terça-feira , 24 dezembro , 2024

Crítica | Rodrigo Santoro e Álvaro Morte entregam atuações impecáveis no épico histórico ‘Sem Limites’

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Se você se lembra das aulas de História, com certeza já ouviu falar do nome de Fernão de Magalhães. O explorador português “traiu” a Coroa Portuguesa e se aliou à Espanha para encontrar uma rota mais rápida para as Índias Ocidentais e firmar o principal comércio de especiarias para a Europa durante o século XVI. Entretanto, sua rota acabou dando origem à primeira viagem de circum-navegação, que teria impacto na economia espanhola por muitas décadas – além de servir como parâmetro para as expedições que aconteceriam nos anos seguintes. Agora, somos transportados àquela explosiva época (mais precisamente entre os anos de 1519 e 1522) com a nova e ambiciosa série épico-histórica do Prime Video, Sem Limites.

Criada por Miguel Menéndez de Zubillaga e assinada por Patxi Amezcua, a produção é uma breve dramatização do que aconteceu nessa viagem ultramarina promovida por Magalhães. Aqui, o nosso querido Rodrigo Santoro interpreta o protagonista e dá tudo de si para uma das, senão a melhor performance de sua carreira. Em contraposição a um peso considerável nas telas, temos a presença mais que bem-vinda de Álvaro Morte como Juan Sebastián Elcano, piloto da nau de Magalhães que assumiu o posto de capitão após a trágica morte do português. Como é de se esperar, Morte, que ganhou fama gigantesca após estrelar o drama de roubo La Casa de Papel e a adaptação fantástica ‘A Roda do Tempo’, transmuta-se em uma rendição aplaudível. Ambos explodem em uma química invejável que, eventualmente, se torna o melhor aspecto da minissérie.



Ao longo de seis episódios, Sem Limites mergulha de cabeça em uma releitura que, em boa parte, é competente e instigante. A história inicia com Magalhães resolvendo buscar apoiadores de sua viagem na Espanha, depois de ser menosprezado pelo rei de Portugal, abarcando uma tripulação de mais de 230 homens para acompanhá-lo, em cinco naus, a caminho do “Eldorado”, como os personagens bem comentam em alguns capítulos. A ideia é não apenas tomar controle do comércio de especiarias, mas entrar para os livros como os primeiros navegantes a conseguirem o feito de contornar as Américas e seguir viagem até o que hoje conhecemos como Oceania – e voltar como heróis para casa. Entretanto, as coisas não saem exatamente como o planejado e, entre tentativas de motins, batalhas contra nativos das ilhas em que fazem paradas e a proeminência da fome, da desidratação e da morte, poucos sobrevivem na viagem de volta.

Assista também:
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Como é de se esperar, há um emblemático senso de patriotismo que domina o show. Zubillaga, ao lado de Amezcua, volta constantemente os holofotes para a empreitada espanhola e para os inúmeros obstáculos com que os marujos se deparam. A dupla investe todos os esforços para não esbarrar nas fórmulas do gênero, mas as comparações a obras similares são quase imediatas – temos até mesmo pulsões que parecem ter sido tiradas da franquia ‘Piratas do Caribe’. Além disso, essa exaltação do povo espanhol beira um ultranacionalismo equivocado, que transforma os personagens a que somos apresentados em semi-deuses que nunca causaram mal para povos que não conheciam (o que sabemos não ser verdade).

A estética da produção é impecável e demonstra uma preocupação tanto do time criativo quanto dos executivos da Amazon Studios em apostar fichas em espetáculos visuais: diferente da imagética documentária que poderíamos encontrar, as cenas são envoltas em um melancólico filtro azul que já prenuncia o destino de Magalhães, Elcano e os outros. As cenas de ação, algo difícil a ser feito quando lidamos com um espaço confinado como uma nau, contrasta com a imensidão do oceano e o fato de não existir caminho pelo qual fugir – apenas a constatação conformista de que não há mais volta. A ideia é seguir em frente e, numa sacada interessante, ainda que convencional, a paleta de cores se torna mais saturada e brilhante toda vez que a tripulação encontra terra firme.

Enquanto Santoro, Morte e o restante do elenco fazem um trabalho exímio para nos vender a proposta da série, são os elementos estruturais que pecam. Apesar dos diálogos críticos e pungentes, o roteiro quer aglutinar três anos de viagem em breves capítulos, distorcendo a cronologia em espasmos fragmentados que, às vezes, não fazem muito sentido – e que drenam um pouco do sentimentalismo que, aqui, seria ímpar para navegarmos pelas águas turbulentas da expedição. Como se não bastasse, a trilha sonora também tangencia uma fusão estranha de vários estilos, cedendo ao pedantismo melodramático e, logo, promovendo uma redundância descartável para o entendimento e a absorção das mensagens que precisam ser entregues aos espectadores.

