terça-feira, outubro 1, 2024

Crítica | ‘Run, Rose, Run’ é o testamento pessoal de Dolly Parton à própria carreira

Dolly Parton não é apenas um dos nomes mais importantes da música country, mas também uma das artistas mais conhecidas e reverenciadas da indústria fonográfica. Com uma trajetória que se já se estende por mais de seis décadas, Parton fez sua estreia oficial com o álbum ‘Hello, I’m Dolly’, conquistando o público por sua reconhecível e envolvente voz. Ao passar dos anos, ela provou que era uma artista a ser levada a sério, migrando de gêneros e passeando pelo pop, pelas baladas românticas (para aqueles que não sabem, foi ela a responsável por trazer “I Will Always Love You” à vida), pelo bluegrass, pelo americana e por diversos outros estilos, além de se firmar como uma atriz a ser respeitada.

Talvez o aspecto mais interessante de sua carreira tenha sido a longevidade e a capacidade de encantar audiências das mais diversas gerações – consagrando-se como um tesouro mundial que é respeitado por todos. E, em 2022, pouco depois de completar 76 anos de puro sucesso, ela retorna com mais um compilado de originais, dois anos depois do especial ‘A Holly Dolly Christmas’. Intitulado ‘Run, Rose, Run’, seu 48º disco (um marco impressionante para qualquer performer do cenário do entretenimento) é um complemento para o romance homônimo que lançou ao lado do escritor James Patterson, sobre uma jovem musicista que se muda para Nashville e que, à medida que constrói uma nova vida, é assombrada por fantasmas do passado que insistem em persegui-la e ameaçar tudo o que conquistou. É claro que o cenário é bastante costumeiro para Parton e até mesmo inspirou sua afilhada, Miley Cyrus – mas não nos importamos: a sensação de nostalgia e de confortabilidade é o suficiente para nos fazer mergulhar nessa jornada.

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A configuração da obra é bem prática e segue as fórmulas de qualquer enredo de suspense literário que conhecemos – afinal, é exatamente com isso que lidamos, com uma história com começo, meio e fim estruturado e divididos, iniciando-se em uma grande mudança para uma protagonista em potencial e a fazendo navegar por altos e baixos a fim de encontrar seu catártico final. É partindo dessa premissa que a faixa “Run” é construída: infundida com as expressivas notas da gaita e do violão, a progressão entra em conflito exuberante com os versos assinados por Parton (“quando você se vê cheio de problemas, […] você quer começar uma nova vida, […] encontre sua chance e corra”), premeditando uma espécie de comédia escrachada, mascarada pela veracidade pungente de experiências pessoais da própria cantora.

Não há nada de novo a ser mostrado aqui, e sim um caminho que vem sendo trilhado por diversos artistas nos últimos anos: o regresso às raízes. Da mesma maneira que vimos com Dua Lipa e suas homenagens aos anos 1980, Lady Gaga e sua afeição pelo French-house noventista e, nas semanas anteriores, Avril Lavigne com a sonoridade icônica do pop-punk da década de 2000, Parton destila, à sua maneira, um resgate das incursões que a ajudaram a alcançar o estrelato. E isso não é tudo: ela se mantém fiel às peculiaridades que eternizaram sua imagem e aproveita, de maneira humilde, mudanças promovidas por aqueles que influenciou e que agora estouram no mainstream. Não é surpresa, pois, que encontremos a evocativa e aventuresca “Big Dreams and Faded Jeans”, que exalta Nashville em uma musicalidade teatral e saudosista.

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O álbum inteiro se rende ao bluegrass com magia impressionante. Porém, Parton oferece epifanias um tanto quanto diferenciadas e que reitera sua já conhecida versatilidade criativa. Temos a imagem fabulesca de “Blue Bonnet Breeze”, calcada em um prólogo movido pelo violino e pelo amor impossível à la ‘Romeu e Julieta’ entre duas pessoas; o hino de empoderamento “Woman Up (And Take It Like a Man)”, reminiscente da clássica faixa “9 to 5”; a dramática colaboração “Love Or Lust”, performada ao lado de Richard Dennison e fechando com exímia honestidade uma das caminhadas mais interessantes que Parton nos entregou nos últimos dez anos; e o country-rock cativante de “Snakes In the Grass”, a melhor entrada do disco, apesar de sua breve duração.

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Nem todas as tracks funcionam como deveria, esbarrando em obstáculos como a repetição excessiva e certas dissonâncias marcantes – que nem mesmo a escrita irretocável da performer consegue ofuscar. “Demons”, por exemplo, cede muito espaço a Ben Haggard e deixa a lead singer em segundo plano, confinada a um refrão que se vale de mensagens clichês e que se torna monótona antes mesmo de chegar à metade, enquanto “Firecracker” posa como um filler que parte de construção similar a canções que a precedem (e aqui faço menção a “Driven”, que nos conquista por seu frenético desenrolar). Todavia, os deslizes são pontuais e não têm força o suficiente para nos afastar dos pontos altos da iteração.

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É com alegria imensa que a nova geração possa se encantar com as letras de um nome tão lendário quanto o de Dolly Parton – e que ela continue a fazer o que sempre amou. ‘Run, Rose, Run’ é um testamento de sua mutabilidade artística e de que ela ainda tem muito a nos contar, seja em forma de histórias comoventes, seja através da adorável sagacidade que a acompanha desde os primórdios de sua carreira.

Nota por faixa:

1. Run – 4/5
2. Big Dreams and Faded Jeans – 4,5/5
3. Demons (feat. Ben Haggard) – 2,5/5
4. Driven – 3,5/5
5. Snakes in the Grass – 5/5
6. Blue Bonnet Breeze – 4/5
7. Woman Up (And Take It Like a Man) – 3,5/5
8. Firecracker – 2/5
9. Secrets  – 3/5
10. Lost and Found (feat. Joe Nichols) – 3,5/5
11. Dark Night, Bright Future – 3,5/5
12. Love or Lust (feat. Richard Dennison) – 5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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