zero afinidade intelectual com a sonhadora protagonista. Justamente por isso, ela rapidamente se afeiçoa e começa um caso com o salva-vidas Mickey (Justin Timberlake), estudante universitário fascinado por literatura e artes cênicas.

O passado de Giny volta a se repetir, mostrando o quanto o ser humano é refém do incontrolável, de paixões e de sensações, afinal é o que nos mantém espiritualmente vivos. A razão, bem, essa quase sempre fica em segundo plano. Conciliar as duas é um exercício impreciso e quase irrealizável. Como se já não bastasse tal peso na consciência da mulher, o que, mais uma vez assim como a personagem de Blanchett no filme de 2013, a causa uma intolerável enxaqueca, o jogo muda consideravelmente com a chegada de Carolina (Juno Temple), a filha de Humpty. O casamento dela com um criminoso, desaprovado pelo pai, chegou ao fim de forma preocupante, e agora a jovem tem sua cabeça a prêmio.

Fora isso, Blue Jasmine e Roda Gigante guardam semelhanças em suas tragédias narrativas e teatralidade. Enquanto o primeiro era declaradamente uma reimaginação da peça Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams; o segundo tampouco se desfaz da insanidade humana – nestes casos feminina – quando as feridas abertas apontam a traição de sentimentos e a busca ferrenha por estabilidade ou mudança. De fato, Allen transita como poucos em obras satisfatoriamente agridoces, pendendo variavelmente para o humor ou drama. Este reserva grande amargor.

Inconscientemente, propositalmente ou subliminarmente todo artista é reflexo de sua obra. E embora Woody Allen seja um artista mais do que estabelecido, que não precisa provar nada para ninguém, e ainda que saibamos que suas ideias para produções cinematográficas estejam todas dentro de uma gaveta, escritas há anos (quem viu o documentário sobre o autor entenderá), um roteiro no qual a protagonista deseja se livrar da enteada corre perigosamente muito próximo a uma verdade sombria…

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Nessa trajetória de parcerias vitoriosas se encaixam as defesas de Cate Blanchett (Blue Jasmine), Penélope Cruz (Vicky Cristina Barcelona), Mira Sorvino (Poderosa Afrodite), Dianne Wiest duplamente (Tiros na Broadway e Hannah e Suas Irmãs) e Diane Keaton (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa). Nesta seleta lista em breve poderá constar o nome de Kate Winslet, a protagonista de Roda Gigante, novo trabalho do prestigiadíssimo cineasta.

Que Woody Allen fala com todo tipo de público todos já sabem – desde os esnobes amantes do cinema de arte até os que curtem cinema de maneira mais despretensiosa – e que mesmo seus chamados “filmes menores” conseguem comunicar mais substância do que grande parte do que é feito na sétima arte também. Partindo dessa premissa, temos uma atriz protagonizando com a força de um furacão (pense em Cate Blanchett em Blue Jasmine), num filme que talvez não a acompanhe o tempo todo, rendendo dilemas próximos aos de O Homem Irracional (2015) – considerado um esforço menor do diretor.

A história guarda uma leve reviravolta, que de alguma forma já havia vazado nas prévias – eu inclusive já imaginava antes de ter assistido – mas que de forma alguma diminui o valor da dramaticidade proposta. De qualquer forma, seria bom evitar qualquer trailer, se possível. E neste sentido, o citado Homem Irracional (2015) foi dono de uma campanha de marketing melhor estruturada a fim de resguardar sua grande surpresa.

Na trama, Kate Winslet interpreta Ginny, aspirante a atriz que termina como garçonete devido a uma indiscrição matrimonial. A mulher perde também o grande amor de sua vida, restando a criação solitária do pequeno rebento, o incendiário Richie (Jack Gore) – um dos destaques da obra. Isto é, até conhecer o mecânico Humpty (ótima performance de Jim Belushi, que igualmente pode render uma lembrança na época de prêmios), um homem bruto e de gostos simples. O companheiro é uma segurança, mas guarda zero afinidade intelectual com a sonhadora protagonista. Justamente por isso, ela rapidamente se afeiçoa e começa um caso com o salva-vidas Mickey (Justin Timberlake), estudante universitário fascinado por literatura e artes cênicas.

O passado de Giny volta a se repetir, mostrando o quanto o ser humano é refém do incontrolável, de paixões e de sensações, afinal é o que nos mantém espiritualmente vivos. A razão, bem, essa quase sempre fica em segundo plano. Conciliar as duas é um exercício impreciso e quase irrealizável. Como se já não bastasse tal peso na consciência da mulher, o que, mais uma vez assim como a personagem de Blanchett no filme de 2013, a causa uma intolerável enxaqueca, o jogo muda consideravelmente com a chegada de Carolina (Juno Temple), a filha de Humpty. O casamento dela com um criminoso, desaprovado pelo pai, chegou ao fim de forma preocupante, e agora a jovem tem sua cabeça a prêmio.

Fora isso, Blue Jasmine e Roda Gigante guardam semelhanças em suas tragédias narrativas e teatralidade. Enquanto o primeiro era declaradamente uma reimaginação da peça Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams; o segundo tampouco se desfaz da insanidade humana – nestes casos feminina – quando as feridas abertas apontam a traição de sentimentos e a busca ferrenha por estabilidade ou mudança. De fato, Allen transita como poucos em obras satisfatoriamente agridoces, pendendo variavelmente para o humor ou drama. Este reserva grande amargor.

Inconscientemente, propositalmente ou subliminarmente todo artista é reflexo de sua obra. E embora Woody Allen seja um artista mais do que estabelecido, que não precisa provar nada para ninguém, e ainda que saibamos que suas ideias para produções cinematográficas estejam todas dentro de uma gaveta, escritas há anos (quem viu o documentário sobre o autor entenderá), um roteiro no qual a protagonista deseja se livrar da enteada corre perigosamente muito próximo a uma verdade sombria…

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