De qualquer maneira, Sem Limites cumpre com boa parte do que promete e é auxiliada, como já dito nos parágrafos acima, por performances de tirar o fôlego – e que ajudam a humanizar nomes bastante conhecidos na história. Problemas à parte, a breve minissérie do Prime Video é uma boa pedida para um final de semana – mas não espere uma obra-prima da televisão contemporânea, e sim um escape televisivo que não vai muito além do que poderia.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Se você se lembra das aulas de História, com certeza já ouviu falar do nome de Fernão de Magalhães. O explorador português “traiu” a Coroa Portuguesa e se aliou à Espanha para encontrar uma rota mais rápida para as Índias Ocidentais e firmar o principal comércio de especiarias para a Europa durante o século XVI. Entretanto, sua rota acabou dando origem à primeira viagem de circum-navegação, que teria impacto na economia espanhola por muitas décadas – além de servir como parâmetro para as expedições que aconteceriam nos anos seguintes. Agora, somos transportados àquela explosiva época (mais precisamente entre os anos de 1519 e 1522) com a nova e ambiciosa série épico-histórica do Prime Video, Sem Limites.

Criada por Miguel Menéndez de Zubillaga e assinada por Patxi Amezcua, a produção é uma breve dramatização do que aconteceu nessa viagem ultramarina promovida por Magalhães. Aqui, o nosso querido Rodrigo Santoro interpreta o protagonista e dá tudo de si para uma das, senão a melhor performance de sua carreira. Em contraposição a um peso considerável nas telas, temos a presença mais que bem-vinda de Álvaro Morte como Juan Sebastián Elcano, piloto da nau de Magalhães que assumiu o posto de capitão após a trágica morte do português. Como é de se esperar, Morte, que ganhou fama gigantesca após estrelar o drama de roubo La Casa de Papel e a adaptação fantástica ‘A Roda do Tempo’, transmuta-se em uma rendição aplaudível. Ambos explodem em uma química invejável que, eventualmente, se torna o melhor aspecto da minissérie.

Ao longo de seis episódios, Sem Limites mergulha de cabeça em uma releitura que, em boa parte, é competente e instigante. A história inicia com Magalhães resolvendo buscar apoiadores de sua viagem na Espanha, depois de ser menosprezado pelo rei de Portugal, abarcando uma tripulação de mais de 230 homens para acompanhá-lo, em cinco naus, a caminho do “Eldorado”, como os personagens bem comentam em alguns capítulos. A ideia é não apenas tomar controle do comércio de especiarias, mas entrar para os livros como os primeiros navegantes a conseguirem o feito de contornar as Américas e seguir viagem até o que hoje conhecemos como Oceania – e voltar como heróis para casa. Entretanto, as coisas não saem exatamente como o planejado e, entre tentativas de motins, batalhas contra nativos das ilhas em que fazem paradas e a proeminência da fome, da desidratação e da morte, poucos sobrevivem na viagem de volta.

Como é de se esperar, há um emblemático senso de patriotismo que domina o show. Zubillaga, ao lado de Amezcua, volta constantemente os holofotes para a empreitada espanhola e para os inúmeros obstáculos com que os marujos se deparam. A dupla investe todos os esforços para não esbarrar nas fórmulas do gênero, mas as comparações a obras similares são quase imediatas – temos até mesmo pulsões que parecem ter sido tiradas da franquia ‘Piratas do Caribe’. Além disso, essa exaltação do povo espanhol beira um ultranacionalismo equivocado, que transforma os personagens a que somos apresentados em semi-deuses que nunca causaram mal para povos que não conheciam (o que sabemos não ser verdade).

A estética da produção é impecável e demonstra uma preocupação tanto do time criativo quanto dos executivos da Amazon Studios em apostar fichas em espetáculos visuais: diferente da imagética documentária que poderíamos encontrar, as cenas são envoltas em um melancólico filtro azul que já prenuncia o destino de Magalhães, Elcano e os outros. As cenas de ação, algo difícil a ser feito quando lidamos com um espaço confinado como uma nau, contrasta com a imensidão do oceano e o fato de não existir caminho pelo qual fugir – apenas a constatação conformista de que não há mais volta. A ideia é seguir em frente e, numa sacada interessante, ainda que convencional, a paleta de cores se torna mais saturada e brilhante toda vez que a tripulação encontra terra firme.

Enquanto Santoro, Morte e o restante do elenco fazem um trabalho exímio para nos vender a proposta da série, são os elementos estruturais que pecam. Apesar dos diálogos críticos e pungentes, o roteiro quer aglutinar três anos de viagem em breves capítulos, distorcendo a cronologia em espasmos fragmentados que, às vezes, não fazem muito sentido – e que drenam um pouco do sentimentalismo que, aqui, seria ímpar para navegarmos pelas águas turbulentas da expedição. Como se não bastasse, a trilha sonora também tangencia uma fusão estranha de vários estilos, cedendo ao pedantismo melodramático e, logo, promovendo uma redundância descartável para o entendimento e a absorção das mensagens que precisam ser entregues aos espectadores.

De qualquer maneira, Sem Limites cumpre com boa parte do que promete e é auxiliada, como já dito nos parágrafos acima, por performances de tirar o fôlego – e que ajudam a humanizar nomes bastante conhecidos na história. Problemas à parte, a breve minissérie do Prime Video é uma boa pedida para um final de semana – mas não espere uma obra-prima da televisão contemporânea, e sim um escape televisivo que não vai muito além do que poderia.

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