Não é preciso relembrar a ninguém o enorme sucesso que a série sul-coreana ‘Round 6’ (cujo nome original em inglês é ‘Squid Game’), pois seus reflexos ecoaram nas redes e no mundo pop desde sua estreia, em setembro de 2021. Claro que boa parte do eco teve a ver com o contexto da pandemia, em que muitas pessoas ainda permaneciam dentro de suas casas e, portanto, conseguiram se dedicar mais a assistir àquela nova série. Mas nada tira o brilho e originalidade do programa (que em breve ganhará nova versão, estadunidense), que solidificou de vez um holofote fixo nas produções da Coreia do Sul. Por isso, mesmo tendo concluído seu ciclo, os produtores anunciaram uma segunda temporada da série de sucesso – e que, depois de três anos de espera, chegou nos últimos dias do ano de 2024 aos assinantes da Netflix.
Mesmo tendo vencido o terrível jogo do ‘Round 6’, Seong Gi-hun (Lee Jung-jae), o jogador No. 456, sente-se inquieto, pensando em todas as pessoas que morreram para gerar todo o montante que ele ganhou. Por isso ele está decidido a encontrar o Recrutador (Gong Yoo) para, assim, conseguir voltar ao jogo e encerrá-lo de vez, impedindo que In-ho (Lee Byung-Hun) continue a se aproveitar da vulnerabilidade financeira das pessoas em benefício do entretenimento. Para que seu plano dê certo, ele conta com o resgate do policial Jun-ho (Wi Ha-joon), mas, quando tudo dá errado, Gi-hun se vê uma vez mais preso dentro do cruel jogo do ‘Round 6’, com novos jogadores. Agora ele precisa passar sua experiência e organizar todo mundo coletivamente pois só assim será possível interromper a sequência de carnificina.
O que fica bem evidente nesta segunda temporada de ‘Round 6’ é que sim, teremos uma terceira parte, e que ela também já está gravada. Na verdade, a sensação é de uma temporada interrompida, disponibilizada em duas etapas para gerar mais burburinho, pois o último episódio, mesmo com uma cena de pós-créditos, não traz uma conclusão do enredo.
A partir de agora, este texto pode conter alguns spoilers.
Dividida em sete episódios, o roteiro dessa vez é trazido de maneira irregular e mal distribuída. Os primeiros dois episódios são arrastados, dando voltas ao redor da mesma coisa (o policial procurando a ilha e Gi-hun procurando o Recrutador), com diversos atores de apoio entrando para fazer volume na trama sem ajudar que ela avance. Então, quando no terceiro episódio finalmente voltamos ao jogo, temos a esperança de que a coisa toda vai melhorar – e, de certa forma, até acontece, pois novos jogos entram no desafio, porém, de uma maneira geral, esta segunda temporada repete, sem esconder, os mesmos pontos fortes da primeira, sem sequer repaginá-los. Ou seja, a estrutura dos personagens se mantém, mesmo que representados por outros atores/nomes, e até mesmo a dinâmica entre eles se repete, o que acaba causando certo tédio no espectador, pois não vemos nada de novo acontecer no contexto macro. Entretanto, é no contexto micro que o espectador se diverte – como, por exemplo, com o novo personagem Thanos (o rapper Choi Seung-hyun), o alívio cômico alucinado e colorido; e os já mencionado novos jogos, principalmente o do carrossel, que eleva a tensão e insere nova musiquinha diabólica nas nossas cabeças.
No arco final, ‘Round 6’ aposta em jogos menos lúdicos, remetendo a atmosfera de jogos de tiro típicos dos videogames modernos. No trajeto, a série, que se firmou como uma história de sobrevivência, dessa vez ganhou moldes mais sindicalista, com a insistência do protagonista em organizar os participantes como um grupo para combater e derrubar o sistema. Mesmo sem falar de política diretamente, a dicotomia entre os grupos (azul x vermelho) e entre o protagonista (e seu grupo) contra o Líder e os soldados rosas…bom, isso é organização tática de guerra e estratégia política, e essa técnica leva a série para outros caminhos menos divertidos.
Sem trazer nada efetivamente novo, mas com um novo olhar sobre os mesmos elementos, a nova temporada da série ‘Round 6’ entretém pelos desafios e jogos diferentes, ainda que numa trama previsível.